No livro de Habacuque, o profeta, angustiado com a injustiça e a violência que vê ao seu redor, clama a Deus por respostas. Ele não entende como o Senhor pode permitir que os ímpios prosperem enquanto os justos sofrem. Em Habacuque 2, Deus responde à sua queixa, e a mensagem que Ele transmite é profunda e cheia de significado. Vamos explorar essa passagem em uma narrativa detalhada, mergulhando nas emoções, nos cenários e nas verdades teológicas que ela contém.
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O sol começava a se pôr sobre as colinas de Judá, lançando sombras longas sobre a cidade de Jerusalém. Habacuque, o profeta, estava sentado em uma pedra plana no alto de um monte, de onde podia ver as muralhas da cidade e o templo ao longe. Seu coração estava pesado, cheio de perguntas que ecoavam em sua mente como trovões em uma tempestade. Ele olhava para o horizonte, mas sua visão estava voltada para dentro, para o tumulto de sua alma.
“Até quando, Senhor, clamarei por socorro, e tu não me escutarás?” ele murmurou, suas palavras quase sussurradas ao vento. “Por que me fazes ver a iniquidade e contemplar a opressão? A destruição e a violência estão diante de mim; há conflitos, e o litígio se suscita.”
Ele fechou os olhos, tentando bloquear as imagens que o assombravam: os poderosos oprimindo os fracos, os ricos explorando os pobres, e os ímpios prosperando enquanto os justos eram pisoteados. Era como se o mundo estivesse de cabeça para baixo, e ele não conseguia entender por que Deus permitia que tudo isso acontecesse.
De repente, uma voz suave, mas poderosa, ecoou em seu coração. Era como se o próprio céu se inclinasse para sussurrar em seu ouvido. “Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo.”
Habacuque abriu os olhos, surpreso. Ele olhou ao redor, mas não viu ninguém. A voz vinha de dentro dele, mas era mais real do que qualquer som que seus ouvidos já haviam captado. Ele sabia que era o Senhor falando com ele.
“Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas se apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o, porque certamente virá, não demorará.”
Habacuque sentiu um arrepio percorrer sua espinha. A voz de Deus era clara e inconfundível. Ele se levantou rapidamente, procurando algo para escrever. Encontrou uma tábua de madeira e um estilete, e começou a gravar as palavras que o Senhor lhe dizia.
“Eis que a sua alma se incha, não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá.”
As palavras pareciam queimar na tábua, como se fossem gravadas com fogo. Habacuque sabia que essa mensagem era crucial, não apenas para ele, mas para todo o povo de Judá. Ele continuou a escrever, enquanto a voz de Deus continuava a falar.
“Além disso, o vinho é traidor; o homem arrogante não permanece. Ele alarga como o Sheol a sua alma e é como a morte, que nunca se farta; ajunta para si todas as nações e recolhe para si todos os povos.”
Habacuque sentiu um peso ainda maior em seu coração. Ele entendia que Deus estava falando sobre os babilônios, um povo orgulhoso e violento que estava prestes a invadir Judá. Eles eram como uma tempestade que se aproximava, trazendo destruição e morte. Mas, ao mesmo tempo, Deus estava dizendo que o orgulho deles seria sua queda.
“Mas não serão todos estes contra ele um provérbio e um dito zombador? E dirão: Ai daquele que ajunta o que não é seu! Até quando continuará a enriquecer-se à custa de penhores?”
Habacuque escreveu cada palavra com cuidado, sabendo que elas eram uma advertência tanto para os opressores quanto para os oprimidos. Ele sentiu uma mistura de temor e esperança. Deus estava no controle, mesmo quando tudo parecia caótico.
“Porque, havendo pilhado muitas nações, os povos restantes te pilharão a ti, por causa do sangue humano derramado e da violência feita à terra, à cidade e a todos os que nela habitam.”
A voz de Deus continuou, descrevendo a queda dos ímpios e a justiça que viria. Habacuque escreveu sobre os ídolos mudos, que não podem falar nem agir, e sobre a loucura de confiar em coisas feitas por mãos humanas. Ele escreveu sobre a soberania de Deus, que está no seu santo templo, e sobre como toda a terra deve se calar diante dEle.
“O Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra.”
Quando Habacuque terminou de escrever, ele se sentou novamente, olhando para as palavras gravadas na tábua. Ele sentiu uma paz que não entendia completamente. As perguntas ainda estavam lá, mas agora ele sabia que Deus tinha um plano, mesmo que ele não pudesse ver todo o quadro.
Ele olhou para o horizonte, onde o sol já havia desaparecido, deixando apenas um brilho fraco no céu. A noite estava chegando, mas Habacuque sabia que a luz de Deus nunca se apagaria. Ele se levantou, segurando a tábua com cuidado, e começou a descer o monte em direção à cidade. Ele tinha uma mensagem para entregar, uma mensagem de fé, de esperança e da justiça de Deus.
E assim, Habacuque continuou seu ministério, confiando que, no tempo certo, a visão se cumpriria. Ele sabia que o justo viveria pela fé, e que, no fim, Deus faria todas as coisas certas.