Era uma manhã ensolarada na pequena cidade de Jerusalém, onde os primeiros raios de sol dançavam sobre as ruas de pedra, iluminando o mercado que já começava a fervilhar de vida. Os vendedores gritavam seus preços, as crianças corriam entre as barracas, e o cheiro de pão fresco misturava-se ao aroma das especiarias. No meio desse cenário, um grupo de cristãos se reunia em uma casa simples, mas acolhedora, para ouvir as palavras de Tiago, irmão do Senhor Jesus e um dos líderes da comunidade.
Tiago, um homem de estatura média, mas de presença marcante, levantou-se diante da assembleia. Seus olhos, cheios de compaixão e sabedoria, percorreram o rosto de cada um ali presente. Ele vestia uma túnica simples, mas limpa, e suas mãos calejadas contavam a história de um homem que trabalhava com dedicação. Com voz firme e serena, ele começou a falar:
“Irmãos, vocês sabem que a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, o glorioso, não deve ser acompanhada de acepção de pessoas. Pois, se em sua reunião entrar um homem com anéis de ouro e roupas finas, e também entrar um pobre com roupas velhas e sujas, e vocês derem atenção especial ao que está vestido com roupas finas e disserem: ‘Aqui está um bom lugar para você se sentar’, mas disserem ao pobre: ‘Você, fique de pé ali’, ou: ‘Sente-se no chão, aos meus pés’, não estão fazendo discriminação entre vocês mesmos e se tornando juízes com critérios errados?”
A sala ficou em silêncio, e os olhos de muitos se voltaram para o chão, como se as palavras de Tiago tivessem tocado em feridas ainda não curadas. Ele continuou, com voz suave, mas cheia de autoridade:
“Ouçam, meus amados irmãos: Não escolheu Deus os que são pobres aos olhos do mundo para serem ricos em fé e herdarem o reino que ele prometeu aos que o amam? Mas vocês têm desprezado o pobre. Não são os ricos que oprimem vocês? Não são eles que os arrastam para os tribunais? Não são eles que blasfemam o bom nome que foi invocado sobre vocês?”
Tiago fez uma pausa, permitindo que suas palavras ecoassem no coração de cada um. Ele sabia que a comunidade enfrentava desafios internos, e que a tentação de tratar os ricos com mais honra do que os pobres era uma realidade que precisava ser confrontada. Ele prosseguiu, agora com um tom mais caloroso, mas ainda firme:
“Se vocês de fato cumprirem a lei régia conforme a Escritura diz: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’, estarão agindo corretamente. Mas, se tratarem os outros com parcialidade, estarão cometendo pecado e serão condenados pela lei como transgressores. Pois quem obedece a toda a lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la inteiramente.”
Ele olhou ao redor, vendo rostos que refletiam compreensão, mas também dúvida. Sabia que precisava ir além, explicando de forma clara e prática o que significava viver uma fé genuína.
“Porque aquele que disse: ‘Não adulterarás’, também disse: ‘Não matarás’. Se você não comete adultério, mas comete homicídio, torna-se transgressor da lei. Falem e ajam como quem vai ser julgado pela lei da liberdade, porque será exercido juízo sem misericórdia sobre quem não foi misericordioso. A misericórdia triunfa sobre o juízo.”
Tiago fez uma pausa mais longa, deixando que suas palavras penetrassem profundamente. Ele sabia que a fé sem obras era morta, e queria que todos entendessem a importância de viver uma fé que se manifestasse em ações concretas.
“Que proveito há, meus irmãos, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode essa fé salvá-lo? Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e de alimento, e um de vocês lhe disser: ‘Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se’, sem porém lhe dar nada, de que adianta isso? Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta.”
Ele olhou ao redor, vendo alguns acenarem com a cabeça em concordância, enquanto outros pareciam refletir profundamente. Ele continuou, com um exemplo que todos poderiam entender:
“Mas alguém dirá: ‘Você tem fé; eu tenho obras’. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras. Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios crêem — e tremem!”
A sala ficou em silêncio novamente, e Tiago percebeu que suas palavras estavam atingindo o alvo. Ele prosseguiu, com um tom mais suave, mas ainda cheio de convicção:
“Você quer convencer-se de que a fé sem obras é inútil? Não foi Abraão, nosso antepassado, justificado por obras, quando ofereceu seu filho Isaque sobre o altar? Você vê que a fé cooperou com as obras e que, pelas obras, a fé foi aperfeiçoada. E a Escritura se cumpriu que diz: ‘Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça’, e ele foi chamado amigo de Deus. Vejam que uma pessoa é justificada por obras, e não apenas pela fé.”
Ele fez uma pausa, permitindo que o exemplo de Abraão ecoasse na mente de todos. Ele sabia que a história de Abraão era bem conhecida, e queria que todos entendessem que a fé verdadeira sempre se manifesta em ações.
“Da mesma forma, não foi Raabe, a prostituta, justificada pelas obras, quando acolheu os espiões e os fez sair por outro caminho? Porque, assim como o corpo sem espírito está morto, assim também a fé sem obras está morta.”
Tiago concluiu sua mensagem com um olhar cheio de amor e compaixão. Ele sabia que suas palavras eram fortes, mas também sabia que eram necessárias. Ele queria que todos ali entendessem que a fé em Jesus Cristo não era apenas uma questão de palavras ou sentimentos, mas uma vida transformada, que se refletia em ações de amor e misericórdia para com os outros.
“Meus irmãos, que a nossa fé seja viva, que ela se manifeste em obras de amor e justiça. Que não haja entre nós acepção de pessoas, mas que amemos uns aos outros como Cristo nos amou. Que a nossa fé seja uma fé que transforma, que cura, que restaura. Que assim seja.”
A sala ficou em silêncio por um momento, e então, lentamente, os presentes começaram a se levantar, alguns com lágrimas nos olhos, outros com um novo brilho de determinação. Eles sabiam que as palavras de Tiago não eram apenas um discurso, mas um chamado para viver uma fé autêntica, uma fé que se manifestava em ações concretas de amor e justiça.
E assim, naquela manhã ensolarada em Jerusalém, a comunidade cristã foi desafiada a viver uma fé que não apenas acreditava, mas que agia, que amava, que transformava. E Tiago, com seu coração cheio de amor por Deus e por seus irmãos, sabia que essa era a essência do evangelho de Jesus Cristo.