No décimo capítulo do livro de Êxodo, a narrativa bíblica nos apresenta um dos momentos mais dramáticos e significativos da libertação do povo de Israel do jugo do Egito. Após uma série de pragas que já haviam afligido a terra do Nilo, Deus ordena a Moisés que se apresente novamente diante de Faraó para exigir a libertação de Seu povo. A teimosia do coração de Faraó e a soberania divina se entrelaçam nesta história, revelando tanto o juízo de Deus quanto Sua misericórdia.
O sol nascia sobre o horizonte do Egito, tingindo o céu de tons alaranjados e dourados. O rio Nilo, outrora símbolo de vida e prosperidade, agora parecia testemunha silenciosa das aflições que assolavam a terra. Moisés, com seu cajado na mão e Aarão ao seu lado, caminhava em direção ao palácio real. O peso da missão que carregava era visível em seu rosto, mas sua confiança no Senhor era inabalável. Ele sabia que não estava sozinho; o Deus de Abraão, Isaque e Jacó estava com ele.
Ao chegarem ao palácio, foram conduzidos à presença de Faraó. O salão era majestoso, com colunas altas e decorações que refletiam a grandeza do império egípcio. Faraó, sentado em seu trono adornado de ouro e pedras preciosas, olhou para Moisés com uma mistura de desdém e curiosidade. Ele já havia testemunhado o poder do Deus dos hebreus, mas seu coração permanecia endurecido.
Moisés, com voz firme e serena, declarou: “Assim diz o Senhor, o Deus dos hebreus: ‘Até quando você se recusará a humilhar-se diante de mim? Deixe o meu povo ir, para que me preste culto. Se você não quiser deixá-lo ir, trarei gafanhotos sobre o seu território amanhã.'”
As palavras ecoaram pelo salão, e os conselheiros de Faraó trocaram olhares preocupados. Eles sabiam que as pragas anteriores haviam causado estragos terríveis no Egito. Um deles, com voz hesitante, disse ao rei: “Até quando este homem será uma armadilha para nós? Deixa os israelitas irem prestar culto ao Senhor, o Deus deles. Não percebes que o Egito está arruinado?”
Faraó, porém, ainda relutava. Ele chamou Moisés e Aarão de volta e perguntou: “Quem é que vai prestar culto ao Senhor?” Moisés respondeu: “Todos nós iremos, com nossos jovens e idosos, com nossos filhos e filhas, com nossas ovelhas e bois. Para nós é uma festa ao Senhor.”
Faraó, com um sorriso sarcástico, replicou: “Que o Senhor esteja com vocês, se eu os deixar partir com suas crianças! Vejam, vocês estão com más intenções. Não! Só os homens podem ir prestar culto ao Senhor, pois era isso que vocês estavam pedindo.” E, com um gesto de desprezo, ordenou que fossem expulsos de sua presença.
Moisés e Aarão saíram do palácio, mas a ordem divina era clara. No dia seguinte, Moisés estendeu seu cajado sobre a terra do Egito, e o Senhor fez soprar um vento oriental sobre a terra todo aquele dia e toda aquela noite. Ao amanhecer, o vento trouxe os gafanhotos. Eles cobriram toda a superfície da terra, de modo que esta escureceu. Devoraram tudo o que a saraiva havia deixado: toda a vegetação e todos os frutos das árvores. Nada verde restou em árvore ou planta, em todo o Egito.
O povo egípcio, desesperado, clamava por alívio. Faraó, vendo a devastação, chamou apressadamente Moisés e Aarão e disse: “Pequei contra o Senhor, o seu Deus, e contra vocês. Agora, peço-lhes que perdoem o meu pecado ainda desta vez e orem ao Senhor, o seu Deus, para que tire de mim esta morte.”
Moisés, movido por compaixão, saiu da presença de Faraó e orou ao Senhor. O Senhor fez soprar um vento ocidental muito forte, que levou os gafanhotos e os lançou no mar Vermelho. Não restou um único gafanhoto em todo o território do Egito.
Mas, mais uma vez, o coração de Faraó se endureceu, e ele não deixou que os israelitas partissem. O Senhor então disse a Moisés: “Estenda a mão para o céu, e trevas cobrirão o Egito, trevas tais que poderão ser apalpadas.” Moisés assim o fez, e por três dias toda a terra do Egito ficou envolta em densas trevas. Ninguém podia ver ninguém, nem sair do lugar onde estava. Mas, nas casas dos israelitas, havia luz.
Faraó, então, chamou Moisés e disse: “Vão prestar culto ao Senhor! Até as crianças podem ir com vocês. Deixem somente as ovelhas e os bois.” Moisés, porém, respondeu: “O senhor mesmo nos dará os animais para os nossos sacrifícios e holocaustos que ofereceremos ao Senhor, nosso Deus. Além disso, os nossos rebanhos também irão conosco; nem uma unha ficará para trás. Precisamos deles para prestar culto ao Senhor, nosso Deus, e até que cheguemos lá não saberemos quais animais sacrificaremos.”
A ira de Faraó se acendeu, e ele gritou: “Saia da minha presença! Trate de não aparecer nunca mais diante de mim! No dia em que você vir a minha face, morrerá!” Moisés respondeu calmamente: “O senhor falou bem. Nunca mais verei a sua face.”
E assim, a história de Êxodo 10 nos mostra a persistência de Deus em libertar Seu povo, a teimosia de Faraó em resistir à vontade divina e a fé inabalável de Moisés, que mesmo diante de ameaças e desafios, confiava plenamente no Senhor. As pragas não eram apenas castigos, mas também sinais do poder e da soberania de Deus sobre todas as coisas, um convite ao arrependimento e à submissão à Sua vontade.