No segundo ano do reinado de Davi em Hebrom, o coração do rei estava cheio de um desejo profundo: trazer a arca da aliança de Deus para Jerusalém, a cidade que ele havia escolhido como capital de Israel. A arca, que representava a presença e a glória do Senhor, estava há décadas na casa de Abinadabe, em Quiriate-Jearim, desde que os filisteus a devolveram após tê-la capturado em uma batalha. Davi sabia que a arca não era um mero objeto sagrado, mas o símbolo do pacto entre Deus e Seu povo. Ele decidiu, então, reunir todo o Israel, desde as fronteiras do Egito até as terras do norte, para uma grande celebração.
Trinta mil homens escolhidos de Israel se reuniram para acompanhar Davi em sua jornada até Quiriate-Jearim. O ar estava carregado de expectativa e reverência. Quando chegaram à casa de Abinadabe, a arca foi cuidadosamente colocada sobre um carro novo, puxado por bois. Uzá e Aiô, filhos de Abinadabe, guiavam o carro, enquanto Davi e todo o Israel dançavam e tocavam harpas, liras, tamborins, címbalos e trombetas diante do Senhor. A alegria era palpável, e o som dos instrumentos ecoava pelos vales e montanhas.
No entanto, em meio à celebração, algo terrível aconteceu. Quando o carro chegou à eira de Nacom, os bois tropeçaram, e Uzá, temendo que a arca caísse, estendeu a mão para segurá-la. No mesmo instante, a ira do Senhor se acendeu contra Uzá, e ele caiu morto ao lado da arca. O silêncio tomou conta de todos. A alegria se transformou em temor. Davi, profundamente perturbado, exclamou: “Como pode a arca do Senhor vir a mim?” Ele não ousou levar a arca para Jerusalém naquele momento e decidiu desviar o caminho para a casa de Obede-Edom, o giteu.
A arca permaneceu na casa de Obede-Edom por três meses, e durante esse tempo, o Senhor abençoou abundantemente sua casa e tudo o que ele possuía. A notícia chegou aos ouvidos de Davi, e ele, cheio de coragem renovada, decidiu trazer a arca para Jerusalém novamente. Desta vez, porém, ele se preparou com mais cuidado. Davi compreendeu que a arca não poderia ser tratada como um objeto comum, mas com a máxima reverência, conforme as instruções dadas por Deus a Moisés.
Davi reuniu os sacerdotes e levitas, e ordenou que carregassem a arca nos ombros, como estava prescrito na lei. Ele também determinou que sacrifícios fossem oferecidos a cada seis passos, como um ato de adoração e gratidão. A atmosfera era de profunda devoção. Davi, vestido com um manto de linho fino, dançava com todas as suas forças diante do Senhor, enquanto a arca era conduzida para a cidade. O som das trombetas e dos cânticos enchia o ar, e o povo de Israel se unia em uma só voz para louvar a Deus.
Quando a arca finalmente entrou em Jerusalém, a alegria era indescritível. Davi, em um momento de completa entrega, dançou com tanta intensidade que seu manto se levantou, revelando sua humildade e devoção. Mical, filha de Saul e esposa de Davi, observava da janela do palácio e, ao ver o rei dançando diante do Senhor, sentiu desprezo em seu coração. Ela não compreendia a profundidade da adoração de Davi.
A arca foi colocada na tenda que Davi havia preparado para ela, e ele ofereceu holocaustos e ofertas pacíficas diante do Senhor. Após abençoar o povo em nome do Senhor dos Exércitos, Davi distribuiu pão, carne e vinho a todos os israelitas, homens e mulheres, como um gesto de celebração e gratidão.
No entanto, quando Davi retornou ao palácio para abençoar sua casa, Mical o confrontou com palavras duras: “Que bela figura fez o rei de Israel hoje, expondo-se às vistas das escravas de seus servos, como se fosse um homem vulgar!” Davi, porém, respondeu com firmeza: “Foi diante do Senhor que dancei. Ele me escolheu em lugar de seu pai e de toda a sua família, para me designar como líder sobre Israel, o povo do Senhor. Por isso, celebrarei diante do Senhor, e me humilharei ainda mais, tornando-me desprezível aos meus próprios olhos. Mas quanto às escravas de quem falaste, elas me honrarão.”
Mical, por causa de sua falta de compreensão e desprezo pela adoração de Davi, não teve filhos até o dia de sua morte. Davi, por outro lado, continuou a buscar o Senhor com todo o seu coração, governando Israel com justiça e integridade. A arca da aliança permaneceu em Jerusalém, um lembrete constante da presença e da fidelidade de Deus para com Seu povo.
Assim, a história da transferência da arca para Jerusalém nos ensina sobre a importância de reverenciar a Deus com humildade e obediência, e sobre a necessidade de adorá-Lo de todo o coração, sem reservas. Davi, apesar de seus erros, foi um homem segundo o coração de Deus, e sua devoção nos inspira a buscar o Senhor com a mesma intensidade e sinceridade.