No décimo primeiro capítulo do livro de Atos, encontramos uma narrativa que revela a expansão do evangelho além das fronteiras culturais e religiosas da época. A história começa com os apóstolos e os irmãos na Judeia ouvindo notícias de que os gentios também haviam recebido a palavra de Deus. Isso causou grande surpresa e até mesmo certa resistência entre alguns dos crentes judeus, que ainda não compreendiam plenamente o alcance universal da salvação em Cristo.
Pedro, o apóstolo que havia sido usado por Deus para levar o evangelho a Cornélio e sua família, retornou a Jerusalém. Ele foi recebido com questionamentos por parte dos crentes judeus, que o confrontaram dizendo: “Tu entraste em casa de homens incircuncisos e comeste com eles!” A acusação era grave, pois, para os judeus, comer com gentios era uma violação das tradições religiosas e das leis de pureza. Pedro, no entanto, não se defendeu com arrogância, mas com humildade e paciência, explicando detalhadamente o que havia acontecido.
Ele começou a narrar como, estando na cidade de Jope, teve uma visão enquanto orava. Ele viu o céu aberto e um objeto semelhante a um grande lençol que descia, preso pelas quatro pontas. Dentro dele havia todo tipo de animais, tanto quadrúpedes quanto répteis e aves. Então, uma voz lhe disse: “Levanta-te, Pedro; mata e come.” Pedro, ainda preso às tradições judaicas, respondeu: “De modo nenhum, Senhor! Pois nunca comi coisa alguma comum e imunda.” A voz, porém, respondeu: “Não chames tu comum ao que Deus purificou.”
Essa visão se repetiu três vezes, e Pedro ficou perplexo, tentando entender o que Deus queria lhe mostrar. Enquanto ele refletia, homens enviados por Cornélio, um centurião romano temente a Deus, chegaram à casa onde ele estava hospedado. O Espírito Santo então lhe disse claramente que ele deveria ir com aqueles homens sem hesitar, pois eles haviam sido enviados por Deus.
Pedro obedeceu e partiu para Cesareia, onde encontrou Cornélio e uma grande reunião de pessoas que ele havia convocado. Cornélio contou como um anjo lhe aparecera e dissera que ele deveria mandar buscar Pedro, que lhe traria uma mensagem de salvação. Pedro, então, começou a pregar sobre Jesus Cristo, explicando como Ele havia sido ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder, como havia feito o bem e curado a todos os oprimidos pelo diabo, e como havia sido morto na cruz, mas ressuscitado ao terceiro dia.
Enquanto Pedro ainda falava, o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a palavra. Os crentes judeus que haviam acompanhado Pedro ficaram maravilhados, pois o Espírito Santo foi derramado até sobre os gentios. Eles ouviam-nos falando em línguas e glorificando a Deus. Pedro, então, declarou: “Porventura, pode alguém recusar a água para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo?” E ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo.
Ao relatar tudo isso aos irmãos em Jerusalém, Pedro enfatizou que foi Deus quem deu aos gentios o mesmo dom que havia dado aos judeus, o dom do Espírito Santo. Ele concluiu dizendo: “Se Deus, pois, lhes deu o mesmo dom que a nós, quando cremos no Senhor Jesus Cristo, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?” Ao ouvirem isso, os irmãos se calaram e glorificaram a Deus, dizendo: “Assim, pois, Deus concedeu também aos gentios o arrependimento para a vida.”
Essa narrativa é um marco na história da igreja primitiva, pois mostra como o evangelho começou a se espalhar além das barreiras culturais e religiosas. Deus estava revelando que a salvação em Cristo não era apenas para os judeus, mas para todos os povos, raças e nações. A visão de Pedro e o batismo de Cornélio e sua família foram sinais claros de que o reino de Deus estava se expandindo, e que o Espírito Santo não fazia distinção entre judeus e gentios.
A história termina com uma nota de unidade e alegria, pois os irmãos em Jerusalém reconheceram a obra de Deus entre os gentios e glorificaram o Senhor por Sua misericórdia e graça. Esse episódio nos lembra que o evangelho é para todos, e que devemos estar sempre abertos à direção do Espírito Santo, que muitas vezes nos leva a lugares e pessoas que não esperamos, mas que estão no coração de Deus.