No segundo ano do reinado de Davi em Jerusalém, uma grande sombra começou a pairar sobre a casa real. Absalão, filho de Davi, era um jovem de beleza impressionante, admirado por todos em Israel. Seus cabelos longos e brilhantes eram motivo de orgulho, e sua eloquência conquistava os corações de muitos. No entanto, por trás de sua aparência encantadora, havia um coração cheio de ambição e ressentimento.
Absalão nunca havia esquecido o que acontecera com sua irmã Tamar, violentada por Amnom, seu meio-irmão. Embora Davi tivesse ficado irado com o ocorrido, ele não havia punido Amnom como Absalão esperava. Isso alimentou uma raiva silenciosa no coração de Absalão, que, com o tempo, transformou-se em um desejo de vingança e poder.
Após matar Amnom e fugir para Gesur, Absalão acabou sendo perdoado por Davi e permitido a retornar a Jerusalém. No entanto, a reconciliação entre pai e filho não foi completa. Absalão nutria um ressentimento profundo e começou a tramar secretamente para tomar o trono de seu pai.
Ele começou a se levantar cedo e a posicionar-se junto ao portão da cidade, onde as pessoas vinham buscar justiça perante o rei. Absalão interceptava os que chegavam, dizendo: “De que cidade você é?” E quando a pessoa respondia, ele dizia: “Vejo que sua causa é justa e reta, mas não há ninguém designado pelo rei para ouvi-la”. Ele acrescentava: “Ah, se eu fosse nomeado juiz nesta terra! Todos os que tivessem uma questão ou causa viriam a mim, e eu lhes faria justiça”. E, ao dizer isso, ele estendia a mão e beijava as pessoas, conquistando a simpatia de muitos.
Assim, Absalão roubava o coração dos homens de Israel. Ele agia com astúcia, ganhando a confiança do povo e semeando insatisfação contra o reinado de Davi. Durante quatro anos, ele trabalhou silenciosamente, até que, finalmente, decidiu que era hora de agir.
Absalão foi até Hebrom, sob o pretexto de cumprir um voto que havia feito ao Senhor. Ele enviou mensageiros secretos por todas as tribos de Israel, dizendo: “Quando ouvirdes o som das trombetas, direis: ‘Absalão é rei em Hebrom!'”. Ele também convocou duzentos homens de Jerusalém, que foram com ele sem saber de suas verdadeiras intenções.
Enquanto isso, em Jerusalém, Davi começou a ouvir rumores sobre a rebelião de Absalão. O coração do rei se encheu de tristeza e temor. Ele sabia que o filho que tanto amava havia se voltado contra ele. Davi reuniu seus conselheiros e decidiu que a melhor forma de proteger a cidade e o povo era fugir. Ele disse: “Levantemo-nos e fujamos, pois, se não o fizermos, não haverá escapatória para nós diante de Absalão. Ele se apressará em nos alcançar, trará desgraça sobre nós e passará a cidade ao fio da espada”.
Davi partiu de Jerusalém com toda a sua casa, exceto dez concubinas, que deixou para cuidar do palácio. O povo chorava enquanto o rei e seus seguidores atravessavam o vale de Cedrom, em direção ao deserto. Davi caminhava descalço, com a cabeça coberta, em sinal de humilhação e luto. Ele confiava no Senhor, mas seu coração estava pesado, pois sabia que a rebelião de Absalão era, em parte, uma consequência de seus próprios pecados.
Enquanto Davi fugia, Absalão entrava em Jerusalém com seu exército. A cidade estava em alvoroço, e muitos se perguntavam o que aconteceria a seguir. Absalão, seguindo o conselho de Aitofel, um de seus principais conselheiros, tomou o palácio e deitou-se com as concubinas de Davi em cima do terraço, à vista de todo o Israel. Era um ato simbólico, mostrando que ele havia tomado o lugar de seu pai.
No entanto, nem todos em Israel apoiavam Absalão. Hushai, o arquita, um amigo leal de Davi, havia permanecido em Jerusalém para agir como espião. Ele fingiu lealdade a Absalão, mas enviava mensagens secretas a Davi, informando-o dos planos de seu filho. Além disso, Zadoque e Abiatar, os sacerdotes, também permaneceram fiéis a Davi, levando consigo a arca da aliança. No entanto, Davi ordenou que eles voltassem para Jerusalém, dizendo: “Levem a arca de Deus de volta à cidade. Se eu encontrar favor aos olhos do Senhor, ele me trará de volta e me permitirá vê-la novamente. Mas, se ele disser: ‘Não tenho prazer em você’, então estou pronto; que ele faça comigo o que bem lhe parecer”.
Enquanto Davi continuava sua jornada pelo deserto, ele foi informado de que Aitofel havia aconselhado Absalão a persegui-lo imediatamente, antes que ele pudesse reunir forças. Davi orou ao Senhor, pedindo que Ele frustrasse o conselho de Aitofel. E, de fato, o Senhor ouviu a oração de Davi. Hushai conseguiu convencer Absalão a adiar a perseguição, dando a Davi tempo para se preparar.
A rebelião de Absalão marcou um dos momentos mais sombrios na vida de Davi. Ele, que havia sido ungido por Samuel e escolhido por Deus, agora via seu próprio filho buscando tirar-lhe o trono. No entanto, mesmo em meio à dor e à incerteza, Davi confiava no Senhor. Ele sabia que, embora seus pecados tivessem consequências, a misericórdia de Deus era maior. E assim, com o coração quebrantado, ele continuou sua jornada, esperando no Senhor para restaurar sua vida e seu reino.