No princípio, quando Deus criou os céus e a terra, Ele estabeleceu os fundamentos do universo com sabedoria e poder. Mas houve um homem chamado Jó, que, após perder tudo o que tinha e ser afligido por terríveis sofrimentos, questionou a justiça e os propósitos de Deus. Em meio à sua angústia, Jó clamou por respostas, desejando entender por que tantas calamidades haviam caído sobre ele. Foi então que o Senhor respondeu a Jó de dentro de um redemoinho, com uma voz que ecoava como o trovão e que penetrava até o mais profundo da alma.
“Quem é este que escurece o Meu conselho com palavras sem conhecimento?”, perguntou o Senhor, Sua voz reverberando como o rugido das águas poderosas. “Cinge agora os teus lombos como homem, porque Eu te perguntarei, e tu Me responderás.”
Jó, tremendo diante da majestade de Deus, calou-se. Ele sabia que estava diante do Criador de todas as coisas, Aquele que havia medido os céus com a palma da Sua mão e pesado as montanhas em balanças. O Senhor continuou, Suas palavras carregadas de autoridade e mistério:
“Onde estavas tu quando Eu lançava os fundamentos da terra? Dize-Me, se é que tens entendimento. Quem lhe fixou as medidas, se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? Sobre o que estão firmadas as suas bases, ou quem lhe assentou a pedra angular, quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam?”
Jó permaneceu em silêncio, maravilhado com a grandeza das palavras do Senhor. Ele começava a perceber que suas próprias perguntas eram insignificantes diante da infinita sabedoria de Deus. O Senhor prosseguiu, descrevendo a criação com detalhes vívidos que faziam Jó sentir-se pequeno e humilde:
“Quem encerrou o mar com portas, quando ele irrompeu da madre, quando Eu lhe pus as nuvens por vestidura e a escuridão por fraldas? Quando Eu lhe tracei limites e lhe pus portas e ferrolhos, dizendo: ‘Até aqui virás, e não mais adiante, e aqui se deterá o orgulho das tuas ondas’?”
Jó imaginou o mar furioso, suas ondas rugindo como leões famintos, mas contidas pela mão poderosa de Deus. Ele viu em sua mente as profundezas do oceano, onde criaturas misteriosas habitavam, e os abismos escuros que jamais haviam sido explorados pelo homem. O Senhor continuou:
“Já entraste tu até às nascentes do mar, ou passeaste no mais profundo do abismo? Porventura, as portas da morte se te manifestaram, ou viste as portas da sombra da morte? Tens tu compreensão da expansão da terra? Declara-Me, se sabes tudo isso.”
Jó sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele nunca havia pensado na imensidão da criação, nem nas maravilhas que estavam além do alcance do homem. O Senhor, então, levou Jó a contemplar os céus:
“Onde está o caminho para a morada da luz? E quanto às trevas, onde é o seu lugar, para que as conduzas aos seus limites e entendas as veredas para a sua casa? Sabes tu isso, porque já então eras nascido, ou porque é grande o número dos teus dias?”
Jó olhou para o céu noturno, onde as estrelas cintilavam como diamantes sobre um manto de veludo. Ele percebeu que cada estrela, cada planeta, cada galáxia, havia sido colocada em seu lugar pelo dedo de Deus. O Senhor, então, falou sobre os fenômenos naturais, mostrando que Ele era o Senhor de tudo:
“Entraste tu até aos tesouros da neve, e viste os tesouros da saraiva, que Eu reservei para o tempo da angústia, para o dia da peleja e da guerra? Por onde se difunde a luz, e se espalha o vento oriental sobre a terra? Quem abriu canais para o aguaceiro e caminho para o relâmpago dos trovões, para chover sobre a terra, onde não há ninguém, e no deserto, em que não há homem, para fartar a terra deserta e assolada, e para fazer brotar a relva tenra?”
Jó imaginou as tempestades furiosas, os raios cortando o céu, e as chuvas que regavam a terra seca. Ele viu que até os fenômenos mais assustadores e poderosos estavam sob o controle de Deus. O Senhor, então, falou sobre os animais, mostrando que Ele era o provedor de todas as criaturas:
“Quem prepara para o corvo o seu alimento, quando os seus filhotes clamam a Deus e andam vagueando, porque não têm o que comer? Sabes tu o tempo em que as cabras montesas têm os filhos, ou observaste as cervas quando estão de parto? Contaste os meses da sua gestação, e sabes o tempo do seu parto? Elas se encurvam, dão à luz as suas crias, e livram-se das suas dores. Seus filhos se robustecem, crescem no campo, saem e não tornam para elas.”
Jó pensou nos animais selvagens, vivendo livres e sob os cuidados de Deus. Ele viu que até o mais pequeno dos seres era conhecido e sustentado pelo Criador. O Senhor, então, falou sobre os animais mais poderosos, como o cavalo de guerra e o leviatã, mostrando que Ele era o Senhor até mesmo das forças mais indomáveis:
“Deste tu força ao cavalo, ou revestiste o seu pescoço de crinas? Fizeste-o saltar como o gafanhoto? Terrível é o seu fogoso resfolegar. Ele escava a terra e se alegra na sua força; sai ao encontro dos armados. Ele zomba do temor e não se espanta, nem torna atrás por causa da espada. Sobre ele rangem a aljava, o ferro da lança e do dardo. Ele sacode a terra com ímpeto e fúria, e não se contém ao som da trombeta. Ao toque da trombeta diz: ‘Eia!’ E de longe cheira a guerra, o trovão dos capitães e o alarido.”
Jó sentiu-se ainda mais humilde. Ele percebeu que não havia nada na criação que não estivesse sob o domínio de Deus. O Senhor, então, concluiu Suas palavras com uma pergunta que ecoou no coração de Jó:
“Acaso, o que contenderá com o Todo-Poderoso pode repreendê-Lo? Quem assim argúi a Deus, que responda.”
Jó, então, prostrou-se diante do Senhor, reconhecendo sua pequenez e a grandeza de Deus. Ele respondeu: “Eis que sou indigno; que Te responderia eu? Ponho a mão sobre a minha boca. Uma vez falei, e não replicarei; ainda duas vezes, porém não prosseguirei.”
E assim, Jó aprendeu que a sabedoria de Deus está além da compreensão humana, e que Ele é soberano sobre todas as coisas. O Senhor, em Sua misericórdia, restaurou a sorte de Jó, dando-lhe o dobro de tudo o que ele havia perdido. E Jó viveu muitos anos, vendo seus filhos e os filhos de seus filhos, até a quarta geração, e morreu velho e farto de dias.
Esta história nos lembra que, embora não possamos compreender plenamente os caminhos de Deus, podemos confiar em Sua sabedoria e bondade, pois Ele é o Criador de todas as coisas e o sustentador de nossas vidas.