Bíblia em Contos

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A Coroação de Salomão: Intriga e Promessa Divina (96 caracteres)

**A Coroação de Salomão**

No crepúsculo dos dias do rei Davi, quando seus cabelos brancos já não escondiam o peso dos anos e seu corpo fraquejava sob o manto real, uma tempestade de intrigas começou a se formar no palácio de Jerusalém. O grande guerreiro, que outrora enfrentara gigantes e unificara as tribos de Israel, agora jazia em seu leito, envolto em mantas, incapaz de reter o calor da vida que lentamente se esvaía.

Enquanto isso, Adonias, quarto filho de Davi, homem de belo semblante e orgulho inflamado, movia-se entre as sombras do poder. “Eu serei rei”, declarou ele a si mesmo, contemplando sua imagem refletida em águas tranquilas. Sem consultar o profeta Natã, nem mesmo seu pai, o velho monarca, Adonias reuniu aliados poderosos: Joabe, comandante do exército, e Abiatar, o sacerdote. Com pompa e cerimônia, ofereceu sacrifícios junto à Pedra de Zoelete, convidando os príncipes de Judá e seus irmãos—todos, exceto Salomão, o filho de Bate-Seba, e os fiéis que ainda guardavam lealdade ao decreto divino.

Bate-Seba, mulher de sabedoria silenciosa, percebeu o perigo. Ela havia sido testemunha das promessas feitas por Davi, seladas diante do Senhor: Salomão, o pacificador, seria o herdeiro do trono. Com passos firmes, dirigiu-se aos aposentos reais, onde o rei, envolto em fragilidade, repousava. Abisag, a sunamita, servia-lhe com dedicação, mas nem seus cuidados podiam devolver a Davi o vigor da juventude.

—Meu senhor e rei— disse Bate-Seba, curvando-se com respeito, mas com voz firme. —Tu juraste pela vida do Senhor, teu Deus, que Salomão, nosso filho, reinaria após ti. No entanto, Adonias já se proclama rei, e o povo murmura seu nome enquanto teu trono ainda é teu por direito.

Antes que Davi pudesse responder, o profeta Natã adentrou a câmara, seu rosto marcado por urgência.

—Ó rei, tu ordenaste que Adonias fosse teu sucessor? — indagou Natã, conhecendo bem a resposta. —Ele sacrificou bois e carneiros em abundância, e já recebe aclamação dos homens de guerra. Mas Salomão, teu escolhido, não foi convidado.

Davi, embora enfraquecido, ainda possuía a chama da autoridade divina em seu olhar. Com um suspiro que parecia carregar o peso de reinos passados e futuros, ergueu a mão e ordenou:

—Chamai-me a Benaia, filho de Joiada, e a Zadoque, o sacerdote. Trazei também o profeta Natã.

Quando os homens chegaram, Davi, com voz que ecoava a firmeza de outrora, declarou:

—Pela vontade do Senhor, que me tirou das covas de leões e me fez pastor de Israel, Salomão, meu filho, será ungido rei ainda hoje. Leva-o sobre minha mula até Giom, e que o shofar soe, anunciando ao povo que o escolhido de Deus assume o trono.

Sob o céu dourado do entardecer, Salomão montou a mula real, animal que jamais fora cavalgado por outro senão o próprio Davi. Sacerdotes vestidos de linho branco, guerreiros com espadas reluzentes e uma multidão de curiosos seguiram até o ribeiro de Giom. Zadoque, erguendo o chifre de óleo sagrado, ungiu a cabeça do jovem príncipe, enquanto as trombetas ecoavam pelas colinas de Jerusalém.

—Viva o rei Salomão! — gritou o povo, e a terra pareceu tremer sob a aprovação celestial.

Enquanto isso, Adonias e seus convidados banqueteavam-se, embriagados de ambição e vinho. De repente, o som distante das trombetas e o clamor do povo atingiu seus ouvidos. Joabe, experiente em batalhas, reconheceu imediatamente o significado daqueles ruídos.

—Por que este alvoroço na cidade? — perguntou Adonias, seu rosto perdendo a cor.

Nesse momento, Jônatas, filho de Abiatar, chegou ofegante.

—O rei Davi constituiu Salomão como rei! — anunciou. —Zadoque e Natã o ungiram em Giom, e toda a cidade se alegra. Até os servos do rei bendisseram a Deus, dizendo: ‘Que o nome de Salomão seja maior que o teu, e seu trono mais excelente!’

Os convivas de Adonias, antes ruidosos, agora se levantaram em silêncio, tomados pelo terror. Um a um, abandonaram a festa, deixando o pretenso rei sozinho, agarrando-se aos chifres do altar em desespero.

Salomão, porém, demonstrou misericórdia.

—Se ele se mostrar homem digno, nem um fio de seu cabelo tocará o chão — declarou o novo rei. —Mas se maldade houver nele, morrerá.

Assim, a vontade do Senhor cumpriu-se. Davi, em seus últimos dias, viu a semente de sua promessa florescer, e Salomão ascendeu ao trono, não pela espada, mas pela mão divina que guia os destinos dos reis.

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