**O Cântico dos Olhos Voltados para o Céu**
Num pequeno vilarejo encravado entre as montanhas de Judá, vivia um homem chamado Eliab. Ele não era rei, nem profeta, nem guerreiro—apenas um servo humilde que trabalhava nos campos de um rico proprietário de terras. Seus dias eram longos, suas mãos calejadas, e seu coração, muitas vezes, pesado sob o jugo da opressão. Seu senhor era cruel, tratando os servos com desdém, como se fossem menos que o pó sob suas sandálias.
Mas Eliab tinha um refúgio. Todas as manhãs, antes do sol raiar, e todas as noites, quando as estrelas já cintilavam no firmamento, ele se ajoelhava à beira de um riacho próximo e erguia os olhos para as alturas. Seus lábios murmuravam as palavras que seu pai lhe ensinara, palavras que ecoavam o Salmo 123:
*”A ti levanto os meus olhos, ó tu que habitas nos céus. Eis que assim como os olhos dos servos estão atentos às mãos dos seus senhores, e os olhos da serva, à mão de sua senhora, assim os nossos olhos estão fitos no Senhor, nosso Deus, até que ele tenha misericórdia de nós.”*
Eliab não apenas recitava essas palavras—ele as vivia. Seus olhos, cansados do trabalho árduo, não se fixavam na terra em desespero, mas se elevavam, como que buscando algo—ou Alguém—além do que podia ver. Enquanto os outros servos murmuravam contra seu senhor terreno, ele silenciosamente confiava no Senhor celestial.
Um dia, a crueldade do proprietário atingiu seu limite. Ele acusou Eliab de roubo, algo que o servo jamais faria. Sem direito a defesa, Eliab foi expulso das terras, sem comida, sem abrigo, sem um único vintém. Enquanto caminhava pelo vale solitário, sua esposa, Raquel, chorava ao seu lado.
— O que faremos agora? — ela perguntou, sua voz trêmula.
Eliab parou, olhou para o céu tingido de púrpura pelo pôr do sol e respondeu:
— Continuaremos a levantar nossos olhos.
Naquela noite, enquanto se abrigavam sob uma figueira, um viajante passou por eles. Era um homem idoso, vestido com roupas simples, mas seus olhos brilhavam com uma sabedoria incomum.
— Por que dormis aqui, sob o frio da noite? — perguntou o estrangeiro.
Eliab contou-lhe sua história, e o velho homem sorriu.
— Há um Senhor maior do que o que vos oprimiu — disse ele. — E Ele não despreza os olhos que se voltam para Ele.
No dia seguinte, o viajante os conduziu a uma pequena comunidade de levitas que viviam nas proximidades. Eles acolheram Eliab e Raquel, oferecendo-lhes trabalho e sustento. Com o tempo, a bondade de Deus se manifestou de tal forma que, anos depois, quando uma praga assolou a região, o antigo senhor de Eliab, agora arruinado e doente, veio bater à sua porta.
Eliab poderia tê-lo rejeitado. Poderia tê-lo lembrado de toda a crueldade. Mas, em vez disso, ele ergueu os olhos por um breve momento, como que buscando força do Alto, e então disse:
— Entra.
A história de Eliab se espalhou pela região, não como um conto de vingança, mas como um testemunho daquele que, em meio à humilhação, manteve os olhos fixos no Trono da Graça. E assim, as palavras do Salmo 123 se cumpriram em sua vida:
*”Tem misericórdia de nós, Senhor, tem misericórdia, pois estamos sobremodo fartos de desprezo. A nossa alma está saturada do escárnio dos arrogantes e do desprezo dos soberbos.”*
Mas Deus, em Sua fidelidade, não o abandonou. Porque os olhos que se elevam ao céu nunca se decepcionam—encontram, sempre, um Pai que inclina Seu ouvido ao clamor dos humildes.