Bíblia em Contos

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A Noite das Lamentações e a Glória da Fraqueza (Considerando o limite de 100 caracteres e removendo símbolos, o título original já está adequado e dentro do limite, mas caso precise ser mais curto, poderia ser:) **A Glória na Fraqueza de Paulo** (24 caracteres) Ou, mantendo a essência poética: **Noite de Lamentações e Glória** (28 caracteres) Escolha a que melhor se adapta ao seu propósito!

**A Noite das Lamentações e a Glória da Fraqueza**

Era uma noite abafada em Corinto. O ar pesado carregava o cheiro do mar Egeu misturado ao aroma de azeite queimado das lamparinas nas casas. Nas ruas estreitas, o murmúrio de conversas noturnas se misturava aos latidos distantes de cães. Na casa de Gaio, um dos poucos irmãos ricos da igreja, um grupo de crentes se reunia em círculo, iluminado pela luz trêmula das velas. No centro, sentado em um banco simples, estava o apóstolo Paulo. Seus olhos, profundos e cansados, refletiam décadas de sofrimento e paixão pelo Evangelho.

Alguns naquela sala haviam começado a questionar sua autoridade. Homens eloquentes, que se autointitulavam “superapóstolos”, haviam chegado à cidade, trazendo discursos adornados e promessas de uma fé mais espetacular. Eles falavam com voz suave, vestiam-se com roupas finas e exigiam sustento generoso da igreja. E, aos poucos, alguns coríntios começaram a duvidar: *Por que Paulo não era tão impressionante? Por que ele trabalhava com as próprias mãos? Por que ele não aceitava dinheiro como os outros?*

Paulo respirou fundo, sentindo o peso do Espírito sobre ele. Não queria falar de si mesmo, mas era necessário.

— Irmãos — sua voz era rouca, mas firme —, suportem um pouco da minha loucura. Sim, eu também vou me gloriar, ainda que não seja proveitoso.

Ele olhou para cada rosto ali presente, vendo a mistura de curiosidade e ceticismo.

— Vocês suportam de bom grado os que os escravizam, os que os devoram, os que os exploram, os que se exaltam e até os que os esbofeteiam no rosto! Digo isso para nossa vergonha: parece que fomos fracos demais para isso!

Um silêncio pesado caiu sobre a sala. Alguns baixaram os olhos, envergonhados. Paulo continuou, sua voz ganhando força:

— Mas se outros ousam se gloriar, eu também ousarei. São hebreus? Eu também. São israelitas? Eu também. São descendentes de Abraão? Eu também. São servos de Cristo? Eu falo como um louco, mas eu ainda mais!

Então, ele começou a enumerar suas credenciais não de triunfo, mas de sofrimento.

— Trabalhei mais do que eles. Fui açoitado mais vezes do que posso contar. Fui exposto à morte repetidas vezes. Dos judeus, recebi cinco vezes os quarenta açoites menos um. Três vezes fui golpeado com varas. Uma vez fui apedrejado até a morte — ele fez uma pausa, tocando as cicatrizes ainda visíveis em seu rosto —, e, contudo, Deus me ressuscitou.

Alguns dos presentes arregalaram os olhos. Nunca haviam ouvido Paulo falar com tanta crueza sobre seu passado.

— Três vezes naufraguei. Passei um dia e uma noite à deriva no mar. Viajei constantemente, enfrentando perigos nos rios, perigos de ladrões, perigos dos meus próprios compatriotas, perigos dos gentios, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos.

Sua voz quebrou por um instante, mas ele prosseguiu:

— Trabalhei até a exaustão, muitas vezes passando noites sem dormir. Conheci a fome e a sede, muitas vezes em jejum, suportando frio e nudez. E além de tudo isso, há a pressão que me oprime diariamente: minha preocupação com todas as igrejas.

Gaio, o anfitrião, inclinou-se para frente, impressionado.

— Quem é fraco, e eu não me sinto fraco também? Quem tropeça, e eu não me inflamo de indignação?

Paulo ergueu as mãos, marcadas por calos de anos de trabalho manual.

— Se é preciso gloriar-me, gloriar-me-ei naquilo que mostra minha fraqueza.

Nesse momento, um dos presentes, um jovem chamado Lúcio, não conseguiu conter as lágrimas.

— Irmão Paulo — ele balbuciou —, por que nunca nos contou tudo isso antes?

Paulo sorriu, um sorriso triste.

— Porque não quero que vejam a mim, mas a Cristo em mim. Quando sou fraco, então é que sou forte.

A noite seguiu em oração, e muitos corações foram quebrantados. Os falsos apóstolos podiam ter palavras bonitas, mas nenhum deles carregava as marcas de Jesus em seu corpo como Paulo. E naquela noite, os coríntios entenderam: o verdadeiro Evangelho não se mede por riquezas ou eloquência, mas pelo poder de Deus que se aperfeiçoa na fraqueza.

E assim, na quietude da madrugada, enquanto as estrelas ainda brilhavam sobre Corinto, a igreja ali reunida encontrou não um herói, mas um servo. E nisso, viram a glória de Cristo.

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