**A Insubordinação de Miriã e Arão**
No vasto deserto de Parã, onde a areia dourada se estendia até onde os olhos podiam ver, o povo de Israel seguia em sua jornada sob a liderança de Moisés. As tendas brancas se aglomeravam como um mar de refúgios temporários, e as colunas de nuvem e fogo guiavam o caminho durante o dia e a noite. O Senhor havia feito grandes maravilhas por Seu povo, libertando-os do Egito com mão poderosa, abrindo o mar e provendo maná do céu. No entanto, mesmo diante de tantos milagres, o coração humano ainda era propenso à inveja e à discórdia.
Entre os líderes de Israel estavam Miriã, a profetisa, e Arão, o sumo sacerdote. Miriã, irmã mais velha de Moisés, havia sido usada por Deus para proteger o irmão quando ele era apenas um bebê no rio Nilo. Arão, por sua vez, fora escolhido pelo próprio Senhor para falar ao povo e servir como intermediário. Ambos tinham posições de honra, mas algo começou a fermentar em seus corações.
Um dia, enquanto as mulheres colhiam maná e os homens preparavam as tendas para mais uma noite no deserto, Miriã e Arão se aproximaram um do outro com expressões sombrias.
—Você notou como Moisés tem agido ultimamente? — murmurou Miriã, seus olhos estreitando-se sob o sol escaldante.
—Ele se isola com frequência, dizendo que fala com o Senhor face a face — respondeu Arão, cruzando os braços.
—Será que Deus fala apenas com ele? — Miriã ergueu a voz, suficiente para que alguns curiosos se voltassem em sua direção. — Nós também somos profetas! O Senhor já nos usou antes. Por que Moisés age como se fosse o único escolhido?
A murmuração se espalhou como fogo em palha seca. Logo, outros líderes começaram a questionar a autoridade de Moisés, especialmente por causa de sua esposa cuxita, Zípora, que não era hebreia.
—Por que ele se casou com uma estrangeira? — cochichavam alguns.
—Será que ele se considera melhor do que nós? — outros acrescentavam.
O coração de Miriã se encheu de orgulho ferido. Ela, que havia sido uma líder entre as mulheres, agora se sentia diminuída. Arão, embora mais cauteloso, permitiu que a insatisfação o consumisse. Juntos, eles começaram a desafiar abertamente a autoridade de Moisés.
—O Senhor não falou apenas por meio de Moisés — declarou Miriã publicamente, erguendo as mãos para chamar atenção. — Ele também falou por nós! Por que, então, devemos seguir apenas as ordens dele?
O acampamento ficou em silêncio. As palavras de Miriã ecoaram como um desafio direto à liderança que Deus havia estabelecido.
Mas o Senhor ouviu.
De repente, uma nuvem escura desceu sobre a Tenda do Encontro, e a presença divina se manifestou com uma intensidade aterradora. Moisés, humilde como sempre, permaneceu em silêncio, mas o Senhor não ficou calado.
—Ouçam Minhas palavras! — a voz do Todo-Poderoso ressoou como um trovão. — Se entre vocês há um profeta, Eu, o Senhor, Me revelo a ele em visões e falo com ele em sonhos. Mas não é assim com o Meu servo Moisés, que é fiel em toda a Minha casa. Com ele falo face a face, claramente, e não por enigmas. Ele contempla a própria forma do Senhor. Por que vocês não temeram falar contra o Meu servo, contra Moisés?
O acampamento tremeu. Miriã e Arão caíram de joelhos, seus rostos pálidos de terror. Antes que pudessem dizer qualquer coisa, a nuvem se afastou, mas o juízo já havia sido proferido.
Quando Moisés olhou para Miriã, seu coração se partiu. Sua pele, outrora saudável, estava agora coberta por uma lepra branca como a neve. Ela gritou, cobrindo o rosto com as mãos.
—Não, irmã! — Moisés clamou, imediatamente intercedendo por ela. — Ó Deus, por favor, cure-a!
Arão, em desespero, se voltou para Moisés.
—Por favor, não permita que ela sofra assim! Fomos tolos, pecamos contra você e contra o Senhor!
Moisés, sempre misericordioso, orou fervorosamente. O Senhor ouviu sua súplica, mas a disciplina permaneceu.
—Se seu pai lhe tivesse cuspido no rosto, não estaria envergonhada por sete dias? — declarou o Senhor. — Que ela seja excluída do acampamento por sete dias, e depois será trazida de volta.
Assim, Miriã foi levada para fora do acampamento, isolada como uma leprosa. O povo, que havia murmurado, agora se calou, lembrando-se do perigo de desafiar a autoridade divina. Por sete dias, Israel não partiu, esperando pela restauração de Miriã.
Quando ela finalmente retornou, curada, o acampamento seguiu em frente, mas a lição ficou gravada em seus corações: o orgulho e a rebelião nunca ficam impunes diante do Deus santo. E Moisés, o homem mais humilde da terra, continuou a liderar o povo, não por sua própria força, mas pela graça e chamado do Senhor.
E assim, mais uma vez, o povo de Israel aprendeu que a verdadeira liderança vem de Deus, e que Ele exalta os humildes, mas resiste aos soberbos.