**O Jejum Vazio e a Chamada à Justiça**
No nono ano do reinado de Dario, rei da Pérsia, a cidade de Betel enviou uma delegação até Jerusalém com uma pergunta urgente para o profeta Zacarias e para os sacerdotes da casa do Senhor. Eram homens importantes, líderes do povo, e seu rosto estava marcado por uma expressão solene. Eles vieram com uma questão que atormentava o coração de muitos:
— Devemos continuar a chorar e a jejuar no quinto mês, como temos feito há tantos anos?
Era um jejum estabelecido desde os dias da destruição de Jerusalém, quando o templo fora reduzido a cinzas e o povo levado cativo para a Babilônia. Geração após geração, mesmo após o retorno do exílio, os israelitas mantinham essa tradição, rasgando suas vestes, cobrindo-se de cinzas e clamando ao Senhor em arrependimento. Mas agora, com o templo em reconstrução e a esperança renascendo, será que ainda precisavam continuar?
Zacarias, homem cheio do Espírito de Deus, olhou para aqueles homens e sentiu o peso da pergunta. Não era apenas sobre jejum. Era sobre o coração deles. O Senhor lhe deu uma resposta, e ele a proclamou com voz firme:
— Quando jejuastes e pranteastes no quinto e no sétimo mês, durante estes setenta anos, foi mesmo para Mim que jejuastes?
A pergunta ecoou como um trovão. Eles achavam que estavam cumprindo um dever sagrado, mas Deus via além das aparências. O jejum deles havia se tornado um ritual vazio, uma tradição repetida sem verdadeiro arrependimento. Continuavam a chorar pelos muros caídos, mas não choravam pelos pecados que haviam levado àquela ruína.
Zacarias continuou, sua voz carregada de autoridade divina:
— E quando comíeis e quando bebíeis, não era para vós mesmos que comíeis e bebíeis?
Era uma dura verdade. Mesmo em suas celebrações, eles buscavam seu próprio prazer, não a glória de Deus. O Senhor não queria apenas lágrimas e abstinência de comida; Ele queria um coração transformado.
Então, o profeta trouxe à memória as palavras que o Senhor havia falado por meio dos antigos profetas, antes do exílio, quando Jerusalém ainda estava cheia de prosperidade, mas vazia de justiça:
— Assim diz o Senhor dos Exércitos: Executai juízo verdadeiro, mostrai bondade e misericórdia cada um para com o seu irmão. Não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, e não maquineis o mal uns contra os outros no vosso coração.
Mas eles não quiseram ouvir. Endureceram seus corações como pedra, fecharam os ouvidos aos clamores dos necessitados e, por isso, a ira do Senhor veio sobre eles. Quando clamaram no exílio, o Senhor não os ouviu, porque seus corações ainda estavam cheios de injustiça.
Agora, Deus lhes dava outra chance. O jejum que Ele desejava não era apenas abster-se de comida, mas romper as cadeias da maldade, compartilhar o pão com o faminto, vestir o nu e não se esconder do seu próprio irmão.
A mensagem de Zacarias caiu como uma espada afiada, dividindo entre o que era mera religião e o que era verdadeira devoção. O Senhor não rejeitava o jejum, mas exigia que ele fosse acompanhado de amor prático.
Os homens de Betel ouviram em silêncio. Alguns baixaram a cabeça, convictos. Outros, talvez, ainda resistiam, apegados à tradição. Mas a palavra do Senhor permanecia:
— Assim como eu determinei castigar-vos quando vossos pais me provocaram à ira, agora estou determinado a fazer o bem a Jerusalém e a Judá. Não temais!
A escolha era deles. Continuariam com um jejum morto, ou abraçariam a justiça que traz vida? O verdadeiro arrependimento não estava nas cinzas, mas nas mãos estendidas aos caídos, no coração quebrantado que se compadece do próximo.
E assim, a mensagem de Zacarias ecoou pelos séculos: Deus não se agrada de rituais vazios, mas de corações que O buscam em verdade e transformam sua fé em ações de amor.