**A Vara que se Transformou em Serpente**
No calor abrasador do deserto de Midiã, Moisés apascentava o rebanho de seu sogro, Jetro. O sol inclemente castigava a terra ressequida, e o silêncio só era quebrado pelo balido das ovelhas e pelo farfalhar do vento entre os arbustos secos. Moisés, agora um homem marcado pelas décadas de exílio, refletia sobre seu passado no Egito e sobre o peso da culpa que carregava. Mas Deus não havia se esquecido dele.
Foi ali, no monte Horebe, que o Senhor apareceu numa chama de fogo no meio de uma sarça que ardia sem se consumir. A voz divina ecoou, chamando-o pelo nome: *”Moisés, Moisés!”* E quando o Senhor lhe ordenou que voltasse ao Egito para libertar os filhos de Israel da escravidão, Moisés hesitou.
— *”Mas quem sou eu para ir a Faraó e tirar os israelitas do Egito?”* — perguntou, duvidando de si mesmo.
Deus, porém, assegurou-lhe: *”Eu serei contigo.”*
Mesmo assim, Moisés ainda temia.
— *”E se eles não acreditarem em mim? E se não derem ouvidos à minha voz?”*
Foi então que o Senhor lhe deu um sinal poderoso.
— *”O que é isso na tua mão?”* — perguntou Deus.
Moisés olhou para sua mão calejada e viu o cajado de pastor, uma simples vara de madeira, desgastada pelo uso.
— *”Uma vara”* — respondeu, sem entender.
— *”Joga-a no chão”* — ordenou o Senhor.
Moisés obedeceu. No instante em que a vara tocou a areia do deserto, algo sobrenatural aconteceu. A madeira inanimada se contorceu, ganhou escamas, e, num piscar de olhos, transformou-se numa serpente viva, que sibilava e se enrolava rapidamente no chão. Moisés recuou assustado, instintivamente fugindo do perigo.
— *”Estende a mão e pega-a pela cauda”* — disse Deus, com calma.
O coração de Moisés batia forte. Era um risco mortal pegar uma serpente pelo rabo, pois ela poderia se virar e picá-lo. Mas, confiando na ordem divina, ele respirou fundo, avançou e agarrou o animal. No mesmo instante, a serpente voltou a ser uma vara inofensiva em sua mão.
O milagre era claro: o poder de Deus estava com ele. Aquele cajado, que antes servia apenas para guiar ovelhas, seria agora um instrumento de sinais e maravilhas diante de Faraó.
Mas o Senhor não parou ali. Ele deu a Moisés mais dois sinais:
— *”Mete a tua mão no seio”* — ordenou.
Moisés assim fez, e quando a retirou, sua pele estava leprosa, branca como a neve. Um terror percorreu seu corpo. A lepra era uma sentença de morte, um mal que isolava o homem de sua comunidade.
— *”Torna a colocar a mão no seio”* — disse Deus.
Novamente obediente, Moisés fez como ordenado, e quando retirou a mão, ela estava completamente curada, tão saudável como antes.
O terceiro sinal seria reservado para o caso de os israelitas ainda duvidarem:
— *”Se não acreditarem nestes dois sinais, pega da água do rio e derrama-a na terra seca. Ela se tornará sangue”* — declarou o Senhor.
Moisés, porém, ainda relutava.
— *”Ah, Senhor! Eu não sou homem de palavras… Sou pesado de boca e de língua!”*
Mas Deus respondeu com paciência:
— *”Quem fez a boca do homem? Não sou Eu, o Senhor? Vai, pois, agora, e Eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar.”*
Mesmo assim, Moisés suplicou:
— *”Envia, Senhor, qualquer outra pessoa!”*
Foi então que a ira do Senhor se acendeu contra ele, mas, em Sua misericórdia, Deus permitiu que Arão, irmão de Moisés, fosse seu porta-voz.
Assim, munido dos sinais divinos e com a promessa da presença de Deus, Moisés finalmente se dispôs a partir em direção ao Egito. A jornada seria longa, os desafios imensos, mas o Senhor estava com ele. A vara que se transformara em serpente era apenas o primeiro dos muitos milagres que testemunharia.
E assim, com passos firmes, Moisés deixou o deserto de Midiã, carregando não apenas um cajado, mas a autoridade do próprio Deus.