**A Aliança Quebrada: A História de Jeremias 2**
O sol poente lançava tons dourados sobre as colinas de Judá, enquanto o profeta Jeremias caminhava com passos pesados pelas ruas de Jerusalém. O ar estava carregado não apenas com o calor do fim do dia, mas com um peso espiritual que oprimia seu coração. O Senhor havia falado, e suas palavras ecoavam na alma de Jeremias como um trovão distante, anunciando tempestade.
Há muito tempo, Israel era como uma noiva jovem e pura, cheia de devoção. O Senhor a tirara do Egito, terra de escravidão, e a conduzira pelo deserto, um lugar árido e perigoso, mas onde Ele mesmo fora seu protetor. “Lembra-te da devoção da tua juventude”, murmurava Jeremias, repetindo as palavras do Senhor. “Como me seguiste no deserto, numa terra que não se semeia.”
Mas agora, tudo havia mudado. Jerusalém, outrora fiel, corria atrás de outros deuses como uma esposa infiel. Os altares a Baal se multiplicavam nos altos dos montes, e o incenso queimado a Astarote subia como fumaça espessa, ofuscando o verdadeiro culto ao Deus de Israel. O povo que um dia clamara pelo Senhor agora dizia a um pedaço de madeira: “Tu és meu pai”, e a uma pedra esculpida: “Tu me deste à luz.”
Jeremias sentiu um nó na garganta. Como podiam trocar a glória do Deus vivo por ídolos mudos? O Senhor perguntara: “Que injustiça vossos pais acharam em mim, para se afastarem de mim, indo após a vaidade e tornando-se eles mesmos vaidade?” Nenhuma resposta vinha, apenas o silêncio culpado de um povo que se esquecera de suas raízes.
Até os sacerdotes, que deveriam guiar o povo à verdade, não perguntavam mais: “Onde está o Senhor?” Os mestres da Lei já não O conheciam, e os pastores do povo se rebelavam contra Ele. Os profetas profetizavam por Baal e seguiam deuses que não podiam salvar.
Jeremias ergueu os olhos para os montes ao redor da cidade, outrora lugares de encontro com Deus, agora manchados pela idolatria. “Atravessem as ilhas de Quitim e olhem”, dizia o Senhor. “Enviem mensageiros a Quedar e observem com atenção. Vejam se alguma nação já trocou seus deuses, ainda que eles não sejam deuses de verdade. Mas o meu povo trocou a sua Glória por aquilo que é inútil!”
Até os céus se horrorizavam com tal coisa. A terra tremia de indignação. Pois Israel cometera dois males: abandonara o Senhor, a fonte de águas vivas, e cavara para si cisternas rotas, que não podiam reter água.
Os dias de juízo se aproximavam. Os inimigos do Norte rugiam como leões famintos, e não seria por falta de aviso. O Senhor ainda estendia as mãos, ainda chamava: “Voltem para mim!” Mas o povo endurecera o coração.
E assim, sob o crepúsculo que se fechava sobre Jerusalém, Jeremias chorou. Não apenas por Judá, mas por todos os que trocam o eterno pelo passageiro, o sagrado pelo profano. A história se repetia, e o clamor do profeta ecoava através dos séculos:
**”Por que trocaram o seu Deus, que é Glória, por deuses que não podem salvar?”**
E a noite caiu sobre uma cidade que, em breve, aprenderia o preço da infidelidade.