**A Circuncisão e a Páscoa em Gilgal**
O sol começava a se erguer sobre as planícies de Jericó, lançando raios dourados sobre o acampamento de Israel. O rio Jordão, que havia se aberto milagrosamente para o povo passar a pé enxuto, agora fluía normalmente atrás deles, como um testemunho silencioso do poder de Deus. Mas, apesar da vitória e da promessa da Terra Prometida, algo ainda precisava ser resolvido.
Josué, o líder escolhido por Deus após a morte de Moisés, contemplava o povo com um olhar ponderado. Eles haviam atravessado o Jordão em obediência, mas muitos dos homens de guerra nascidos durante os quarenta anos de peregrinação no deserto ainda não haviam sido circuncidados. Essa era uma marca da aliança entre Deus e Israel, estabelecida com Abraão e reafirmada a Moisés. Sem ela, o povo não estava plenamente preparado para a batalha que viria.
Enquanto Josué meditava, o Senhor lhe falou:
— Josué, faha facas de pedra e circuncide os filhos de Israel novamente.
Era uma ordem ousada. O povo estava acampado em terra inimiga, cercado por nações poderosas como os amorreus e os cananeus. Realizar a circuncisão agora os deixaria vulneráveis por dias, até que os homens se recuperassem. Mas Josué não hesitou. A obediência a Deus vinha antes da estratégia humana.
Imediatamente, ele reuniu os líderes das tribos e ordenou que fossem feitas facas de pedra afiadas, como nos tempos antigos. Homens adultos, que nunca haviam passado pelo rito, foram separados. O silêncio pairava sobre Gilgal enquanto os sacerdotes realizavam o procedimento sagrado. Alguns homens cerravam os dentes contra a dor, outros murmuravam orações, mas todos sabiam que aquilo era necessário.
Por três dias, o acampamento ficou em repouso. Nenhum exército inimigo se aproximou—Deus havia colocado temor no coração dos cananeus desde que ouvira falar do Jordão dividido. Enquanto os homens se recuperavam, o Senhor falou novamente a Josué:
— Hoje eu removi de vocês o opróbrio do Egito.
Era como se o próprio Deus estivesse lavando a vergonha da escravidão e da desobediência passada. Agora, Israel estava renovado, pronto para herdar as promessas feitas a seus pais.
Quando o quarto dia chegou, o povo celebrou a Páscoa. Era a primeira vez em quarenta anos que comiam do fruto da terra—pães sem fermento e espigas tostadas—em vez do maná que caía diariamente no deserto. O sabor era novo, mas o significado era antigo: lembrava a noite em que Deus os libertara do Egito, poupando os primogênitos pelo sangue do cordeiro.
Naquela mesma noite, enquanto as fogueiras crepitavam e as famílias se reuniam em gratidão, algo extraordinário aconteceu. Josué, caminhando sozinho nos arredores do acampamento, avistou um homem de pé, com uma espada desembainhada na mão. Imediatamente, Josué se aproximou e perguntou:
— Você é dos nossos ou dos nossos inimigos?
O homem respondeu:
— Não, mas venho como príncipe do exército do Senhor.
Josué caiu com o rosto em terra, reconhecendo que estava diante de um mensageiro divino—talvez o próprio Anjo do Senhor. Aquele era um sinal claro: Deus estava com eles, e a batalha por Jericó não seria travada apenas por mãos humanas. O Senhor dos Exércitos marchava à frente de Israel.
Na manhã seguinte, um vento fresco soprava sobre Gilgal. Os homens, agora circuncidados e fortalecidos, olhavam para as imponentes muralhas de Jericó com determinação. A Terra Prometida estava diante deles, e Deus havia preparado o caminho.
E assim, renovados na aliança e fortalecidos pela Páscoa, Israel se preparava para o primeiro grande combate em Canaã—não confiando em suas próprias forças, mas no poder dAquele que havia jurado dar-lhes a vitória.