Bíblia em Contos

Bíblia em Contos

Bíblia

A Proclamação do Shema no Deserto (98 caracteres)

**O Shema e a Promessa de Obediência**

Na vastidão árida do deserto, sob um céu incandescente que parecia derreter o horizonte, o povo de Israel acampava ao pé do monte Horebe. As tendas brancas e marrons se estendiam como um mar ondulante, abrigando famílias que carregavam histórias de libertação e milagres. Moisés, o homem escolhido por Deus para guiá-los, sentia o peso da responsabilidade sobre seus ombros envelhecidos. Sabia que seus dias estavam contados e que, antes de cruzar o Jordão, precisava incutir no coração do povo a essência da aliança com o Senhor.

Foi então que, em uma manhã fresca, quando o orvalho ainda brilhava sobre as folhas secas do deserto, Moisés convocou todos os israelitas. Homens, mulheres e crianças se reuniram em frente à grande tenda do encontro, onde a presença de Deus pairava como uma coluna de fogo à noite e de nuvem durante o dia. O velho líder ergueu as mãos, e um silêncio reverente cobriu a multidão.

“Ouça, ó Israel!” — sua voz ecoou como um trovão distante, carregado de autoridade divina. — “O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor!”

As palavras pareciam queimar no ar, gravando-se no coração de cada pessoa presente. Moisés continuou, com os olhos brilhando de fervor:

“Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força!”

Uma criança, agarrada à saia de sua mãe, sussurrou: “O que significa amar a Deus com tudo o que temos?” A mãe, com lágrimas nos olhos, apertou sua mão e respondeu: “Significa que Ele deve estar acima de tudo, meu filho. Acima do nosso pão, do nosso descanso, até mesmo da nossa própria vida.”

Moisés prosseguiu, explicando que aqueles mandamentos não eram apenas regras, mas a própria vida de Israel.

“Estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.”

Um homem idoso, cujo rosto estava marcado por anos de trabalho duro no Egito, balançou a cabeça em concordância. Ele lembrava como, na escravidão, não tinha tempo nem liberdade para ensinar seus filhos sobre o Deus de Abraão. Mas agora, em meio ao deserto, cada momento era uma oportunidade para falar das maravilhas do Senhor.

Moisés então descreveu como a obediência traria bênçãos: cidades prósperas, colheitas abundantes e a proteção divina contra os inimigos. Mas também advertiu: se se esquecessem de Deus e seguissem ídolos, a terra vomitaria seu povo, assim como havia feito com as nações ímpias antes deles.

“Quando no futuro teu filho te perguntar: ‘Que significam estes mandamentos, decretos e ordenanças que o Senhor nosso Deus ordenou a vocês?’” — Moisés ergueu o rosto, como se visse além do tempo — “responderás: ‘Éramos escravos do Faraó no Egito, mas o Senhor nos tirou de lá com mão poderosa. Ele nos deu estas leis para o nosso bem, para que sempre vivamos em Sua graça.’”

Ao final de suas palavras, o sol já se inclinava para oeste, lançando sombras longas sobre o acampamento. O povo dispersou-se em silêncio, muitos com os corações ardendo de convicção. Alguns pais, ainda sob o impacto das palavras de Moisés, começaram a ensinar os filhos pequenos a repetir: “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor…”

E assim, naquele dia, a fé foi plantada como uma semente indestrutível. Mesmo que gerações futuras vacilassem, aquelas palavras ecoariam através dos séculos, lembrando a todos que o amor a Deus não era apenas um mandamento, mas o próprio alicerce da existência de Israel.

E Moisés, vendo o povo se recolher, sorriu sabendo que, enquanto guardassem o Shema no coração, o Senhor seria seu Deus, e eles, Seu povo.

LEAVE A RESPONSE

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *