**O Sonho do Faraó e a Ascensão de José**
No calor abafado do Egito, sob o céu incandescente que parecia derreter o tempo, o Faraó acordou em meio à noite, o coração agitado. Sua câmara real, adornada com ouro e incenso, não trouxe conforto à sua alma perturbada. Ele havia sonhado, e o sonho o consumia como um fogo que não se apagava.
Em seu primeiro sonho, ele estava às margens do rio Nilo, a vida do Egito, quando sete vacas gordas e belas emergiram das águas, pastando nos juncos verdejantes. Mas, subitamente, sete vacas magras, esqueléticas, saíram após elas e devoraram as vacas gordas, sem que sua aparência horrível se alterasse. O Faraó acordou com um sobressalto, mas, ao adormecer novamente, um segundo sonho o assaltou: sete espigas de trigo, cheias e douradas, brotavam de um único talo. Porém, sete espigas mirradas, queimadas pelo vento oriental, as engoliram sem deixar vestígio.
Ao amanhecer, o Faraó convocou todos os magos e sábios do Egito. Homens versados nos mistérios dos deuses, conhecedores de presságios e feitiços, mas nenhum deles pôde decifrar o significado dos sonhos. O palácio ecoava com murmúrios de frustração, e o coração do rei se enchia de angústia.
Foi então que o copeiro-mor, após anos de silêncio, lembrou-se de José. Com voz hesitante, ele se prostrou diante do Faraó e disse:
— Lembro-me hoje dos meus pecados. Certa vez, o rei se irou contra mim e contra o padeiro-chefe e nos lançou na prisão do capitão da guarda. Lá, um jovem hebreu, servo do Deus Altíssimo, interpretou nossos sonhos com exatidão. Tudo aconteceu conforme ele predisse: eu fui restaurado ao meu cargo, e o padeiro foi enforcado.
O Faraó, com um misto de esperança e urgência, ordenou que trouxessem José imediatamente. Apressadamente, ele foi tirado do calabouço, barbeado, vestido com roupas limpas e conduzido à presença do rei.
Quando José entrou no salão do trono, sua postura era serena, mas seus olhos brilhavam com a sabedoria que vinha do Senhor. O Faraó olhou para ele e disse:
— Ouvi dizer que você interpreta sonhos.
José, sem hesitar, respondeu:
— Não está em mim esse poder, mas Deus dará ao Faraó uma resposta favorável.
Então, o rei contou seus sonhos em detalhes, e José, cheio do Espírito do Senhor, explicou:
— Os dois sonhos do Faraó são um só. As sete vacas gordas e as sete espigas cheias representam sete anos de abundância que virão sobre o Egito. Mas as sete vacas magras e as sete espigas queimadas são sete anos de fome que devorarão a terra. O sonho foi repetido porque a coisa está determinada por Deus, e Ele se apressa em cumpri-la.
José não parou ali. Com ousadia santa, ele aconselhou o Faraó:
— Que o rei procure um homem sábio e prudente e o coloque sobre a terra do Egito. Que se estabeleçam supervisores para recolher um quinto da colheita nos anos de fartura, armazenando-o nas cidades. Esse estoque será reserva para os anos de fome, para que o Egito não pereça.
O Faraó e todos os seus conselheiros ficaram maravilhados. O rei reconheceu que o Espírito de Deus habitava em José e declarou:
— Podemos encontrar alguém como este, em quem está o Espírito de Deus?
E, naquele mesmo dia, o Faraó investiu José como governador de todo o Egito, colocando em seu dedo o anel-selo, vestindo-o de linho fino e pendurando um colar de ouro em seu pescoço. Ele o fez subir em sua segunda carruagem, e os arautos proclamavam:
— Inclinai-vos!
Assim, José, outrora escravo e prisioneiro, tornou-se senhor do Egito, abaixo apenas do próprio Faraó.
Nos anos que se seguiram, a terra floresceu como nunca. José percorreu todas as províncias, supervisionando a colheita abundante. Celeiros gigantescos foram construídos, e o trigo foi armazenado em quantidades incontáveis, como a areia do mar.
Mas, como predito, depois dos sete anos de fartura, veio a fome. Não apenas sobre o Egito, mas sobre toda a terra. Quando o povo clamou ao Faraó por pão, ele apenas apontou para José:
— Ide a ele e fazei o que ele vos disser.
José abriu os celeiros e vendeu trigo aos egípcios e aos estrangeiros que vinham de todas as nações. Assim, a sabedoria dada por Deus através de José salvou não só o Egito, mas muitos povos da destruição.
E, mais uma vez, cumpriu-se o propósito do Senhor: o que os homens intentaram para o mal, Deus transformou em bem, para preservação de vida.