**A Jornada de Paulo a Jerusalém: Obediência e Sacrifício**
O sol poente tingia as ruas de Tiro com tons dourados e alaranjados, refletindo nas águas calmas do Mediterrâneo. Paulo, o apóstolo outrora perseguidor da igreja, agora um fervoroso servo de Cristo, estava prestes a embarcar em uma viagem que mudaria seu destino. Ele sabia que Jerusalém o aguardava, não com aplausos, mas com correntes e sofrimento. Mesmo assim, seu coração estava firme, pois a voz do Espírito Santo ecoava em sua alma: *”É necessário que dês testemunho também em Roma.”*
Antes de partir, os discípulos de Tiro, cheios do Espírito, cercaram Paulo e, com lágrimas nos olhos, suplicaram: *”Não vá a Jerusalém!”* Eles pressentiam o perigo, mas Paulo, com um sorriso sereno, respondeu: *”Por que chorais e quebrais o meu coração? Estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.”*
Após uma comovente despedida na praia, ajoelhando-se na areia úmida, todos oraram juntos. Então, Paulo e seus companheiros subiram ao navio, deixando para trás amigos que jamais o esqueceriam.
**Chegada a Cesareia: A Profecia de Ágabo**
Em Cesareia, a comitiva de Paulo foi recebida na casa de Filipe, o evangelista, um dos sete diáconos escolhidos pelos apóstolos anos antes. Filipe tinha quatro filhas virgens que profetizavam, e ali, por vários dias, o Espírito falou através delas, confirmando os perigos que aguardavam Paulo.
Mas foi um profeta de nome Ágabo, vindo da Judeia, que trouxe uma mensagem dramática. Ele pegou o cinto de Paulo, amarrou suas próprias mãos e pés e declarou: *”Assim diz o Espírito Santo: ‘Deste modo os judeus em Jerusalém amarrarão o dono deste cinto e o entregarão nas mãos dos gentios.’”*
Um silêncio pesado caiu sobre a casa. Os irmãos, aterrorizados, imploraram: *”Paulo, não vá!”* Mas ele, com olhar resoluto, respondeu: *”Que fazeis chorando e perturbando o meu coração? Eu não só estou pronto a ser preso, mas também a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.”*
Vendo que não podiam dissuadi-lo, os discípulos resignaram-se: *”Seja feita a vontade do Senhor.”*
**Jerusalém: O Conflito e a Prisão**
Ao chegar a Jerusalém, Paulo foi recebido com alegria pelos irmãos. No dia seguinte, reuniu-se com Tiago e todos os presbíteros, relatando as maravilhas que Deus fizera entre os gentios através do seu ministério. Eles glorificaram a Deus, mas logo expressaram uma preocupação: *”Vês, irmão, quantos milhares de judeus creram, e todos são zelosos da lei. Eles ouviram dizer que ensinas os judeus entre os gentios a abandonarem Moisés, dizendo que não circuncidem seus filhos nem vivam segundo os nossos costumes.”*
Para evitar mal-entendidos, sugeriram que Paulo demonstrasse publicamente sua observância à lei, purificando-se no templo junto com quatro homens que tinham feito voto. Paulo concordou, não por fraqueza, mas para ser *”tudo para todos”*, como sempre pregara.
No entanto, quando os dias da purificação estavam quase terminados, alguns judeus da Ásia, reconhecendo Paulo no templo, incitaram a multidão: *”Israelitas, ajudem-nos! Este é o homem que ensina todos em toda parte contra o nosso povo, contra a lei e contra este lugar!”*
A turba enfurecida agarrou Paulo, arrastando-o para fora do templo. As portas foram fechadas atrás dele, e o povo começou a espancá-lo, gritando: *”Mata-o!”*
No meio do caos, o comandante da guarda romana, Cláudio Lísias, soube do tumulto e correu com seus soldados. Ao verem os centuriões, a multidão recuou, e Lísias prendeu Paulo, acorrentando-o com duas algemas.
*”Quem és tu?”*, perguntou o comandante, confuso com a identidade do prisioneiro. Alguns na multidão gritavam uma coisa, outros outra. Como não conseguia entender a verdade no meio do alvoroço, ordenou que Paulo fosse levado à fortaleza.
Enquanto subiam os degraus, Paulo, coberto de sangue mas com voz firme, pediu permissão para falar. O comandante, surpreso ao ouvi-lo falar em grego, permitiu.
E ali, diante da escadaria, Paulo se virou para a multidão e levantou a mão acorrentada. Um silêncio momentâneo caiu. Ele respirou fundo e começou: *”Irmãos e pais, ouvi agora a minha defesa perante vós.”*
E assim, mesmo preso, Paulo mais uma vez começou a pregar o Evangelho. Suas correntes não o impediriam de testemunhar. A jornada que começara em Damasco, quando Cristo o chamara, ainda não terminara.
E Jerusalém era apenas mais um passo no caminho para Roma.