**A Noite que o Céu Desceu à Terra**
Era uma noite fria nos campos de Belém. Os pastores, envoltos em mantos surrados pelo tempo, mantinham-se vigilantes, seus olhos pesados de cansaço, mas sempre atentos aos perigos que rondavam os rebanhos. O vento sussurrava entre as oliveiras, carregando o aroma da terra seca e do orvalho que começava a se formar. As estrelas cintilhavam com uma intensidade incomum, como se o próprio céu estivesse em expectativa.
De repente, sem aviso, uma luz irrompeu na escuridão, tão brilhante que os pastores caíram de joelhos, cobrindo os rostos com as mãos tremulas. Um anjo do Senhor apareceu diante deles, e a glória de Deus os envolveu como um manto resplandecente. O coração de cada um parecia querer escapar do peito, tal era o temor que os invadia.
Mas o anjo, com voz que era ao mesmo tempo poderosa e suave, como o murmúrio de um riacho em meio à tempestade, disse:
— *Não temais! Eis que vos trago boas-novas de grande alegria, que serão para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, vos nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: achareis o menino envolto em faixas e deitado numa manjedoura.*
Antes que pudessem assimilar plenamente aquelas palavras, o céu se abriu. Uma multidão dos exércitos celestiais surgiu, louvando a Deus em coro:
— *Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens a quem Ele quer bem!*
Os pastores permaneceram prostrados, mas agora não mais pelo medo, e sim por uma reverência indescritível. Quando os anjos se retiraram, e a noite voltou ao seu silêncio sagrado, os homens olharam uns para os outros, seus rostos iluminados por uma fé que nunca antes haviam conhecido.
— *Vamos até Belém!* — exclamou um deles, e os outros concordaram imediatamente.
Deixando as ovelhas aos cuidados dos cães e dos mais jovens, partiram apressadamente, seus pés descalços levantando poeira no caminho pedregoso. A cidade estava quieta, a maioria de seus habitantes adormecida após os rigores do recenseamento ordenado por César Augusto. Mas em algum lugar, entre as casas de pedra e as estreitas vielas, estava Aquele que havia sido prometido desde os dias de Abraão, Isaque e Jacó.
Guiados por uma certeza interior, encontraram um lugar humilde: uma estrebaria, onde animais se abrigavam do frio. E ali, envolto em panos simples e repousando numa manjedoura, estava o Menino. Maria, Sua mãe, tinha o rosto sereno, ainda que marcado pela fadiga do parto. José, ao seu lado, vigiava com um misto de admiração e responsabilidade.
Os pastores aproximaram-se com reverência, e então contaram tudo o que lhes fora revelado pelos anjos. Maria guardava todas essas palavras, meditando-as em seu coração. Ali, naquele lugar onde o feno servia de berço e o cheiro dos animais enchia o ar, o Verbo se fez carne. O Rei dos reis havia chegado não em um palácio, mas entre os humildes, cumprindo as profecias de Isaías e Miqueias.
Ao partirem, os pastores não conseguiam conter sua alegria. Louvavam a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, e suas vozes ecoavam pelas colinas de Belém. Aquele que traria salvação a Israel—e a todo o mundo—havia nascido. E naquela noite, o céu não apenas cantara… ele descera à terra.