**O Julgamento Alheio e o Amor Fraternal**
Na cidade de Corinto, onde a fé cristã florescia em meio a uma sociedade diversa e plural, havia uma comunidade de crentes fervorosos, mas que enfrentavam desafios profundos em sua convivência. Entre eles, alguns eram judeus convertidos, acostumados a rigorosas observâncias dietéticas e dias sagrados, enquanto outros, gentios, vinham de culturas onde essas práticas não existiam.
Um homem chamado Marcos, um judeu cristão, guardava com zelo o sábado e abstinha-se rigorosamente de carne e vinho, crendo que essas práticas agradavam a Deus. Ele olhava com desconfiança para os irmãos que comiam livremente e não observavam os dias sagrados, julgando-os espiritualmente negligentes. Do outro lado, estava Lúcio, um grego convertido, que entendia que em Cristo todas as coisas eram puras e vivia sua fé com liberdade, sem se prender a regras alimentares. Ele, por sua vez, via Marcos como alguém fraco na fé, escravizado por tradições desnecessárias.
Os conflitos surgiam nas refeições comunitárias. Enquanto alguns, como Marcos, traziam apenas legumes e água, outros, como Lúcio, compartilhavam carne e vinho com gratidão. O clima ficou tenso quando, em certa ocasião, Marcos repreendeu abertamente Lúcio diante dos irmãos:
— Como você pode se chamar de cristão e viver de forma tão relaxada? Não teme a Deus?
Lúcio, irritado, respondeu:
— E você, por que insiste em viver sob a lei, como se Cristo não tivesse nos libertado?
A discussão se espalhou, dividindo a igreja entre os que apoiavam Marcos e os que concordavam com Lúcio. A comunhão estava se rompendo, e o amor fraternal dava lugar ao julgamento e à discórdia.
Foi então que um ancião da igreja, chamado Tito, homem sábio e cheio do Espírito, levantou-se para falar. Ele havia recebido uma carta do apóstolo Paulo, que tratava justamente dessas questões. Reunindo a todos, leu em voz alta:
— *”Acolhei ao que é fraco na fé, sem discutir opiniões. Um crê que pode comer de tudo; já outro, cuja fé é fraca, come apenas legumes. Aquele que come não deve desprezar o que não come, e o que não come não deve condenar aquele que come, pois Deus o acolheu. Quem é você para julgar o servo alheio? É para o seu próprio senhor que ele está de pé ou cai. E estará firme, pois o Senhor é poderoso para o sustentar.”* (Romanos 14:1-4)
O silêncio tomou conta da assembleia. Tito continuou, explicando que nem todos tinham a mesma maturidade na fé, e que o importante não era a comida ou os dias, mas sim servir a Cristo com integridade.
— Irmãos — disse Tito —, se alguém evita carne por consciência, que o faça para o Senhor. E se outro come com ação de graças, que também o faça para o Senhor. Nenhum de nós vive ou morre para si mesmo, mas para Cristo, que é o Senhor de todos.
Marcos baixou a cabeça, sentindo o peso de seu julgamento precipitado. Lúcio, por sua vez, percebeu que sua liberdade não deveria ser motivo de escândalo para os mais fracos. Ambos se reconciliaram, prometendo não mais colocar tropeços no caminho uns dos outros.
Daquele dia em diante, a igreja de Corinto aprendeu uma lição valiosa: o reino de Deus não é questão de comida ou bebida, mas de justiça, paz e alegria no Espírito Santo. E assim, vivendo em amor, eles glorificaram a Deus não com disputas, mas com unidade e respeito mútuo.
**Moral da História:**
Como diz Romanos 14:19 — *”Por isso, esforcemo-nos em promover tudo quanto conduz à paz e à edificação mútua.”* Ninguém deve ser causa de tropeço para seu irmão, pois cada um prestará contas de si mesmo a Deus. A verdadeira fé não se mede por regras externas, mas por um coração submisso a Cristo e amoroso para com os irmãos.