**O Amor que Persiste: Uma Narrativa Baseada em Cantares de Salomão 5**
Era uma noite tranquila em Jerusalém, quando a brisa suave carregava o perfume das flores que adornavam os jardins do palácio. A Sulamita, envolta em seu quarto, repousava sobre seu leito de cedro, seu coração cheio de saudades do seu amado. Ele, o rei Salomão, havia partido para suas viagens reais, mas prometera voltar para ela. Seu amor era intenso, puro, como as águas cristalinas do ribeiro de Siloé.
Enquanto dormia, seu sono foi interrompido por um som familiar—uma batida suave na porta.
— *”Abre-me, minha irmã, minha amada, minha pomba, minha imaculada! Porque a minha cabeça está cheia de orvalho, e os meus cabelos das gotas da noite.”* (Cantares 5:2)
Era a voz do seu amado! O coração da Sulamita acelerou, mas por um momento, ela hesitou. Já havia se despido para repousar, seus pés estavam limpos, e levantar-se agora seria um incômodo.
— *”Já despi a minha túnica; como a tornarei a vestir? Já lavei os meus pés; como os tornarei a sujar?”* (Cantares 5:3)
Mas então, ao estender a mão para abrir a porta, percebeu que ele já não estava mais ali. Seu amado havia se afastado. O coração dela apertou-se de angústia, e imediatamente ela saiu em sua busca, percorrendo as ruas escuras de Jerusalém.
As sentinelas da cidade, ao vê-la correndo desesperada, não compreenderam sua aflição.
— *”Encontrei as guardas que rondam pela cidade; feriram-me, tiraram-me o manto, os guardas dos muros.”* (Cantares 5:7)
Mesmo ferida e humilhada, ela não desistiu. Seu amor era mais forte do que a dor. Ela clamou às filhas de Jerusalém que, se vissem o seu amado, lhe dissessem que ela estava enferma de amor.
— *”Eu vos conjuro, ó filhas de Jerusalém, se encontrardes o meu amado, que lhe digais que estou enferma de amor.”* (Cantares 5:8)
As jovens, curiosas, perguntaram:
— *”Que tem o teu amado mais do que outro amado, ó mais formosa entre as mulheres? Que tem o teu amado mais do que outro amado, para que assim nos conjures?”* (Cantares 5:9)
E então, com olhos brilhantes de paixão e devoção, a Sulamita descreveu o seu amado em palavras que ecoavam a beleza e a excelência dele:
— *”O meu amado é alvo e rosado, distinguido entre dez mil. A sua cabeça é como o ouro mais puro, os seus cabelos são crespos, negros como o corvo. Os seus olhos são como pombas junto às correntes das águas, lavados em leite, postos em engaste. As suas faces são como um canteiro de especiarias, como torre de perfumes; os seus lábios são como lírios que destilam mirra líquida. As suas mãos são como rodelas de ouro, cheias de berilos; o seu ventre é como alvo marfim, coberto de safiras. As suas pernas são como colunas de mármore, assentadas sobre bases de ouro puro; o seu aspecto é como o Líbano, excelente como os cedros. A sua boca é muitíssimo doce; sim, ele é totalmente desejável. Tal é o meu amado, tal é o meu amigo, ó filhas de Jerusalém.”* (Cantares 5:10-16)
E assim, a Sulamita demonstrou que o amor verdadeiro não se abala com obstáculos. Mesmo quando falhamos, quando hesitamos, o amor do Amado permanece, buscando-nos e nos atraindo de volta.
**Reflexão Teológica**
Este capítulo revela não apenas o amor humano entre Salomão e a Sulamita, mas também reflete o amor de Cristo por Sua Igreja. Assim como a noiva hesitou em abrir a porta, muitas vezes nós demoramos em responder ao chamado do Senhor. Mas mesmo quando falhamos, Ele continua nos buscando, pois Seu amor é persistente e incondicional.
A busca da Sulamita pelas ruas, enfrentando perigos, ilustra o arrependimento e o desejo de reencontrar a comunhão perdida. E quando ela descreve o seu amado com tamanha excelência, somos lembrados de que Cristo é o mais belo entre todos, Aquele que merece todo o nosso louvor e devoção.
Que o nosso coração nunca hesite em abrir a porta quando Ele bater, pois o Seu amor é a maior de todas as histórias.