**O Conselho de Jetro**

O sol começava a se erguer sobre o deserto, tingindo as areias de um dourado suave enquanto Moisés caminhava em direção à tenda da congregação. Desde o amanhecer, já havia uma multidão aguardando por ele—homens e mulheres com disputas, questões de família, acusações de roubo e brigas por herança. Moisés sentou-se em um assento elevado, preparando-se para mais um longo dia de julgamentos.

Desde que os israelitas haviam saído do Egito, ele se tornara não apenas o líder que os conduzia, mas também o juiz que resolvia todas as suas contendas. O povo vinha a ele desde a manhã até o anoitecer, esperando que ele ouvisse seus casos e declarasse a vontade de Deus. Moisés, embora exausto, nunca recusava ninguém. Ele sabia que essa era a sua responsabilidade—ensinar os estatutos e as leis do Senhor ao povo.

Mas naquele dia, algo diferente aconteceria.

Enquanto Moisés ouvia pacientemente as palavras de dois homens que disputavam pela posse de um animal, um burburinho começou a se espalhar pelo acampamento. Vultos se aproximavam à distância—era Jetro, sacerdote de Midiã e sogro de Moisés, que vinha visitá-lo, trazendo consigo a esposa de Moisés, Zípora, e seus dois filhos, Gérson e Eliézer.

Ao avistar o sogro, Moisés levantou-se rapidamente e foi ao seu encontro. Inclinando-se profundamente, ele o abraçou e o beijou, enquanto perguntava pelas notícias da família e agradecia a Deus por aquela visita inesperada.

— Bendito seja o Senhor, que te trouxe em segurança até nós! — exclamou Moisés, com os olhos brilhando de alegria.

Jetro sorriu, mas seu olhar logo se voltou para a multidão que aguardava.

— O que é tudo isso? — perguntou, apontando para as filas de pessoas que se estendiam por todo o acampamento.

Moisés suspirou.

— O povo vem a mim para consultar a Deus. Quando têm alguma questão, eu os julgo e ensino os decretos e leis do Senhor.

Jetro observou atentamente enquanto Moisés retomava seu trabalho, ouvindo caso após caso, decidindo entre o certo e o errado com sabedoria divina. Mas à medida que as horas passavam, Jetro notou o cansaço no rosto de seu genro.

Ao anoitecer, quando finalmente o último israelita foi atendido, Jetro chamou Moisés para uma conversa dentro de sua tenda.

— O que você está fazendo não é bom — disse Jetro, com voz firme, mas carinhosa. — Você e o povo que está contigo certamente se esgotarão, pois esta tarefa é pesada demais para você só.

Moisés olhou para ele, surpreso.

— Mas é meu dever guiá-los. O Senhor me colocou como líder.

— Sim — respondeu Jetro —, mas até um líder precisa de ajuda. Ouça meu conselho: ore a Deus para confirmar, mas eu te sugiro que escolhas homens capazes, tementes a Deus, dignos de confiança e que aborreçam o ganho desonesto. Estabeleça-os como chefes de mil, de cem, de cinquenta e de dez. Eles julgarão as questões menores, e somente os casos mais difíceis serão trazidos a ti. Assim, você não carregará sozinho este fardo, e o povo será atendido com justiça.

Moisés refletiu sobre as palavras de Jetro. Elas faziam sentido. Ele já estava tão cansado que, às vezes, mal conseguia pensar. Talvez essa fosse a sabedoria que Deus estava lhe enviando por meio de seu sogro.

No dia seguinte, Moisés seguiu o conselho de Jetro. Escolheu homens capazes dentre todo o Israel e os constituiu como líderes do povo. Alguns julgaram grupos de mil, outros de cem, cinquenta ou dez. Somente os casos mais complexos eram levados a Moisés, enquanto os mais simples eram resolvidos por esses homens sábios e tementes a Deus.

E assim, o acampamento de Israel tornou-se mais organizado. O povo não precisava mais esperar dias para ser atendido, e Moisés pôde dedicar-se mais à comunhão com Deus e à direção do povo, sem se consumir em cansaço.

Antes de partir, Jetro abençoou Moisés e disse:

— Que o Senhor, o Deus que te livrou do Egito, continue a guiar-te. Se você seguir este caminho e Deus ordenar, então estará fortalecido, e todo este povo voltará para sua terra em paz.

Moisés agradeceu a Jetro e despediu-se dele com um abraço apertado, sabendo que aquele conselho não vinha apenas de um homem, mas da providência divina.

E assim, a liderança de Moisés tornou-se mais eficiente, e o povo de Israel seguiu adiante, rumo à terra prometida, sob a direção de Deus e a sabedoria compartilhada entre muitos.