**A Justiça de Deus Revelada**

Era uma manhã fresca em Roma, e o sol dourado começava a derramar sua luz sobre as ruas de pedra, iluminando os rostos dos habitantes que se apressavam para mais um dia de trabalho. Entre eles, um grupo de cristãos se reunia secretamente em uma casa humilde, escondida entre os becos da cidade. Eles eram judeus e gentios, unidos pela fé em Cristo, mas ainda lutando contra as divisões e os questionamentos sobre a lei e a graça.

Naquele dia, um ancião chamado Marcos, conhecido por sua sabedoria, decidiu compartilhar com eles as palavras do apóstolo Paulo, que havia escrito uma carta poderosa à igreja em Roma. Ele desenrolou um pergaminho desgastado, e todos se aproximaram, curiosos.

— Irmãos — começou Marcos, com voz grave —, o apóstolo Paulo nos lembra de uma verdade que muitos ainda resistem em aceitar: *”Não há justo, nem um sequer”*.

Um silêncio pesado caiu sobre a sala. Alguns baixaram os olhos, outros trocaram olhares desconfortáveis. Entre eles estava Lídia, uma gentia que havia abandonado os ídolos para seguir a Cristo, e Samuel, um judeu que ainda se apegava às tradições de seus pais.

— O que isso significa? — perguntou Samuel, franzindo a testa.

Marcos respirou fundo antes de responder.

— Significa que todos nós, judeus e gregos, estamos debaixo do pecado. Nossas boas obras, nossos sacrifícios, nossa circuncisão — ele olhou diretamente para Samuel —, nada disso nos torna justos diante de Deus.

Lídia sentiu um frio percorrer sua espinha. Ela sabia que, antes de conhecer Cristo, sua vida estava cheia de impurezas. Mas Samuel não se conteve.

— Mas a lei foi dada por Deus! Como podemos dizer que ela não tem valor?

— A lei tem valor — respondeu Marcos com paciência —, mas ela não nos salva. Ela nos mostra o quanto falhamos. Como Paulo escreve: *”Pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”*.

Os olhos de Samuel se encheram de conflito. Ele havia dedicado sua vida a guardar os mandamentos, mas agora ouvia que isso não era suficiente.

Enquanto isso, do lado de fora, o som de soldados romanos marchando ecoava pelas ruas, lembrando a todos que viviam sob o domínio de um império que não conhecia misericórdia. Mas ali, naquela casa simples, uma verdade maior estava sendo revelada.

— Então como podemos ser salvos? — perguntou Lídia, sua voz quase um sussurro.

Marcos sorriu e continuou a ler o pergaminho:

— *”Mas agora, se manifestou uma justiça que vem de Deus, independente da lei… Justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que creem.”*

Samuel fechou os olhos, lutando contra as lágrimas. Ele sempre pensara que a justiça vinha da obediência, mas agora entendia que ela vinha de Cristo.

— É pela graça — murmurou ele, como se uma luz tivesse brilhado em seu coração.

— Sim — confirmou Marcos. — *”Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, mas são justificados gratuitamente por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus.”*

Lídia sentiu um peso sendo retirado de seus ombros. Ela não precisava mais carregar a culpa de seu passado. Samuel, por sua vez, sentiu-se livre de uma carga que nem sabia que carregava — a ilusão de que poderia ser perfeito por seus próprios esforços.

Do lado de fora, a cidade continuava barulhenta e caótica, mas dentro daquela casa, havia paz. Eles entenderam, naquele momento, que a justiça de Deus não era algo a ser conquistado, mas recebido pela fé.

E assim, unidos não por raça ou mérito, mas pelo sangue de Cristo, aqueles irmãos compartilharam pão e vinho, lembrando do sacrifício que os tornara justos diante de Deus.

**Fim.**