**A Parábola do Rico Insensato e a Exortação à Confiança em Deus**
Era uma vez, em uma região tranquila da Galileia, onde os campos dourados de trigo dançavam ao sabor do vento e as oliveiras se estendiam pelas colinas, que uma grande multidão se reuniu ao redor de Jesus. Homens, mulheres e crianças, com rostos marcados pela labuta diária, ouviam atentamente cada palavra que saía de Seus lábios. Entre eles, havia fariseus de olhares severos, camponeses de mãos calejadas e até mesmo alguns soldados romanos, curiosos com o famoso Rabi que falava com tanta autoridade.
Enquanto Jesus ensinava sobre a importância de se confessar a fé nEle diante dos homens, um homem robusto, vestido com uma túnica fina e com um cinto de couro trabalhado, abriu caminho entre a multidão. Seu rosto estava vermelho de tanto esforço, e sua voz ecoou acima dos murmúrios:
— Mestre! — exclamou ele, ofegante. — Dize a meu irmão que reparta comigo a herança!
Jesus fixou Seus olhos profundos naquele homem, percebendo a ganância que queimava em seu coração. Em vez de responder diretamente ao pedido, Ele ergueu as mãos e disse com voz firme:
— Homem, quem me designou juiz ou árbitro entre vós?
A multidão ficou em silêncio, surpresa com a resposta. Então, Jesus, conhecendo os perigos da avareza, começou a contar uma história que ecoaria por gerações:
— A terra de um homem rico produziu uma colheita abundante. Os celeiros já estavam cheios, mas os campos continuavam a dar frutos além do esperado. O homem, ao ver aquilo, coçou a barba e começou a pensar consigo mesmo: “O que farei, pois não tenho onde armazenar meus frutos?”
Ele caminhou pelo campo, observando os montes de trigo e os barris de azeite, e seus olhos brilharam de satisfação. Então, erguendo os punhos, exclamou:
— Já sei! Derribarei os meus celeiros e construirei outros maiores, e ali guardarei todas as minhas colheitas e todos os meus bens. E direi à minha alma: “Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te.”
Os ouvintes assentiam, imaginando a cena. Quem não desejaria segurança e abundância? Mas Jesus, com uma voz que cortou como uma espada, continuou:
— Mas Deus lhe disse: “Insensato! Esta mesma noite te pedirão a tua alma; e o que preparaste, para quem será?”
Um arrepio percorreu a multidão. O homem rico havia planejado tudo, exceto o inevitável: a morte. Ele acumulara riquezas para si mesmo, mas era pobre diante de Deus.
Jesus então olhou para Seus discípulos, Seus olhos cheios de compaixão e urgência:
— Assim é aquele que para si ajunta tesouros e não é rico para com Deus.
**A Exortação à Confiança no Pai Celestial**
O sol começava a se inclinar no horizonte, tingindo o céu de tons dourados e púrpura, quando Jesus, percebendo a ansiedade nos rostos daqueles que O ouviam, continuou:
— Portanto, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. A vida é mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes.
Ele apontou para os campos ao redor, onde os lírios cresciam em meio ao mato, suas pétalas mais belas que as vestes do próprio rei Salomão.
— Observai os lírios, como crescem: não trabalham, nem fiam. Contudo, vos digo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pequena fé?
Os discípulos trocaram olhares, sentindo o peso das palavras. Jesus prosseguiu, Sua voz suave como o vento que acariciava os campos:
— Não busqueis, pois, o que haveis de comer ou beber, e não andeis preocupados. Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; mas vosso Pai sabe que necessitais delas. Buscai antes o seu reino, e estas coisas vos serão acrescentadas.
**A Chamada à Vigilância e Fidelidade**
Enquanto a noite começava a cair e as primeiras estrelas cintilavam no céu, Jesus concluiu Seu ensino com uma advertência solene:
— Estejam prontos, cingidos os vossos lombos e acesas as vossas candeias. Sede como homens que esperam seu senhor voltar das bodas, para que, quando ele chegar e bater, logo possam abrir-lhe. Bem-aventurados aqueles servos a quem o senhor, quando vier, os encontre vigilantes.
Pedro, sempre impulsivo, perguntou:
— Senhor, dizes esta parábola para nós ou para todos?
Jesus sorriu levemente e respondeu:
— Quem é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor confiará os seus conservos, para lhes dar a medida de trigo a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando vier, achar fazendo assim. Mas se aquele servo disser em seu coração: “Meu senhor tarda em vir”, e começar a espancar os criados e as criadas, a comer, a beber e a embriagar-se, virá o senhor daquele servo no dia em que não o espera e numa hora que não sabe, e cortá-lo-á ao meio e o colocará com os infiéis.
Um silêncio pesado pairou sobre todos. As palavras de Jesus eram claras: a fidelidade e a vigilância eram essenciais, pois ninguém sabia o dia nem a hora.
**Conclusão: O Chamado à Prioridade Celestial**
Ao final, Jesus olhou para cada um ali presente, Seus olhos refletindo o amor e a urgência do céu.
— A quem muito foi dado, muito se lhe requererá; e a quem muito foi confiado, muito mais se lhe pedirá.
E assim, sob o manto estrelado da noite galileia, a multidão se dispersou, alguns refletindo sobre suas prioridades, outros ainda perplexos com as palavras do Mestre. Mas uma coisa era certa: aquele dia, Jesus havia plantado no coração de cada um a semente de um questionamento eterno: *Onde está o teu tesouro?*
E enquanto as luzes das casas começavam a brilhar nas colinas, os corações daqueles que O ouviam ardiam com uma verdade inegável: só em Deus a alma encontra descanso verdadeiro.