**A Multiplicação que Revelou o Cristo**
Era uma tarde quente na região de Betsaida, onde os ventos do Mar da Galileia traziam um alívio passageiro aos peregrinos que seguiam Jesus. A fama do Mestre já se espalhara por toda a Galileia e além, e multidões vinham não apenas para ouvir suas palavras, mas na esperança de um toque, um milagre, um vislumbre do Reino que Ele anunciava.
Naquele dia, enquanto o sol começava a declinar, Jesus estava assentado em uma colina baixa, cercado por seus discípulos. Seus olhos percorriam a multidão—homens, mulheres, crianças, rostos marcados pela fome não apenas espiritual, mas física. A compaixão transbordou em seu coração, como um rio que não pode ser contido.
Virando-se para Filipe, um de seus discípulos mais ponderados, Jesus perguntou:
—Onde compraremos pão para que todos estes possam comer?
Filipe, calculador por natureza, olhou para a multidão e depois para os bolsos vazios do grupo.
—Mestre, nem duzentos denários de pão bastariam para que cada um recebesse um pedaço!
André, irmão de Pedro, interveio com um tom de hesitação:
—Aqui há um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos… mas o que é isto para tanta gente?
Jesus sorriu, não com desdém, mas com a tranquilidade de quem conhece o poder do Pai.
—Trazei-os a mim.
O menino, um jovem de rosto queimado pelo sol, aproximou-se com seus pães envoltos em um pano simples e os peixes, pequenos, secos, mas tudo o que ele tinha para sua própria jornada. Sem hesitar, entregou-os nas mãos de Jesus.
Então, o Mestre ergueu os olhos aos céus, e todos viram sua boca mover-se em oração silenciosa. O vento parou por um instante, como se a criação toda aguardasse o que viria. Em seguida, Jesus partiu os pães e os peixes, e os entregou aos discípulos para distribuírem.
E então, o impossível aconteceu.
As mãos dos discípulos, que antes estavam vazias, agora não conseguiam esgotar o alimento. Cada vez que um pedaço era dado, outro surgia. Os cestos que deveriam estar se esvaziando permaneciam cheios. Mulheres choravam ao receberem o pão, crianças riam ao segurar os peixes, e homens fortes, acostumados ao trabalho duro, ficaram maravilhados diante da provisão divina.
Ninguém foi esquecido. Ninguém ficou com fome.
Quando todos estavam saciados, Jesus ordenou que recolhessem os pedaços que sobraram, para que nada se perdesse. Doze cestos foram enchidos—um para cada tribo de Israel, um símbolo de que o Deus que sustentara seus pais no deserto ainda era o mesmo.
A multidão, extasiada, começou a murmurar:
—Verdadeiramente, este é o Profeta que havia de vir ao mundo!
Mas Jesus, conhecendo os corações humanos, percebeu que queriam proclamá-lo rei à força, não pelo que Ele era, mas pelo que podiam ganhar. Então, retirou-se sozinho para o monte para orar, deixando os discípulos a refletirem sobre o milagre que testemunharam.
Mais tarde, na privacidade do barco enquanto atravessavam o mar, os discípulos sussurravam entre si, tentando entender o que havia acontecido. Pedro, sempre impulsivo, finalmente perguntou:
—Mestre, o que significa tudo isso?
Jesus olhou para ele com profundidade e respondeu:
—Não foi apenas o pão que vos saciou hoje. Eu sou o Pão da Vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome, e o que crê em mim nunca terá sede.
E assim, naquele dia, não apenas estômagos foram preenchidos, mas corações foram desafiados a crer em algo maior—não apenas no milagre, mas no Milagreiro. Porque aquele que multiplica pães também pode multiplicar fé, esperança e, acima de tudo, revelar-se como o Cristo, o Filho do Deus vivo.