**O Profeta e o Cordeiro: A Visão de Amós**
Era uma manhã fresca nas colinas de Tecoa, onde o ar carregava o perfume da terra molhada pelo orvalho. Amós, um simples pastor de ovelhas e cultivador de sicômoros, sentiu o peso do Espírito do Senhor sobre ele mais uma vez. Seu coração ardia com uma mensagem que não podia calar, mesmo sabendo que suas palavras seriam como fogo em meio à seca para os ouvidos de Israel.
Enquanto caminhava pelos campos, olhando para o rebanho que pastava tranquilamente, uma visão se abriu diante dele. O céu parecia rasgar-se, e Amós viu o Senhor em pé, segurando um prumo na mão. Ao lado dEle, erguia-se um muro alto e imponente, símbolo do reino de Israel. O prumo, instrumento de medida e retidão, contrastava com a inclinação do muro, que já não estava firme, mas torto, prestes a desmoronar.
— *Amós, o que você vê?* — perguntou o Senhor.
— *Um prumo, Senhor* — respondeu o profeta, sentindo um frio percorrer sua espinha.
— *Eis que eu colocarei um prumo no meio do meu povo Israel* — declarou o Senhor, Sua voz como o trovão que precede a tempestade. — *Não passarei por ele mais uma vez. Os altos de Isaque serão destruídos, e os santuários de Israel ficarão em ruínas. E com a espada me levantarei contra a casa de Jeroboão.*
Amós sentiu o coração apertar. Sabia que o julgamento era iminente. Israel havia se desviado, adorando falsos deuses, oprimindo os pobres e vivendo em luxúria enquanto a justiça era pisada. Mas, mesmo assim, uma parte dele clamava por misericórdia.
Antes que pudesse responder, outra visão se formou diante de seus olhos. Desta vez, o Senhor estava de pé ao lado de um altar, e uma praga de gafanhotos avançava sobre os campos verdes de Israel, devorando tudo em seu caminho. Os insetos rugiam como um exército em marcha, deixando para trás apenas terra arrasada.
— *Senhor, perdoa!* — gritou Amós, caindo de joelhos. — *Como Jacó poderá sobreviver? Ele é tão pequeno!*
O Senhor ouviu seu clamor. — *Isso não acontecerá* — respondeu, suspendo a praga.
Mas logo uma terceira visão surgiu, mais terrível que as anteriores. O próprio Senhor estava de pé com uma espada flamejante, e um fogo consumia o mar e aterra, devorando as plantações, as cidades e até as profundezas do abismo. Amós, tomado de angústia, suplicou novamente:
— *Senhor, cessa, eu te imploro! Como subsistirá Jacó, tão fraco e pequeno?*
Mais uma vez, o Senhor reteve Sua mão. — *Isso também não acontecerá* — disse, mas Sua voz já não trazia alívio, e sim um aviso solene.
Amós sabia que a paciência de Deus tinha limites. O povo não se arrependera, e o juízo era inevitável.
**O Confronto em Betel**
Fortificado pelo Espírito, Amós seguiu para Betel, onde o santuário real de Israel estava corrompido pela idolatria. Lá, ele ergueu sua voz no pátio do templo, denunciando os pecados do povo e anunciando o cativeiro que viria.
Foi então que Amazias, o sacerdote de Betel, furioso, enviou uma mensagem ao rei Jeroboão: — *Amós conspira contra ti no meio da casa de Israel! A terra não suportará suas palavras.*
Em seguida, confrontou o profeta diretamente: — *Vidente, vai-te! Foge para a terra de Judá e profetiza lá, mas em Betel não profetizarás mais, porque é santuário do rei e capital do reino.*
Amós, porém, não se intimidou. Fitou Amazias com olhar firme e respondeu: — *Eu não sou profeta nem filho de profeta, mas boieiro e cultivador de sicômoros. O Senhor me tirou do rebanho e me disse: ‘Vai e profetiza ao meu povo Israel.’*
E então, com voz que ecoou como um trovão, declarou o juízo sobre Amazias: — *Tu dizes: ‘Não profetizes contra Israel’? Portanto, assim diz o Senhor: ‘Tua mulher se prostituirá na cidade, teus filhos e filhas cairão à espada, tua terra será repartida a outros, e tu morrerás em terra impura, pois Israel certamente irá para o exílio.’*
E assim, a palavra do Senhor, dada a Amós, cumpriu-se. Israel não se arrependeu, e o juízo veio como uma inundação irresistível. Mas mesmo em meio à destruição, a misericórdia do Senhor ainda ressoava, pois Ele nunca deixou de chamar Seu povo de volta a Ele.
E Amós, o humilde pastor, tornou-se voz de Deus em tempos sombrios, lembrando a todos que o Senhor julga, mas também restaura—se apenas O buscarem de todo o coração.