**A Visão de Ezequiel: O Julgamento de Jerusalém**
O profeta Ezequiel estava assentado em sua casa, junto aos anciãos de Judá, quando a mão do Senhor veio sobre ele novamente. O ar pesava como chumbo, carregado com o cheiro de incenso e a tensão silenciosa dos homens que ali estavam, esperando por uma palavra do céu. De repente, diante dos seus olhos, o cenário se dissolveu, e ele foi transportado em espírito para o templo do Senhor em Jerusalém.
O santuário, outrora resplandecente de glória, agora estava maculado. Os ídolos pagãos haviam sido erguidos até mesmo no pátio interior, e as paredes estavam cobertas de imagens de répteis e animais imundos, gravadas com mãos ímpias. O cheiro de incenso estranho subia aos céus, misturado com o fedor de sacrifícios profanos. Ezequiel sentiu o coração apertar-se, pois sabia que a presença de Deus não poderia habitar ali enquanto tais abominações persistissem.
Então, eis que ouviu uma voz poderosa, como o estrondo de muitas águas, clamando: **”Aproximem-se, ó executores da cidade, cada um com sua arma destruidora na mão!”**
Ezequiel ergueu os olhos e viu seis homens avançando do lado norte, vindo em direção ao templo. Eles vestiam túnicas de linho branco, reluzentes como a neve no monte Hermom, e em seus cintos estavam presas armas afiadas, prontas para o juízo. Entre eles, havia um sétimo homem, vestido de forma ainda mais gloriosa, com um tinteiro de escriba pendurado ao lado. Era um anjo, enviado para marcar os fiéis antes que a destruição começasse.
A glória do Deus de Israel, que antes repousava sobre os querubins, elevou-se lentamente do Santo dos Santos e pousou sobre o limiar do templo. O brilho era tão intenso que Ezequiel teve de baixar os olhos por um instante. Então, o Senhor chamou o homem vestido de linho, com o tinteiro, e ordenou-lhe:
**”Percorre a cidade, passa pelo meio de Jerusalém e marca com um sinal a testa dos homens que suspiram e gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela.”**
O anjo obedeceu imediatamente, movendo-se como um vento divino entre as ruas estreitas de Jerusalém. Ele entrava nas casas, passava pelos mercados, examinava os corações. Aqueles que ainda clamavam pelo Senhor, que choravam em segredo pela idolatria da nação, recebiam o sinal na testa—uma marca invisível aos olhos humanos, mas que brilhava como fogo diante dos anjos destruidores.
Enquanto isso, os outros seis esperavam, imóveis, suas espadas reluzentes à espera da ordem final.
E então, a voz do Senhor trovejou novamente:
**”Passai pela cidade após ele e feri; não poupe o vosso olho, nem vos compadeçais. Matai velhos, jovens, virgens, crianças e mulheres, até exterminá-los. Mas não toqueis em nenhum daqueles que têm o sinal.”**
Os seis executores avançaram como um vendaval de morte. Suas espadas cortavam o ar com um som agudo, e o chão logo se encheu de corpos. Não havia distinção—homens que antes sacrificavam a Baal caíam ao lado de mulheres que dançavam em cultos pagãos. Crianças que haviam sido consagradas a Moloque eram atingidas pelo mesmo juízo. O sangue escorria pelas ruas de Jerusalém como um rio vermelho, chegando até os cascos dos cavalos.
Ezequiel, em sua visão, gritou de angústia: **”Ah, Senhor Deus! Vais exterminar todo o resto de Israel, derramando o teu furor sobre Jerusalém?”**
Mas o Senhor respondeu: **”A iniquidade da casa de Israel e de Judá é grande em extremo; a terra está cheia de sangue, e a cidade, de injustiça. Pois dizem: ‘O Senhor abandonou a terra, o Senhor não vê’. Por isso, o meu olho não poupará, nem terei piedade. Farei recair o seu caminho sobre a sua cabeça.”**
Enquanto a matança prosseguia, o homem vestido de linho retornou e declarou: **”Fiz como me ordenaste.”**
E então, a visão se encerrou.
Ezequiel caiu de joelhos, o coração pesado. Ele compreendia agora: o juízo era inevitável, mas o Senhor ainda preservaria um remanescente—aqueles que, mesmo em meio à corrupção, ainda clamavam por Ele. A misericórdia divina não se extinguia, mas a justiça precisava ser satisfeita.
E assim, o profeta levantou-se, sabendo que sua missão era anunciar tanto a condenação quanto a esperança—pois o mesmo Deus que destruía também prometia um dia restaurar.