**O PROFUNDO CHAMADO DO ABISMO: UMA HISTÓRIA BASEADA NO SALMO 130**

No coração da antiga Jerusalém, sob um céu noturno salpicado de estrelas, um homem chamado Eliabe jazia prostrado no chão de seu pequeno aposento. Seu rosto estava molhado de lágrimas, e suas mãos, calejadas pelo trabalho diário como oleiro, tremiam enquanto se agarravam às vestes rasgadas em sinal de luto. Há semanas, ele carregava um fardo insuportável—um pecado que o consumia como fogo devorador.

Eliabe havia traído seu irmão mais novo, enganando-o numa transação de terras, deixando-o na miséria. Agora, a culpa o arrastava para as profundezas de um abismo espiritual, como as águas escuras do mar que engolem um homem sem piedade. Ele se via como o salmista do Salmo 130: *”Das profundezas clamo a ti, Senhor!”* Sua alma gritava por um socorro que suas próprias forças não podiam alcançar.

Naquela noite, enquanto a lua prateada banhava as ruas de pedra da cidade, Eliabe decidiu buscar o único refúgio que lhe restava: o Templo do Senhor. Com passos vacilantes, ele atravessou os portões da cidade, subindo a colina onde o santuário se erguia majestoso. O cheiro do incenso queimando no altar penetrou suas narinas, e o som dos levitas cantando salmos ecoou em seus ouvidos como um chamado celestial.

Ajoelhando-se no pátio exterior, Eliabe cobriu o rosto com as mãos e derramou sua alma diante de Deus.

— *”Senhor, se considerares as iniquidades, quem, ó Senhor, subsistirá?”* Sua voz era um sussurro rouco, mas carregado de dor.

Enquanto orava, um sacerdote idoso, chamado Azarias, aproximou-se dele. Seus olhos, marcados pelas décadas de serviço no templo, brilhavam com uma sabedoria serena.

— Filho, por que choras? — perguntou Azarias, colocando uma mão gentil sobre seu ombro.

Eliabe, sem conseguir conter a angústia, confessou seu pecado em voz trêmula.

— Eu pequei gravemente contra meu irmão e contra o Senhor. Sinto que estou perdido nas profundezas, sem esperança.

Azarias fechou os olhos por um momento, como se buscasse as palavras certas no silêncio sagrado. Então, com voz firme, recitou as palavras do Salmo 130:

— *”Mas contigo está o perdão, para que sejas temido. No Senhor há misericórdia, e nele há plena redenção.”*

O sacerdote então contou a história de um rei outrora perdido em pecado—Davi, que após cair em adultério e assassinato, clamou das profundezas e foi levantado pela graça de Deus.

— O Senhor não te rejeita pelo teu pecado, Eliabe, mas te chama para o arrependimento. Sua misericórdia é mais alta que os céus e mais profunda que o abismo que te cerca.

Naquele momento, uma paz desconhecida invadiu o coração de Eliabe. Ele sentiu, como o salmista, que sua alma esperava no Senhor *”mais que os guardas esperam pela manhã.”*

Ao amanhecer, com o primeiro raio de sol dourado iluminando as paredes do templo, Eliabe levantou-se renovado. Correu até a casa de seu irmão e, diante dele, confessou sua fraude, devolvendo-lhe as terras e mais ainda como reparação. Seu irmão, embora inicialmente hesitante, viu a sinceridade em seus olhos e o perdoou.

Daquele dia em diante, Eliabe tornou-se um homem transformado. Ele não apenas restituiu o que havia roubado, mas passou a viver como testemunha da misericórdia divina. Em suas orações, ele sempre lembrava as palavras finais do Salmo 130:

— *”Ele redimirá Israel de todas as suas iniquidades.”*

E assim, das profundezas do desespero, Eliabe foi erguido pela mão poderosa de Deus, aprendendo que nenhum abismo é tão fundo que o amor do Senhor não possa alcançar.