**O Servo Fiel e os Mistérios do Reino**

Na cidade de Corinto, onde o mar Egeu beijava o porto e o comércio fervilhava entre ruas de pedra, a igreja fundada pelo apóstolo Paulo enfrentava divisões e orgulho. Alguns se vangloriavam de seguir este ou aquele líder, como se o Evangelho fosse motivo de disputa humana. Foi então que Paulo, inspirado pelo Espírito, escreveu uma carta poderosa, e no capítulo quatro, suas palavras ecoaram como um chamado à humildade e à fidelidade.

**Os Mordomos dos Mistérios**

Paulo começou lembrando aos coríntios que ele e os outros apóstolos não eram senhores da fé, mas *mordomos* dos mistérios de Deus. Ele pintou com palavras a imagem de um servo fiel, cuja maior virtude não era a eloquência ou o reconhecimento, mas a fidelidade. “O que se requer dos despenseiros é que cada um seja encontrado fiel”, escreveu, com a tinta ainda fresca no pergaminho.

Enquanto os coríntios se gabavam de sua sabedoria e se dividiam em facções, Paulo os confrontou com uma verdade dura: nenhum deles possuía coisa alguma que não tivesse recebido. Se tinham conhecimento, era dom de Deus. Se tinham dons espirituais, era pela graça. Até mesmo a vida que respiravam era um presente do Criador.

**O Julgamento que Importa**

Paulo prosseguiu com um aviso solene: não importava o que os coríntios pensassem dele, ou mesmo o que ele pensasse de si mesmo. “Nem eu mesmo me julgo”, declarou. O verdadeiro juízo viria do Senhor, Aquele que traria à luz as coisas ocultas das trevas e manifestaria os propósitos dos corações.

Ele descreveu o Dia do Juízo, quando cada servo de Cristo seria avaliado não por suas riquezas ou sucesso, mas por sua obediência. Alguns, que agora eram aplaudidos pelos homens, talvez vissem suas obras consumidas como palha no fogo. Outros, humilhados e perseguidos, seriam exaltados pela justiça divina.

**A Fraqueza que Revela a Força de Cristo**

Num tom profundamente pessoal, Paulo contrastou a arrogância dos coríntios com a realidade dos apóstolos. Enquanto eles se consideravam reis, os verdadeiros servos de Cristo eram “espetáculo ao mundo”, homens condenados à morte, tolos por amor a Cristo.

Ele descreveu sua própria jornada: fome, sede, trapos, perseguição, trabalho árduo com as próprias mãos. “Somos considerados como o lixo do mundo, a escória de todos”, escreveu, não com autopiedade, mas como um lembrete de que o Reino de Deus não se assemelha à glória terrena. A verdadeira força se manifestava na fraqueza, pois quando Paulo era fraco, então era forte na graça de Cristo.

**Um Pai em Cristo**

No final do capítulo, as palavras de Paulo se tornaram ternas, mas firmes. Ele não escrevia para envergonhá-los, mas para adverti-los como filhos amados. “Porque, ainda que vocês tenham dez mil mestres em Cristo, não têm muitos pais”, disse. Ele os havia gerado em Cristo através do Evangelho e, por isso, os exortava a imitá-lo, não em sua sabedoria humana, mas em seu sofrimento e renúncia pelo Reino.

E então, com o coração aberto, Paulo anunciou que logo iria visitá-los. Não com palavras persuasivas de sabedoria humana, mas com poder do Espírito. Pois o Reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder.

**O Chamado Final**

A carta chegou às mãos dos coríntios, e aquelas palavras ecoaram como um trovão em seus corações. Alguns se humilharam, lembrando-se de que eram pó, e que toda a glória pertencia a Deus. Outros resistiram, ainda apegados à sua sabedoria mundana. Mas para os que tinham ouvidos espirituais, a mensagem estava clara: ser servo de Cristo não era sobre honra humana, mas sobre fidelidade até o fim.

E assim, a lição de 1 Coríntios 4 permaneceu: os verdadeiros heróis da fé não são os que brilham aos olhos do mundo, mas os que, nas sombras, guardam os mistérios de Deus com mãos fiéis, aguardando o único juízo que importa—aquele que virá do Senhor, o Justo Juiz.