**A Chama que Não se Apaga: A Revelação no Monte Horebe**
O sol escaldante do deserto de Midiã ardia implacavelmente sobre as vastidões áridas, onde apenas alguns arbustos resistentes pontilhavam a paisagem. Moisés, agora um pastor de ovelhas sob os cuidados de Jetro, seu sogro, conduzia o rebanho pelas encostas do monte Horebe. Seus pés, calejados pela longa caminhada, pisavam sobre a terra ressecada, enquanto seu coração carregava o peso de décadas de exílio.
Antes, ele havia sido príncipe do Egito, criado nos esplendores do palácio de Faraó. Mas um ato de fúria e justiça mal calculado o levara a fugir, tornando-se um estrangeiro em terra estranha. Agora, aos oitenta anos, Moisés já não alimentava grandes sonhos. Sua vida se resumia ao silêncio do deserto e ao balido das ovelhas.
Foi então que algo extraordinário aconteceu.
À frente, no alto do monte, uma labareda de fogo chamou sua atenção. Não era um incêndio comum, pois as chamas dançavam em meio a um arbusto, mas, por mais que queimassem, as folhas permaneciam intactas, verdes e vivas. Moisés franziu a testa, esfregou os olhos. “Que visão estranha!”, pensou. “Por que o arbusto não se consome?”
Movido por uma curiosidade irresistível, ele se aproximou, desviando o rebanho para um local seguro. Enquanto subia, o ar parecia mais denso, carregado de uma presença que fazia sua pele arrepiar. Quando chegou perto, uma voz ecoou do meio das chamas:
**”Moisés, Moisés!”**
Ele estremeceu. Aquela voz não era humana—era profunda, poderosa, como o trovão, mas ao mesmo tempo íntima, como um sussurro conhecido. Sem pensar, respondeu:
**”Eis-me aqui.”**
A voz continuou: **”Não te aproximes mais. Tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que estás é terra santa.”**
Imediatamente, Moisés obedeceu, descalçando-se com mãos trêmulas. A areia sob seus pés agora parecia diferente—sagrada, separada. Ele cobriu o rosto, pois temia olhar diretamente para a glória que se manifestava.
Então, a voz se identificou:
**”Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó.”**
Ao ouvir essas palavras, Moisés se prostrou por terra, tomado por um temor reverente. Aquele era o mesmo Deus que havia guiado seus antepassados, o mesmo que fizera promessas a Abraão séculos atrás. E agora, Ele estava ali, falando com ele, um fugitivo, um pastor esquecido.
O Senhor continuou: **”Certamente vi a aflição do meu povo que está no Egito e ouvi o seu clamor por causa dos seus opressores, porque conheço os seus sofrimentos. Por isso desci para livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir desta terra para uma terra boa e espaçosa, terra que mana leite e mel.”**
Moisés sentiu um nó na garganta. O povo hebreu ainda sofria sob o jugo de Faraó, e Deus não se esquecera deles. Mas então, veio a surpresa maior:
**”Vem agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito.”**
Moisés ficou paralisado. Ele? Um homem marcado pela fuga, pela culpa? Como poderia voltar ao Egito, enfrentar Faraó, liderar um povo inteiro? Aos oitenta anos, ele já não se via como instrumento de grandes feitos.
**”Quem sou eu para ir a Faraó e tirar os israelitas do Egito?”**, perguntou, sua voz quase um sussurro.
A resposta divina foi imediata e poderosa:
**”Certamente eu serei contigo. E isto te será por sinal de que eu te enviei: Quando houveres tirado o povo do Egito, servireis a Deus neste monte.”**
Moisés ainda hesitava. E se o povo não acreditasse nele? E se perguntassem: “Qual é o nome dAquele que te enviou?”
Então, Deus revelou o Seu nome sagrado, a essência do Seu ser:
**”EU SOU O QUE SOU. Dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós.”**
Aquele nome—**Yahweh**—era mais que um título; era uma promessa de presença eterna, de fidelidade inabalável. O mesmo Deus que criara os céus e a terra, que fizera aliança com Abraão, agora se revelava a Moisés como o “Eu Sou”, Aquele que sempre existe, que nunca falha.
Comissionado, mas ainda temeroso, Moisés recebeu instruções detalhadas: deveria reunir os anciãos de Israel, anunciar a libertação e, depois, confrontar Faraó. Deus não ignorava a resistência do rei egípcio, mas prometeu agir com mão poderosa, até que Israel fosse liberto.
E, como garantia final, o Senhor declarou:
**”Eu sei que o rei do Egito não vos deixará ir, a não ser por uma forte mão. Portanto, estenderei a minha mão e ferirei o Egito com todos os meus prodígios que farei no meio dele. Depois vos deixará ir.”**
A sarça continuava a arder, sem se consumir, símbolo da presença divina que nunca se esgota. Moisés, agora transformado pelaquele encontro, saiu dali não mais como um simples pastor, mas como o libertador escolhido por Deus.
O caminho à frente seria difícil, mas uma certeza o sustentaria: **”Eu serei contigo.”**
Era o suficiente.