**A Serpente de Bronze e a Fidelidade de Deus**

No vasto deserto de Arnom, onde o sol incandescente queimava a areia e o vento cortante assobiavam entre as rochas, o povo de Israel caminhava com passos pesados. Após longos anos de peregrinação desde o Egito, o cansaço e a impaciência começaram a corroer seus corações. Moisés, o homem escolhido por Deus para guiá-los, sentia o peso da liderança sobre seus ombros enquanto ouvia os murmúrios que se espalhavam como fogo em meio ao acampamento.

— *Por que nos tirastes do Egito para morrermos neste deserto?* — clamavam alguns, seus rostos marcados pela fome e sede. — *Não há pão, não há água, e nossa alma já se enfastiou deste miserável maná!*

As palavras eram como flechas envenenadas, atingindo não apenas Moisés, mas o próprio coração de Deus. O Senhor, que os sustentara com milagres, que abrira o Mar Vermelho e fizera descer pão do céu, viu a ingratidão do povo e permitiu que serpentes abrasadoras invadissem o acampamento.

Eram criaturas terríveis, de escamas reluzentes e presas afiadas, cujo veneno queimava como fogo nas veias de quem fosse mordido. Em pouco tempo, os gritos dos aflitos ecoavam por todas as tendas. Homens, mulheres e crianças caíam ao chão, seus corpos contorcidos de dor, enquanto a morte se espalhava como uma sombra sobre Israel.

O povo, então, reconheceu seu pecado e correu até Moisés, suplicando:

— *Pecamos contra o Senhor e contra ti! Ora ao Senhor para que tire de nós estas serpentes!*

Moisés, homem de profunda compaixão, intercedeu por eles. E o Senhor, em Sua misericórdia, deu-lhe uma ordem singular:

— *Faze uma serpente abrasadora e põe-na sobre uma haste. Todo aquele que for mordido e olhar para ela viverá.*

Sem questionar, Moisés obedeceu. Tomou bronze, moldou uma serpente semelhante às que assolavam o povo e a ergueu sobre um poste no meio do acampamento. Então, anunciou a todos:

— *Olhai para a serpente de bronze e vivei!*

Alguns, céticos, hesitaram. Outros, desesperados, ergueram os olhos na direção daquele símbolo estranho. E, milagrosamente, aqueles que olhavam com fé eram curados. O veneno perdia seu poder, a dor se dissipava, e a vida retornava aos seus corpos.

Entre os sobreviventes, havia um jovem chamado Eliabe, que havia sido mordido enquanto guardava seu rebanho. Seus lábios já estavam azulados, e sua respiração, fraca. Seu pai, Agar, carregou-o até a tenda onde Moisés estava e, chorando, suplicou:

— *Meu filho está morrendo! Ele precisa olhar para a serpente, mas não consegue levantar a cabeça!*

Moisés, então, inclinou-se e segurou o rosto do jovem, direcionando seus olhos para o bronze reluzente sob o sol do deserto.

— *Olha, meu filho, e vive!*

Eliabe fixou seus olhos na serpente erguida, e, como um sopro divino, o veneno recuou. Sua pele, antes pálida, recuperou a cor, e ele respirou aliviado. Agar caiu de joelhos, louvando a Deus por Sua misericórdia.

A notícia se espalhou, e logo centenas de pessoas se reuniam ao redor da haste, olhando para o símbolo que Deus providenciara. Não era a serpente em si que os curava, mas a obediência à palavra do Senhor e a fé em Sua promessa.

Anos mais tarde, quando Israel finalmente atravessou o Jordão e entrou na Terra Prometida, a serpente de bronze foi guardada como um memorial da fidelidade de Deus. Mesmo quando o povo se esquecia e se voltava para a idolatria, aquele objeto lembrava que a salvação vem do Senhor—não por obras ou méritos humanos, mas pela graça e pela fé.

E assim, no deserto árido onde a morte parecia triunfar, Deus revelou uma verdade eterna: o Seu amor sempre provê um caminho de redenção para aqueles que O buscam com coração humilde e arrependido.