Bíblia em Contos

Bíblia em Contos

Bíblia

A Persistência da Viúva e a Justiça de Deus

**A Parábola do Juiz Injusto e a Viúva Persistente**

Em uma pequena cidade escondida entre os montes da Judeia, havia um juiz que não temia a Deus, nem respeitava homem algum. Seu coração era duro como a pedra, e suas decisões eram guiadas pelo suborno e pela conveniência. Ele se assentava em um grande assento de madeira entalhada, vestindo um manto carmesim que mais parecia manchado pela corrupção do que pela justiça. O povo murmurava seu nome com desprezo, mas ninguém ousava confrontá-lo, pois ele tinha o poder de decidir o destino de qualquer um que cruzasse seu caminho.

Nessa mesma cidade, vivia uma viúva cujos olhos eram marcados pela dor, mas cuja determinação queimava como uma chama. Seu falecido marido havia deixado para ela uma pequena herança, mas um homem rico e influente a havia roubado, deixando-a sem sustento e sem esperança. Dia após dia, ela se arrastava até o tribunal, vestida com roupas gastas, seus pés empoeirados marcando o chão de terra batida.

— “Justiça, juiz! Faça valer o meu direito!” — ela clamava, erguendo suas mãos calejadas.

O juiz, entediado, ignorava-a. Seus olhos se fixavam em qualquer coisa que não fosse aquela mulher insignificante.

— “Não me importo com Deus nem com os homens,” — ele murmurava para si mesmo, ajustando seu manto com desdém.

Mas a viúva não desistia. Sempre que o sol nascia, lá estava ela, sua voz ecoando como um lembrete incômodo de que a injustiça não poderia triunfar para sempre. Mesmo quando os guardas do juiz a ameaçavam, mesmo quando os outros necessitados desistiam de suas causas, ela permanecia firme.

Os dias viraram semanas, e as semanas se arrastaram. Até que, um dia, o juiz, esgotado pela persistência daquela mulher, bateu o punho na mesa e resmungou:

— “Embora eu não tema a Deus nem respeite os homens, esta viúva está me importunando. Vou fazer-lhe justiça para que ela não venha me cansar com seus clamores intermináveis!”

E assim, relutantemente, ele deu a ordem para que sua causa fosse julgada, e o opressor foi obrigado a devolver o que havia roubado.

**A Lição da Persistência na Oração**

Mais tarde, Jesus contou essa história aos seus discípulos, sentado sob uma figueira enquanto o vento suave agitava as folhas ao redor. Seus olhos percorriam o grupo, fixando-se em cada rosto com intensidade.

— “Ouçam o que diz o juiz injusto!” — Ele começou, erguendo a voz para que todos ouvissem. — “E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a Ele dia e noite? Será que Ele os fará esperar? Eu lhes digo: Ele lhes fará justiça, e depressa!”

Os discípulos se entreolharam, ponderando suas palavras. Alguns baixaram a cabeça, lembrando-se das vezes em que haviam desistido de orar, achando que Deus não os ouvia.

— “Contudo,” — Jesus continuou, com um tom mais solene — “quando o Filho do Homem vier, encontrará fé na terra?”

O silêncio pairou sobre eles. A pergunta ecoou como um alerta. A fé não era apenas acreditar, mas persistir, confiar, clamar sem cessar—assim como aquela viúva que não se calou até ser ouvida.

**O Fariseu e o Publicano**

Na mesma ocasião, Jesus contou outra história, dirigindo-se especialmente àqueles que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros.

— “Dois homens subiram ao templo para orar,” — Ele começou, enquanto a multidão se aproximava para ouvir. — “Um era fariseu, e o outro, um publicano.”

O fariseu, vestido em trajes impecáveis, postou-se em um lugar de destaque no pátio do templo. Seus olhos percorriam os outros adoradores com um ar de superioridade. Erguendo as mãos, ele orou em voz alta:

— “Ó Deus, eu Te agradeço porque não sou como os outros homens—ladrões, injustos, adúlteros—nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto possuo.”

Enquanto isso, o publicano, um cobrador de impostos conhecido por sua desonestidade, permanecia à distância. Seus ombros curvados tremiam, e ele nem mesmo ousava levantar os olhos para o céu. Batendo no peito, ele murmurava, com lágrimas escorrendo pelo rosto:

— “Ó Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador!”

Jesus então fixou Seu olhar na multidão e declarou:

— “Eu lhes digo que este publicano, e não o fariseu, voltou para casa justificado diante de Deus. Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.”

**A Bênção das Crianças**

Enquanto Jesus falava, algumas mães se aproximaram, trazendo seus filhos pequenos para que Ele os abençoasse. Os discípulos, pensando que as crianças atrapalhariam, tentaram afastá-las.

Mas Jesus, vendo o que acontecia, chamou-os e disse com firmeza:

— “Deixem vir a mim as crianças, e não as impeçam, pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas. Em verdade vos digo: Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, de modo algum entrará nele.”

E então, com ternura, Ele colocou Suas mãos sobre cada pequena cabeça, abençoando-as uma por uma. Seus olhos brilhavam com amor, e as mães, emocionadas, sorriam através de lágrimas de gratidão.

**O Jovem Rico e o Perigo das Riquezas**

Logo depois, um homem jovem e rico, vestido com roupas finas, aproximou-se correndo e ajoelhou-se diante de Jesus.

— “Bom Mestre,” — ele perguntou, ansioso — “o que devo fazer para herdar a vida eterna?”

Jesus, conhecendo seu coração, respondeu:

— “Por que você me chama bom? Ninguém é bom, a não ser um, que é Deus. Você conhece os mandamentos: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe.”

O jovem, cheio de confiança, respondeu:

— “Tudo isso tenho guardado desde a minha juventude.”

Jesus olhou para ele com amor e disse:

— “Falta-lhe ainda uma coisa. Venda tudo o que você possui, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois, venha e siga-me.”

O rosto do jovem se escureceu. Ele possuía muitas terras, muitos bens. Levantou-se lentamente e, com o coração pesado, afastou-se triste, pois não estava disposto a abrir mão de sua riqueza.

Jesus então olhou para os discípulos e disse:

— “Como é difícil aos ricos entrar no Reino de Deus! É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus.”

Os discípulos, perplexos, perguntaram:

— “Então, quem pode ser salvo?”

Jesus respondeu:

— “O que é impossível para os homens é possível para Deus.”

**A Recompensa do Sacrifício**

Pedro, então, lembrou a Jesus:

— “Nós deixamos tudo para seguir-Te!”

Jesus sorriu e respondeu:

— “Em verdade vos digo: Ninguém que tenha deixado casa, mulher, irmãos, pais ou filhos por causa do Reino de Deus deixará de receber muitas vezes mais neste tempo e, no mundo vindouro, a vida eterna.”

E assim, com essas palavras, Ele os preparou mais uma vez para o caminho à frente—um caminho de fé, de humildade, e de persistência, pois o Reino de Deus não é para os que confiam em si mesmos, mas para os que clamam a Ele de coração sincero.

LEAVE A RESPONSE

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *