**O Julgamento dos Reis de Judá: Uma História Baseada em Jeremias 22**
No calor abrasador de um dia em Jerusalém, o profeta Jeremias subiu os degraus de pedra que levavam ao palácio real. O sol refletia nas muralhas da cidade, e o murmúrio do povo nas ruas misturava-se ao som distante do mercado. Mas o coração de Jeremias estava pesado, pois o Senhor lhe havia confiado uma mensagem severa para os reis de Judá.
O profeta atravessou os pátios adornados com colunas de cedro, passando por servos que sussurravam entre si. Ele sabia que os reis da linhagem de Davi haviam se desviado dos caminhos do Senhor, e agora o juízo divino estava às portas. Ao ser conduzido à presença do rei Jeoaquim, filho de Josias, Jeremias sentiu o peso da responsabilidade. O trono, esculpido em madeira fina e adornado com ouro, parecia um símbolo vazio de uma autoridade que já não temia a Deus.
Com voz firme, Jeremias declarou:
— Assim diz o Senhor: ‘Desce ao palácio do rei de Judá e anuncia esta palavra: Ouve a palavra do Senhor, ó rei de Judá, que te assentas no trono de Davi, tu, e teus servos, e o teu povo, que entrais por estas portas. Assim diz o Senhor: Praticai o juízo e a justiça, livrai o oprimido da mão do opressor, e não oprimais o estrangeiro, nem o órfão, nem a viúva; não derrameis sangue inocente neste lugar.’
O rei Jeoaquim, vestido em púrpura e linho fino, franziu a testa, mas Jeremias continuou, incansável:
— ‘Se cumprirdes fielmente estas palavras, então entrarão pelos portões desta casa os reis que se assentam no trono de Davi, montados em carros e cavalos, eles, e seus servos, e seu povo. Mas se não derdes ouvidos a estas palavras, por mim mesmo juro, diz o Senhor, que este palácio se tornará em ruínas.’
O silêncio pesou no salão. Os cortesãos trocaram olhares nervosos, mas o rei apenas sorriu com desdém.
— Quem és tu, profeta, para ameaçar a casa real? — zombou Jeoaquim, acariciando o braço de seu trono.
Jeremias, porém, não se intimidou.
— Assim diz o Senhor acerca de Jeoaquim, filho de Josias, rei de Judá: ‘Eles não o chorarão, dizendo: Ai, meu irmão! Ai, irmã! Não o lamentarão, dizendo: Ai, senhor! Ai, sua majestade! Será sepultado como se enterra um jumento, arrastado e lançado para fora dos portões de Jerusalém.’
O rosto do rei avermelhou-se de raiva, e ele ordenou que os guardas expulsassem Jeremias. Mas as palavras do profeta ecoaram pelos corredores do palácio como um trovão distante.
**A Queda de Salum (Jeoacaz)**
Jeremias não se deteve. Ele relembrou ao povo o destino de Salum, também chamado Jeoacaz, filho de Josias, que havia reinado antes de Jeoaquim.
— Este rei — bradou Jeremias nas praças — partiu para o Egito e nunca mais voltou. O Senhor declarou: ‘Não retornará a esta terra, mas morrerá no lugar para onde o levaram, e não verá mais esta terra.’
O povo se lembrava de como Salum havia sido levado cativo pelo Faraó Neco, cumprindo-se assim a palavra do Senhor.
**O Castigo Sobre Jerusalém**
À medida que Jeremias percorria as ruas de Jerusalém, sua voz ressoava como um alerta divino:
— Ai da cidade que edifica seu palácio com injustiça e seus aposentos altos com opressão! Que faz o seu próximo trabalhar sem pagamento, que não lhe dá o salário! Que pensa: ‘Construirei para mim um grande palácio, com amplas janelas, revestido de cedro e pintado de vermelho!’
O povo parava para ouvir, e alguns baixavam a cabeça, reconhecendo seus pecados.
— Acaso reinas porque competes em cedro? Teu pai não comeu e bebeu, e praticou o juízo e a justiça? Por isso tudo ia bem com ele. Mas teus olhos e teu coração não buscam senão ganância, e para derramar sangue inocente, e para opressão e violência.
**O Destino de Conias (Joaquim)**
Por fim, Jeremias voltou-se para o futuro do jovem Conias (também chamado Joaquim), filho de Jeoaquim.
— Vive o Senhor — declarou o profeta — que, ainda que Conias, filho de Jeoaquim, rei de Judá, fosse um anel de selar na minha mão direita, dali o arrancaria. Entregá-lo-ei nas mãos dos que buscam a sua vida, na mão de Nabucodonosor, rei da Babilônia, e na mão dos caldeus. Lançá-lo-ei, a ti e a tua mãe, para uma terra que não conhecestes, e ali morrereis.
O povo estremeceu, pois Jeremias continuou:
— Ó terra, terra, terra! Ouve a palavra do Senhor! Assim diz o Senhor: ‘Escreve que este homem está privado de filhos, homem que não prosperará nos seus dias; porque nenhum da sua descendência prosperará, para assentar-se no trono de Davi e reinar ainda em Judá.’
**O Chamado ao Arrependimento**
Apesar da severidade da mensagem, Jeremias ergueu as mãos e clamou:
— Voltai-vos, ó Judá, ao Senhor vosso Deus! Buscai a justiça, acolhei o estrangeiro, defendei o órfão e a viúva! Talvez ainda haja misericórdia para os que se humilham.
Mas muitos endureceram seus corações. E, anos depois, quando os exércitos babilônios sitiaram Jerusalém, as palavras de Jeremias cumpriram-se terrivelmente. O palácio foi incendiado, o templo destruído, e os filhos do rei foram mortos diante de seus olhos.
Assim, a justiça do Senhor manifestou-se, não por crueldade, mas como um chamado solene ao arrependimento. E mesmo em meio ao julgamento, a promessa de restauração futura brilhava como uma centelha de esperança—pois o Senhor nunca abandona para sempre os que se voltam para Ele.