**A Libertação e a Consagração: Uma Jornada de Fé**

O sol ainda não havia despontado no horizonte quando os israelitas começaram a se agitar no acampamento. A noite anterior tinha sido marcada por uma celebração solene, a primeira Páscoa, onde cada família, reunida em suas tendas, havia comido o cordeiro assado, acompanhado de pães ázimos e ervas amargas. O sangue do cordeiro, espargido nos umbrais das portas, fora o sinal que os livrara do anjo destruidor. Agora, após séculos de escravidão, o povo de Deus estava prestes a partir em direção à liberdade.

Moisés, já idoso mas com um vigor que só a presença do Senhor podia conceder, caminhava entre as tribos, dando as últimas instruções. Seus olhos, cheios de determinação, refletiam a chama da fé que o mantinha firme. Ao seu lado, Arão, seu irmão, ajudava a organizar as famílias. As mulheres carregavam trouxas com seus pertences, os homens guiavam os animais, e as crianças, ainda sonolentas, eram carregadas nos ombros ou envoltas em mantas.

— **”Lembrem-se deste dia!”** — Moisés bradou, erguendo seu cajado. — **”O Senhor nos tirou do Egito com mão forte. Por isso, consagraremos a Ele todo primogênito, seja de homem ou de animal, pois Ele nos poupou quando feriu os egípcios.”**

O povo murmurou em concordância, muitos com lágrimas nos olhos ao recordar a noite terrível em que os egípcios haviam perdido seus primogênitos. Agora, cada família israelita sabia que seus filhos pertenciam a Deus.

### **A Coluna de Fogo e a Nuvem**

Conforme avançavam, uma maravilha se manifestou diante deles. Durante o dia, uma densa nuvem pairou sobre o acampamento, protegendo-os do sol escaldante do deserto. À noite, a nuvem transformava-se em uma coluna de fogo, iluminando o caminho e aquecendo-os contra o frio cortante da madrugada. Era a presença visível do Senhor, guiando-os em cada passo.

— **”Ele nunca nos deixará”** — sussurrou uma mulher a seu filho pequeno, apontando para a luz celestial.

Moisés explicou ao povo que Deus os conduzia por um caminho mais longo, evitando a terra dos filisteus, para que não desanimassem diante de possíveis batalhas. O Senhor conhecia o coração do Seu povo e sabia que, diante da guerra, muitos poderiam desejar voltar para a escravidão.

### **Os Ossos de José**

Antes de partirem, Moisés havia cumprido uma promessa feita séculos antes. Ele ordenou que os ossos de José fossem retirados do Egito, conforme o patriarca havia exigido antes de morrer. José, cheio de fé, profetizara que um dia Deus libertaria Israel, e pedira que seus restos mortais fossem levados para a Terra Prometida. Agora, seus ossos eram carregados com reverência, um símbolo vivo da fidelidade de Deus às Suas promessas.

### **O Caminho do Deserto**

Os israelitas marchavam em ordem, tribo por tribo, seguindo a direção da nuvem. À medida que avançavam, o deserto se abria diante deles—areia dourada, dunas intermináveis, e o céu imenso acima. O vento assobiava entre as rochas, e o sol, quando não filtrado pela nuvem, queimava implacavelmente.

À noite, quando a coluna de fogo brilhava no escuro, as famílias se reuniam para contar as histórias de seus antepassados—Abraão, Isaque, Jacó—e como Deus lhes prometera uma terra própria. As crianças ouviam com olhos arregalados, imaginando o dia em que pisariam em Canaã.

### **A Instrução Divina**

Moisés reuniu os anciãos e repetiu as palavras do Senhor:

— **”Quando entrarem na terra que o Senhor jurou dar a vocês, terra que mana leite e mel, deverão celebrar esta cerimônia todos os anos. E quando seus filhos perguntarem: ‘O que significa isto?’, vocês responderão: ‘Foi o Senhor quem nos tirou do Egito com mão poderosa’.”**

Era um memorial perpétuo. A libertação não seria esquecida. Cada geração deveria saber que fora Deus quem os resgatara.

### **A Travessia em Fé**

Assim, o povo seguia, dia após dia, confiando naquele que nunca falhara. A jornada seria longa, cheia de provações, mas o mesmo Deus que os libertara com sinais e maravilhas continuaria a sustentá-los.

E enquanto a coluna de fogo brilhava na escuridão, Israel marchava—não apenas em direção a uma terra, mas em direção ao cumprimento de um propósito divino.

**E o Senhor ia adiante deles.**