Bíblia em Contos

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O Último Chamado de Paulo: Fidelidade Até o Fim

**O Último Chamado de Paulo: A Fidelidade Até o Fim**

O sol poente tingia as muralhas de Roma com tons dourados e avermelhados, lançando sombras alongadas sobre a cela úmida onde o apóstolo Paulo aguardava seu destino. Acorrentado como um criminoso, ele não perdia, porém, a serenidade no olhar. As marcas de suas viagens missionárias—cicatrizes de açoites, a pele curtida pelo sol, os joelhos calosos de tanto orar—contavam a história de uma vida entregue a Cristo.

Paulo sabia que seu tempo estava se esgotando. O imperador Nero, em sua crueldade, havia intensificado a perseguição aos cristãos, e o apóstolo, como um dos principais líderes da fé, não escaparia do martírio. Mesmo assim, seu coração ardia com uma urgência divina. Ele pegou um pergaminho e, com mãos trêmulas mas firmes na convicção, começou a escrever ao seu amado filho na fé, Timóteo.

**”Timóteo, meu filho…”**

As palavras fluíam como um rio de sabedoria e amor. Ele lembrava dos dias em que Timóteo, ainda jovem, o acompanhava pelas estradas poeirentas da Ásia Menor, aprendendo a pregar o Evangelho com coragem. Agora, diante da morte, Paulo não queria deixar nada por dizer.

**”Conjuro-te, pois, diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, pela sua vinda e pelo seu Reino: prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, repreende, admoesta, exorta com toda a longanimidade e doutrina.”**

Paulo fechou os olhos por um momento, imaginando as igrejas que havia plantado. Algumas floresciam, como a de Filipos, onde irmãos fiéis ainda se reuniam. Outras, porém, sofriam com falsos mestres que distorciam a verdade. Ele sentia o peso da responsabilidade.

**”Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.”**

Um calafrio percorreu sua espinha. Ele já via isso acontecer—homens que preferiam palavras agradáveis aos ouvidos em vez da verdade que transforma. Mas Timóteo não podia ceder. A mensagem da cruz não era negociável.

Paulo olhou para os cantos da cela, onde alguns rolos de pergaminhos estavam guardados. Eram seus tesouros—as Escrituras que o sustentavam. Ele escreveu:

**”Tu, porém, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre o teu ministério.”**

Sua pena parou por um instante. Ele pensou em todos que o abandonaram quando a perseguição apertou. Demas, amante do mundo presente, havia partido para Tessalônica. Crescente foi para a Galácia, Tito para a Dalmácia. Só Lucas, o médico amado, permanecia fiel, visitando-o na prisão e trazendo-lhe conforto.

Mas Paulo não guardava rancor. Com um suspiro, continuou:

**”Ninguém me assistiu na minha primeira defesa; antes, todos me desampararam. Que isto não lhes seja imputado. Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de forças, para que, por meu intermédio, a pregação fosse plenamente cumprida, e todos os gentios a ouvissem; e fui libertado da boca do leão.”**

Ele sorriu levemente ao lembrar como Deus o livrara tantas vezes—dos naufrágios, dos açoites, das conspirações. Mas agora, ele sabia que o fim estava próximo.

**”O Senhor me livrará de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém!”**

Paulo encerrou a carta com saudações pessoais, lembrando Timóteo de trazer sua capa—aquele velho agasalho que o protegera nas noites frias de Listra. Ele também pediu os pergaminhos, especialmente os do Antigo Testamento, que tanto amava.

Ao dobrar o pergaminho e selá-lo, Paulo sentiu uma paz profunda. Sua corrida estava terminando, mas a fé que ele pregara continuaria. Ele não tinha dúvidas: Timóteo, assim como outros discípulos fiéis, manteria a chama acesa.

Fora da cela, os passos dos guardas romanos ecoavam no corredor. Logo viriam buscá-lo para o julgamento final. Paulo ajoelhou-se no chão frio, ergueu as mãos acorrentadas e orou:

**”Senhor, entrego meu espírito em tuas mãos. A ti, seja a honra para sempre!”**

E assim, com a certeza da coroa da justiça que o Senhor, o justo Juiz, lhe reservara, Paulo aguardou seu último combate—não com medo, mas com a convicção de que, mesmo na morte, a vitória já estava ganha.

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