**A Lição do Amor e da Verdade**
No calor abrasador de Jerusalém, Jesus caminhava pelo templo, Seus olhos contemplando a movimentação frenética dos cambistas, o murmúrio das orações e os olhares curiosos daqueles que O observavam. Ele já havia expulsado os vendilhões dias antes, mas o templo ainda fervilhava com tensão. Os líderes religiosos — fariseus, herodianos e saduceus — O observavam de longe, tramando em seus corações como pegá-Lo em alguma contradição.
Foi então que um grupo de fariseus e herodianos se aproximou, fingindo reverência. Entre eles estava um mestre da lei, vestido com roupas finamente bordadas, o rosto adornado por uma barba cuidadosamente aparada. Ele sorriu, mas seus olhos eram frios como pedra.
— *Mestre,* — disse ele, curvando-se levemente, — *sabemos que Tu és verdadeiro e não Te importas com a opinião de ninguém, pois não olhas para a aparência dos homens, mas ensinas o caminho de Deus segundo a verdade. Dize-nos, pois: É lícito pagar tributo a César ou não?*
A armadilha era clara. Se Jesus dissesse que sim, os judeus nacionalistas O acusariam de traição a Israel. Se dissesse que não, os herodianos, aliados de Roma, O denunciariam como rebelde.
Jesus, porém, conhecia a hipocrisia deles. Seus olhos, cheios de sabedoria infinita, fitaram o homem como se lessem sua alma.
— *Por que Me tentais?* — Sua voz ecoou, calma mas penetrante. — *Trazei-Me um denário para que Eu o veja.*
Um deles, hesitante, entregou-Lhe a moeda. Jesus segurou-a entre Seus dedos, mostrando-a à multidão.
— *De quem é esta imagem e inscrição?* — perguntou.
— *De César,* — responderam, confusos.
Então, com uma autoridade que silenciou até o vento, Jesus declarou:
— *Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.*
A resposta foi como um raio cortando o céu. Os homens ficaram pasmos, sem palavras. Alguns se afastaram, murmurando entre si, enquanto outros O olhavam com um misto de admiração e ódio.
**A Pergunta sobre a Ressurreição**
Não demorou para que os saduceus, que negavam a ressurreição, se aproximassem com outra questão astuta. Um deles, um homem de expressão sarcástica, começou:
— *Mestre, Moisés nos deixou escrito que, se o irmão de um homem morrer e deixar a esposa sem filhos, o irmão dele deve casar-se com a viúva para dar descendência ao falecido. Ora, havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu sem filhos. O segundo casou-se com a viúva e também morreu, e assim por diante, até o sétimo. Por fim, a mulher também morreu. Na ressurreição, de quem ela será esposa, visto que os sete a tiveram por mulher?*
Os saduceus riram entre si, convencidos de que haviam criado um dilema insolúvel. Mas Jesus, com paciência divina, respondeu:
— *Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus. Pois quando os mortos ressuscitam, não se casam nem são dados em casamento, mas são como os anjos nos céus. E quanto aos mortos serem ressuscitados, não lestes no livro de Moisés, no trecho da sarça, como Deus lhe falou: ‘Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó’? Ele não é Deus de mortos, mas de vivos. Grande é o vosso erro!*
Novamente, as palavras de Jesus deixaram todos em silêncio. Até alguns escribas, que observavam de longe, admiravam Sua sabedoria.
**O Grande Mandamento**
Um dos escribas, vendo que Jesus respondera com perfeição, aproximou-se com sinceridade.
— *Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?*
Jesus olhou para ele, percebendo um coração verdadeiramente buscador. Sua voz encheu-se de amor ao responder:
— *O primeiro é: ‘Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças’. E o segundo é: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Não há mandamento maior do que estes.*
O escriba, comovido, concordou:
— *Muito bem, Mestre! Com verdade disseste que Ele é único e não há outro além d’Ele; e que amá-Lo de todo o coração e amar o próximo como a si mesmo é mais importante que todos os holocaustos e sacrifícios.*
Jesus, vendo sua compreensão, disse-lhe:
— *Não estás longe do Reino de Deus.*
**A Advertência contra a Hipocrisia**
Enquanto o povo ouvia com admiração, Jesus voltou-Se para Seus discípulos e para a multidão, alertando-os contra os escribas:
— *Acautelai-vos dos escribas, que gostam de andar com vestes compridas, de ser saudados nas praças e de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes. Eles devoram as casas das viúvas e, para disfarçar, fazem longas orações. Estes receberão condenação mais severa.*
**A Oferta da Viúva Pobre**
Jesus então sentou-Se em frente ao gazofilácio, onde as pessoas depositavam suas ofertas. Muitos ricos lançavam grandes quantias com ostentação. Mas uma viúva pobre, vestida com roupas gastas, aproximou-se timidamente e colocou duas pequeninas moedas, de valor insignificante.
Chamando Seus discípulos, Jesus disse com ternura:
— *Em verdade vos digo que esta viúva pobre deu mais do que todos os que depositaram na arca do tesouro. Pois todos deram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo o que tinha, todo o seu sustento.*
Seus olhos brilharam de compaixão, ensinando que o valor de uma oferta não está na quantidade, mas no coração que a entrega.
E assim, entre questionamentos ardilosos e lições profundas, Jesus continuou a revelar o caminho do amor, da verdade e do sacrifício genuíno — um chamado que ecoa através dos séculos, até os dias de hoje.