**O Tecedor do Céu e da Terra**

No reino antigo de Judá, sob o céu abrasador do deserto, vivia um homem chamado Eliabe. Ele era um escriba, dedicado a copiar os salmos e as palavras sagradas para as gerações futuras. Mas, em seu coração, havia uma inquietação—uma sede de compreender os mistérios de Deus de forma mais profunda.

Certa noite, enquanto as estrelas cintilavam como lamparinas divinas no firmamento, Eliabe sentou-se à luz de uma vela, desenrolando um pergaminho desgastado. Seus olhos pousaram sobre as palavras do Salmo 139, e seu coração começou a arder como carvão vivo.

**”Senhor, tu me sondas e me conheces…”**

Ele leu em voz baixa, sentindo o peso daquelas palavras. Como poderia o Altíssimo, que governa os céus, conhecer cada pensamento seu? Cada suspiro? Cada sonho não confessado?

### **O Conhecimento Infinito de Deus**

Eliabe fechou os olhos e imaginou o Senhor sentado em Seu trono, observando os séculos passarem como um rio. Antes mesmo que suas palavras se formassem em sua língua, Deus já as conhecia. Antes que seu pé esquerdo se movesse ao amanhecer, o Criador já havia traçado seu caminho.

—Como é possível, ó Deus? — sussurrou, sentindo-se pequeno diante de tal mistério.

Ele se lembrou de quando era criança, escondido atrás das oliveiras, pensando que ninguém o via. Mas agora compreendia: mesmo nas sombras mais escuras, a presença do Senhor era como a luz do meio-dia.

### **A Mão que Tece a Vida**

O escriba continuou a ler, e suas mãos tremeram ao alcançar o versículo:

**”Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe.”**

De repente, uma memória distante surgiu em sua mente—a voz de sua avó contando como sua mãe quase perdera a vida ao dar à luz. O parto fora difícil, mas algo—ou Alguém—a sustentara. Agora, Eliabe entendia: fora o próprio Deus, o Divino Artesão, que o moldara com precisão infinita, entrelaçando seus ossos, seus músculos, sua alma.

—Não fui um acidente — murmurou, com lágrimas nos olhos. — Cada dia de minha vida já estava escrito em Teu livro antes mesmo que eu respirasse pela primeira vez.

### **A Onipresença do Senhor**

Em seguida, seu coração acelerou ao ler:

**”Para onde poderia eu escapar do Teu Espírito? Para onde fugiria da Tua presença?”**

Eliabe imaginou-se correndo para os confins da terra—subindo os picos nevados do Líbano, mergulhando nas profundezas do Mediterrâneo, escondendo-se nas cavernas de Edom. Mas em cada lugar, lá estaria o Senhor. Se ele tentasse voar com as asas da aurora, até mesmo ali, a mão de Deus o guiaria.

—Não há lugar longe de Ti — confessou, curvando-se em reverência.

### **A Justiça e a Consagração**

Finalmente, ao chegar ao fim do salmo, as palavras finais o atingiram como um martelo:

**”Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. Vê se há em mim algum caminho mal e guia-me pelo caminho eterno.”**

Eliabe caiu de joelhos. Quantas vezes ele permitira que a inveja dos colegas escribas o consumisse? Quantas vezes murmurara contra Deus em seu coração? Agora, ele clamava por purificação.

—Destrói todo mal em mim, ó Senhor! — suplicou. — Conduz-me à Tua eterna justiça!

### **O Despertar de um Coração**

Naquela noite, Eliabe não apenas copiou o Salmo 139—ele o viveu. Quando o sol raiou, seu rosto estava mudado. Seus companheiros notaram algo diferente nele: uma serenidade, uma certeza.

—O Senhor nos conhece — ele lhes dizia. — Ele nos amou antes da fundação do mundo. Não há escuridão que O cegue, nem distância que O afaste de nós.

E assim, aquele escriba tornou-se um mensageiro da verdade, proclamando que o mesmo Deus que teceu os céus e a terra também tece cada detalhe de nossas vidas.

E até hoje, quando os fiéis cantam o Salmo 139, lembram-se: **não há um só momento em que estejamos fora do alcance do Tecedor divino.**