Bíblia em Contos

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O Julgamento de Paulo diante de Festo e Agripa (98 caracteres, sem símbolos ou aspas)

**O Julgamento de Paulo perante Festo**

A brisa suave do Mediterrâneo agitava as bandeiras romanas que adornavam os altos muros de Cesareia. O palácio de Herodes, agora residência oficial do governador romano, erguia-se imponente, suas colunas de mármore reluzindo sob o sol da Palestina. Dentro da grande sala de audiências, Porcio Festo, recém-chegado como sucessor de Félix, ocupava seu assento no tribunal, vestido com a toga bordada de autoridade. Diante dele, acorrentado, mas com postura serena, estava Paulo de Tarso, o homem cujo nome ecoava em debates acalorados entre judeus e seguidores do Caminho.

Os líderes judeus haviam descido de Jerusalém, seus rostos marcados pela determinação e ódio contido. Vestidos com túnicas talares e filactérios, cercaram o tribunal, exigindo justiça—ou melhor, vingança.

— *Excelentíssimo Festo* — começou o sumo sacerdote, com voz carregada de urgência — *este homem é uma praga, um agitador que semeia discórdia entre nosso povo, profanando o Templo e violando nossas sagradas leis! Nós o entregamos às autoridades romanas, pois ele merece a morte!*

Festo, um homem astuto, mas ainda inexperiente nos intricados conflitos judaicos, observou Paulo com interesse. O apóstolo, embora fisicamente frágil pelas longas prisões, mantinha um olhar firme, como se visse além daquela corte terrena.

— *Paulo* — Festo falou em tom oficial — *você ouve as acusações? O que tem a dizer em sua defesa?*

Paulo ergueu as mãos acorrentadas, não em desespero, mas como quem está habituado a discursar perante reis e governadores.

— *Nada pequei contra a lei dos judeus, nem contra o Templo, nem contra César* — declarou, sua voz clara ecoando na sala. — *Se cometi algum crime digno de morte, não recuso morrer. Mas se estas acusações são falsas, ninguém pode me entregar a eles. Apelo para César!*

Um murmúrio percorreu a plateia. Apelar para César significava que o caso seria levado ao próprio imperador em Roma, tirando das mãos dos judeus qualquer chance de condená-lo sumariamente. Festo, surpreso, consultou rapidamente seus assessores em latim antes de responder:

— *Apelaste para César? A César irás!*

Mas o governador ainda estava perplexo. Dias depois, recebeu a visita do rei Agripa, governante cliente de territórios vizinhos, e de sua irmã Berenice, que vieram saudar o novo procurador. Festo, vendo uma oportunidade, expôs o dilema:

— *Há aqui um prisioneiro deixado por Félix, um certo Paulo, acusado pelos judeus de crimes religiosos. Falei com eles em Jerusalém e não encontrei nele culpa alguma digna de morte. Mas como ele apelou para Augusto, decidi enviá-lo. No entanto, não tenho nada concreto para escrever ao imperador. Por isso, quero apresentá-lo a ti, ó rei Agripa, para que, após interrogatório, eu possa redigir um relatório.*

Agripa, curioso, concordou. No dia seguinte, a corte foi preparada com pompa real. Os soldados romanos em armadura brilhante alinharam-se, enquanto os nobres e oficiais ocuparam seus lugares. Agripa e Berenice adentraram com vestes reais, e logo Paulo foi trazido, acorrentado, mas não quebrantado.

Festo anunciou:

— *Ó rei Agripa e todos aqui presentes, vedes este homem! Os judeus, tanto em Jerusalém como aqui, clamam que ele não deve viver mais. Mas eu verifiquei que ele não cometeu crime algum que mereça a morte. Contudo, como ele apelou para César, resolvi enviá-lo. Mas não tenho nada definido para escrever a meu senhor. Por isso, o trouxe perante vós, especialmente perante ti, ó rei, para que, após este interrogatório, eu tenha algo para relatar.*

Agripa acenou a Paulo:

— *É permitido que faças tua defesa.*

Paulo, então, ergueu o rosto, não como um réu, mas como um embaixador do Reino que não era deste mundo. Sua voz encheu o salão quando começou:

— *Considero-me feliz, ó rei Agripa, por poder defender-me hoje perante ti de todas as acusações dos judeus…*

E assim, diante de reis e governadores, mais uma vez o Evangelho avançava, não contido por correntes, mas proclamado com ousadia. O julgamento humano poderia decidir seu destino terreno, mas a verdade que ele carregava era maior que qualquer tribunal. E Roma, embora distante, aguardava—não como um fim, mas como mais um palco para a proclamação do nome que está acima de todo nome.

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