**A Águia e a Videira: A Parábola de Ezequiel**

No décimo segundo ano do exílio do povo de Judá na Babilônia, quando a angústia e a incerteza pesavam sobre os corações dos cativos, a palavra do Senhor veio ao profeta Ezequiel, filho de Buzi. O Espírito de Deus o envolveu, e ele recebeu uma mensagem enigmática, uma parábola que revelaria os desígnios divinos sobre Judá e suas alianças traiçoeiras.

Ezequiel ergueu a voz entre os exilados e começou a narrar:

— Assim diz o Senhor Deus: “Uma grande águia, de asas poderosas e plumagem densa, veio até o Líbano. Seus olhos eram penetrantes como o relâmpago, e suas garras, afiadas como espadas. Ela arrancou o topo de um cedro, quebrando com habilidade, e o levou para uma terra de comerciantes, uma cidade de negociações. Tomou também uma muda da videira mais tenra, plantou-a em solo fértil, à beira de águas abundantes, como um salgueiro que se inclina sobre o rio.”

Os ouvintes se entreolharam, tentando decifrar o significado. Ezequiel continuou:

— A videira cresceu, estendendo seus ramos para a águia, buscando sua proteção. Suas raízes se firmaram, e logo produziu folhagem viçosa e frutos abundantes. Mas eis que outra águia surgiu, também majestosa, porém menos imponente. A videira, insatisfeita, voltou suas raízes para esta segunda águia, estendendo-lhe seus ramos, na esperança de ser regada por ela.

O profeta fez uma pausa, e seu rosto se tornou solene.

— Mas a videira já havia sido plantada em boa terra, com água em abundância! Será que prosperaria agora, arrancada de seu lugar? Quando o vento leste a atingir, secará por completo! Será arrancada de seu canteiro e murchará, mesmo sem mão forte ou grande exército para removê-la.

Os exilados começaram a murmurar, e então Ezequiel lhes revelou o significado oculto:

— A primeira águia é o rei da Babilônia, Nabucodonosor, que veio a Jerusalém e levou cativos o rei Joaquim e os príncipes de Judá, como a muda arrancada do cedro. Ele estabeleceu um novo rei, Zedequias, como a videira plantada sob juramento de lealdade. Mas Zedequias, insensato, quebrou seu pacto e buscou ajuda do Egito, a segunda águia, fraco e incapaz de salvá-lo.

A voz do profeta ecoou como um trovão:

— Assim diz o Senhor: “Porque ele desprezou o juramento e quebrou a aliança, será levado para a Babilônia e lá morrerá. Seu exército será disperso, e Jerusalém, mais uma vez, conhecerá a ruína. Mas no futuro, eu mesmo tomarei um renovo tenro do alto cedro e o plantarei no monte sagrado de Israel. Ele florescerá, dará frutos e se tornará uma árvore majestosa, onde todas as aves habitarão à sua sombra. Então saberão que eu, o Senhor, falei e cumpri.”

E o povo, ouvindo essas palavras, entendeu que a justiça de Deus não falha, e que somente Nele há verdadeira segurança. A videira infiel seria cortada, mas um dia, das cinzas, o próprio Deus faria brotar um ramo eterno.