**A Destruição de Sodoma e a Fuga de Ló**

O sol começava a se pôr sobre os vales verdejantes ao redor de Sodoma, tingindo o céu de tons avermelhados e dourados. A cidade, erguida com pedras preciosas e cercada por muros imponentes, parecia brilhar sob a luz crepuscular. Mas por trás daquela beleza exterior, uma corrupção profunda se alastrava como uma doença incurável. O pecado de Sodoma havia clamado aos céus, e o Senhor decidira que era hora de agir.

Naquela mesma tarde, dois homens chegaram à porta da cidade. Eles eram belos, com semblantes serenos, mas havia algo sobrenatural em sua presença—eram anjos enviados por Deus. Ló, sobrinho de Abraão, estava sentado à porta, costume dos anciãos e juízes da cidade. Quando viu os estrangeiros, levantou-se rapidamente e foi ao seu encontro, curvando-se com profundo respeito.

—Meus senhores—disse Ló—, por favor, venham à casa de vosso servo. Passem a noite conosco, lavem os pés e partam ao amanhecer.

Os anjos inicialmente recusaram, dizendo que passariam a noite na praça, mas Ló insistiu com tanta urgência que finalmente concordaram. Ele sabia o perigo que os estrangeiros corriam naquela cidade.

Enquanto Ló os levava para sua casa, sua esposa e suas duas filhas preparavam pão sem fermento e uma refeição simples, mas digna. A família de Ló ainda mantinha algum temor a Deus, apesar de viverem entre pessoas tão ímpias.

Mas antes que pudessem se deitar, eis que um clamor encheu as ruas. Homens de todas as idades, jovens e velhos, cercaram a casa de Ló, batendo nas portas com fúria.

—Onde estão os homens que entraram em tua casa esta noite?—gritavam—. Traze-os para nós, para que os conheçamos!

O coração de Ló gelou. Ele sabia o que aquelas palavras significavam—a depravação de Sodoma não tinha limites. Tremendo, saiu e fechou a porta atrás de si, tentando negociar com a multidão ensandecida.

—Rogo-vos, irmãos meus, não cometais este mal!—implorou—. Tenho duas filhas virgens; deixai-me trazê-las a vós, e fazei delas o que bem entenderdes. Mas não façais nada a estes homens, pois eles estão sob a proteção do meu teto!

A multidão, porém, riu com escárnio.

—Afasta-te!—gritou um deles—. Este estrangeiro quer ser juiz entre nós? Agora te faremos pior do que a eles!

E avançaram para arrombar a porta.

Mas os anjos agiram rapidamente. Puxaram Ló para dentro e fecharam a porta. Então, feriram os homens do lado de fora com cegueira, de modo que, por mais que procurassem, não conseguiam encontrar a entrada.

Os anjos então se voltaram para Ló.

—Tens alguém mais nesta cidade? Genros, filhos, filhas?—perguntou um deles—. Tira-os daqui, pois vamos destruir este lugar. O clamor de seus pecados chegou até o Senhor, e Ele nos enviou para destruí-la.

Ló saiu apressadamente e foi falar com os noivos de suas filhas, que haviam se comprometido em casamento com jovens de Sodoma.

—Levantai-vos!—exclamou—. O Senhor destruirá a cidade! Fugi por vossas vidas!

Mas os jovens riram, pensando que ele delirava.

Ao amanhecer, os anjos pressionaram Ló.

—Levanta-te, toma tua mulher e tuas duas filhas que aqui estão, para que não pereças no castigo desta cidade!

Ló hesitava, agarrado à vida que conhecia, então os anjos o pegaram pela mão, assim como a sua esposa e filhas, e os levaram para fora da cidade.

—Fugi pela vossa vida!—ordenou um dos mensageiros—. Não olheis para trás, nem pareis em toda esta planície. Ide para os montes, para que não sejais consumidos!

Ló, porém, temia os montes e suplicou:

—Oh, não, meu senhor! Eis que teu servo achou graça diante de ti, mas aquele lugar é longe demais. Há ali uma pequena cidade, para a qual posso fugir. Deixa-me ir até lá—é pequena, não é?—para que minha vida seja poupada.

O anjo concordou.

—Muito bem, pouparei aquele lugar por tua causa. Mas apressa-te, pois nada poderei fazer até que lá cheguem.

O sol já raiava sobre a terra quando Ló entrou em Zoar. E então, o Senhor fez chover enxofre e fogo sobre Sodoma e Gomorra, do céu. As chamas devoraram as cidades, os vales, toda a planície e todos os seus habitantes. O fogo subiu em colunas de fumaça negra, visível a quilômetros de distância.

A esposa de Ló, apesar da advertência, olhou para trás. Seu coração ainda estava em Sodoma, entre as riquezas e o conforto que deixara. Num instante, ela se transformou em uma estátua de sal, ficando para sempre como um memorial da desobediência.

Ló, temendo permanecer em Zoar, subiu aos montes com suas filhas e habitaram numa caverna. Ali, em sua solidão e desespero, suas filhas cometeram um ato terrível, embriagando-o para preservar sua linhagem. Assim nasceram Moabe e Ben-Ami, pais dos moabitas e amonitas, povos que mais tarde trariam conflitos a Israel.

E assim cumpriu-se o juízo de Deus sobre Sodoma e Gomorra, cidades que se entregaram à imoralidade e rejeitaram o temor do Senhor. Mas na misericórdia divina, Ló foi poupado, um lembrete de que o justo será salvo, mesmo quando o mundo ao seu redor perece.