**O Sonho do Copeiro e do Padeiro: Uma História de Esperança e Justiça**
Na terra do Egito, sob o calor abrasador do sol que incidia sobre as muralhas de pedra do palácio de Faraó, havia um cárcere sombrio onde homens de destinos distintos aguardavam seu julgamento. Entre eles estava José, filho de Jacó, vendido como escravo por seus irmãos e agora injustamente aprisionado por falsas acusações. Mesmo na escuridão do calabouço, a mão do Senhor estava com ele, e o carcereiro-mor, reconhecendo sua integridade, confiou-lhe a supervisão dos outros prisioneiros.
Certa manhã, quando os primeiros raios de sol filtravam-se pelas frestas da prisão, José percebeu que dois novos homens haviam sido trazidos durante a noite. Eram personagens de grande importância: um, o copeiro-mor do rei, encarregado de servir o vinho a Faraó; o outro, o padeiro-mor, responsável por preparar os pães reais. Ambos haviam caído em desgraça diante do soberano e, por motivos desconhecidos, foram lançados na mesma masmorra que José.
Os dias se passaram, e José, sempre solícito, cuidava deles com bondade. Certa noite, enquanto a lua banhava o cárcere com sua luz prateada, os dois homens adormeceram profundamente, e cada um teve um sonho tão vívido que, ao despertarem, seus rostos estavam marcados por perplexidade e temor.
— Por que hoje vosso semblante está tão abatido? — perguntou José, notando a angústia deles ao trazer-lhes o pão e a água da manhã.
O copeiro, esfregando as têmporas, respondeu:
— Tivemos sonhos, e não há ninguém que os interprete.
José, cheio da sabedoria que vinha do Alto, respondeu com firmeza:
— Não pertencem a Deus as interpretações? Contai-me, pois, os vossos sonhos.
O copeiro, com voz ainda trêmula, começou:
— Em meu sonho, via uma videira diante de mim, e nela havia três ramos. Ela brotou, suas flores desabrocharam, e seus cachos amadureceram em uvas. Eu tomava o copo de Faraó, colhia as uvas, espremia-as no copo e o entregava nas mãos do rei.
José, com os olhos iluminados pelo entendimento divino, declarou:
— Esta é a interpretação: os três ramos são três dias. Dentro de três dias, Faraó te restaurará ao teu cargo, e tu lhe entregarás o copo, como antes. Mas, quando isso acontecer, lembra-te de mim. Suplica ao rei que me tire desta prisão, pois fui roubado da terra dos hebreus e aqui não cometi crime algum para merecer estes grilhões.
O padeiro, ouvindo a interpretação favorável dada ao copeiro, animou-se e contou seu próprio sonho:
— Eu também sonhei, e eis que trazia três cestos de pão branco sobre a minha cabeça. No cesto mais alto havia todo tipo de manjares para Faraó, mas as aves vinham e os devoravam.
José fitou-o com seriedade, e seu coração pesou ao revelar o significado:
— Os três cestos também são três dias. Dentro desse tempo, Faraó te levantará daqui… mas será para te pendurar numa forca, e as aves devorarão a tua carne.
O silêncio pairou no ar. O copeiro, aliviado, mas ainda atônito, olhou para o padeiro, cujo rosto se desfez em pavor. Três dias depois, como José predissera, Faraó celebrou seu aniversário com um grande banquete. O copeiro foi restaurado ao seu ofício, servindo o vinho nas mãos do rei, enquanto o padeiro foi executado, cumprindo-se a palavra do Senhor.
No entanto, em meio à alegria da corte egípcia, o copeiro, em seu alívio, esqueceu-se de José. Os dias viraram meses, e os meses anos, mas a promessa de Deus não falharia. Enquanto José continuava a esperar na masmorra, o Senhor preparava os caminhos para exaltá-lo no tempo certo, mostrando que até mesmo o esquecimento dos homens fazia parte de Seu plano soberano.
E assim, naquele cárcere úmido e esquecido, José permaneceu firme, confiando que Aquele que revela mistérios não o abandonaria, pois os desígnios do Altíssimo são perfeitos, ainda que ocultos aos olhos dos homens.