No início dos tempos, quando o sol ainda se levantava sobre uma terra jovem e cheia de promessas, havia um homem sábio que se sentou à sombra de uma grande figueira. Seu nome era Qohelet, conhecido por muitos como o Pregador. Ele era um homem de reflexão profunda, que buscava entender os mistérios da vida e os caminhos de Deus. Seu coração estava cheio de perguntas, e seus olhos contemplavam o mundo com um olhar que buscava significado além do que os olhos podiam ver.
Qohelet começou a falar, e suas palavras ecoaram como um vento suave que soprava sobre os campos secos. “Vaidade das vaidades, diz o Pregador, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade.” Sua voz era grave, carregada de uma tristeza que vinha de uma compreensão profunda da natureza passageira da vida. Ele olhou para o horizonte, onde o sol começava a se pôr, tingindo o céu de tons dourados e avermelhados. “Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?”
Ele se levantou e caminhou lentamente, seus pés tocando a terra seca e poeirenta. Seus olhos percorreram os campos onde os agricultores labutavam dia após dia, semeando e colhendo, ano após ano. “Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra permanece para sempre.” Qohelet observou os homens curvados sobre o arado, suas mãos calejadas pelo trabalho incessante. Ele sabia que, embora eles se esforçassem, a terra continuaria a existir, testemunhando o passar das gerações, enquanto eles mesmos desapareceriam como a neblina da manhã.
O sábio continuou sua caminhada, passando por um riacho que fluía suavemente entre as pedras. Ele parou por um momento, observando a água que corria sem cessar. “O sol nasce, e o sol se põe, e corre de volta ao seu lugar, onde nasce novamente. O vento sopra para o sul e gira para o norte; gira e gira na sua rotação, e o vento retorna aos seus circuitos.” Qohelet viu na natureza um ciclo interminável, um movimento constante que parecia não levar a lugar algum. Tudo se repetia, como se o tempo fosse uma roda que girava sem fim.
Ele se sentou à beira do rio, mergulhando suas mãos na água fresca. “Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche; para o lugar onde os rios correm, para lá continuam a correr.” Qohelet percebeu que, assim como os rios, a vida humana parecia seguir um curso predeterminado, sem alcançar um destino final. Era como se tudo fosse um grande ciclo, sem um propósito claro ou um fim definitivo.
O Pregador levantou os olhos para o céu, onde as estrelas começavam a aparecer, uma a uma, como pequenas luzes que cintilavam na escuridão. “Todas as coisas são cansativas, mais do que se pode expressar. Os olhos não se cansam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.” Ele sabia que, por mais que o homem buscasse conhecimento e compreensão, nunca seria capaz de abarcar toda a verdade. Havia sempre mais para ver, mais para ouvir, mais para aprender. E, no entanto, no final, tudo parecia voltar ao mesmo lugar.
Qohelet se levantou novamente, sentindo o peso de suas reflexões. Ele caminhou de volta para a cidade, onde as luzes das casas começavam a se acender. As pessoas estavam ocupadas com suas vidas, correndo de um lado para o outro, buscando sucesso, riqueza e prazer. Ele observou um homem rico que construía uma grande casa, enchendo-a de tesouros e posses. “Tudo é vaidade e correr atrás do vento”, murmurou Qohelet. Ele sabia que, no final, todas essas coisas não trariam satisfação verdadeira. O homem rico morreria, assim como o pobre, e suas posses seriam deixadas para outros.
Ao chegar em casa, Qohelet se sentou em sua cadeira, olhando para as chamas dançantes da lareira. Ele pegou um pergaminho e começou a escrever suas reflexões, registrando cada pensamento, cada observação. “O que foi, isso é o que será; e o que se fez, isso se fará; não há nada novo debaixo do sol.” Ele sabia que, embora o mundo mudasse, as essências permaneciam as mesmas. As alegrias, as tristezas, os sucessos e os fracassos eram experiências comuns a todos os homens, em todas as épocas.
Qohelet olhou para o céu novamente, onde a lua agora brilhava com uma luz suave. Ele sentiu uma paz interior, mesmo em meio à sua compreensão da vaidade da vida. Ele sabia que, embora tudo parecesse sem sentido, havia um propósito maior que transcendia a compreensão humana. “Deus colocou a eternidade no coração do homem”, ele pensou. Era essa busca pela eternidade, pelo significado além do temporal, que movia o coração humano.
E assim, Qohelet continuou a refletir, a escrever e a ensinar. Ele sabia que, embora a vida fosse cheia de vaidades e ciclos intermináveis, havia uma esperança que transcendia tudo isso. Era a esperança de que, no final, Deus traria justiça e significado a todas as coisas. E, enquanto o vento continuava a soprar e o sol a nascer e se pôr, Qohelet confiava que, no grande plano de Deus, tudo tinha o seu tempo e o seu propósito.
E assim, as palavras do Pregador ecoaram através dos séculos, lembrando a todos que, embora a vida possa parecer vaidade, há uma sabedoria maior a ser encontrada na busca por Deus e na aceitação de Seus desígnios. Pois, no final, é Ele quem dá sentido a todas as coisas, e é Nele que encontramos a verdadeira satisfação.