No calor do deserto, sob um céu abrasador que parecia derreter até as pedras mais duras, um jovem pastor chamado Eliabe caminhava com seu rebanho de ovelhas. Ele era um homem simples, de coração puro, mas nos últimos dias, uma angústia profunda havia se instalado em sua alma. As palavras do Salmo 22 ecoavam em sua mente como um lamento que não cessava: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que estás tão longe da minha salvação e das palavras do meu bramido?”

Eliabe sentia-se abandonado. As secas prolongadas haviam dizimado os pastos, e suas ovelhas, antes gordas e saudáveis, agora estavam magras e fracas. Ele mesmo, acostumado à vida dura do deserto, sentia o peso da fome e da sede. Mas não era apenas a fome do corpo que o atormentava; era a fome da alma. Ele clamava a Deus, mas o silêncio do céu parecia infinito.

Uma noite, enquanto as estrelas cintilavam como diamantes sobre o manto escuro do céu, Eliabe decidiu subir ao alto de uma colina rochosa para orar. Ele levou consigo apenas um odre de água e um pedaço de pão seco. Ao chegar ao topo, ajoelhou-se e ergueu as mãos ao céu. Suas palavras saíram em um gemido: “Meu Deus, por que me abandonaste? Por que não ouves o meu clamor? Eu sou como um verme, e não um homem; sou o opróbrio dos homens e desprezado do povo.”

Enquanto orava, uma brisa suave começou a soprar, trazendo consigo um aroma fresco que contrastava com o ar pesado do deserto. Eliabe sentiu uma presença, como se algo ou alguém estivesse ali, observando-o. Ele olhou ao redor, mas não viu ninguém. Então, uma voz suave, quase imperceptível, ecoou em seu coração: “Eu estou aqui.”

Ele ficou imóvel, o coração batendo forte. A voz continuou: “Não temas, pois eu sou contigo. Ainda que andes pelo vale da sombra da morte, não temerás mal algum, porque eu estou contigo.” Eliabe sentiu uma paz que não conseguia explicar. Ele sabia que era Deus quem falava com ele, não em palavras audíveis, mas em uma certeza que brotava do mais profundo de seu ser.

Naquela noite, Eliabe teve um sonho. Ele viu um homem, ferido e sangrando, carregando uma cruz pesada. O rosto do homem estava marcado pela dor, mas seus olhos brilhavam com uma luz que Eliabe nunca havia visto antes. O homem olhou diretamente para ele e disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.” Eliabe acordou com o coração cheio de uma alegria inexplicável. Ele não entendia completamente o significado do sonho, mas sabia que havia recebido uma mensagem divina.

Nos dias seguintes, Eliabe começou a ver sinais de esperança. Uma pequena nuvem apareceu no horizonte, e logo uma chuva suave caiu sobre a terra seca. As ovelhas começaram a se alimentar da grama nova que brotava, e Eliabe sentiu sua própria força retornar. Ele sabia que Deus não o havia abandonado; Ele estava apenas testando sua fé.

Uma tarde, enquanto descansava à sombra de uma árvore, Eliabe refletiu sobre as palavras do Salmo 22. Ele percebeu que o salmo não era apenas um lamento, mas também uma profecia. As palavras “traspassaram as minhas mãos e os meus pés” e “repartiram entre si as minhas vestes” agora faziam sentido. Ele entendeu que o homem em seu sonho era o Messias prometido, que viria para salvar o mundo.

Eliabe levantou-se, cheio de uma nova determinação. Ele sabia que sua vida tinha um propósito maior. Ele não era apenas um pastor de ovelhas; ele era um mensageiro de Deus. Ele decidiu compartilhar sua experiência com os outros pastores da região, contando-lhes sobre o sonho e as palavras do Salmo 22. Muitos riram dele, mas alguns ouviram com atenção, e suas palavras plantaram sementes de fé em seus corações.

Anos se passaram, e Eliabe tornou-se um homem velho. Sua barba estava branca como a neve, e suas mãos, calejadas pelo trabalho duro, tremiam levemente. Mas sua fé nunca vacilou. Ele continuou a pastorear suas ovelhas, sempre atento aos sinais de Deus. E quando finalmente chegou o dia de sua morte, ele partiu em paz, sabendo que havia cumprido o propósito que Deus tinha para ele.

E assim, a história de Eliabe, o pastor que encontrou esperança no meio do deserto, tornou-se uma lenda entre o povo. Sua vida foi um testemunho vivo do poder da fé e da fidelidade de Deus, que nunca abandona aqueles que O buscam de todo o coração. E as palavras do Salmo 22, que um dia foram um lamento, tornaram-se um cântico de vitória, ecoando através das gerações como um lembrete de que, mesmo nos momentos mais sombrios, Deus está sempre presente.