Era uma época de grande fome na terra de Israel. Os campos outrora verdejantes e abundantes agora estavam secos e áridos, como se o próprio céu tivesse se fechado para o povo. A escassez era tão severa que muitos israelitas começaram a buscar refúgio em terras distantes, onde houvesse pão para saciar a fome. Foi assim que Elimeleque, um homem de Belém de Judá, decidiu partir com sua família para a terra de Moabe, levando consigo sua esposa, Noemi, e seus dois filhos, Malom e Quiliom.

A jornada foi longa e árdua. A família atravessou vales e montanhas, enfrentando o sol inclemente e o vento cortante. Noemi, com o coração pesado, olhava para trás de vez em quando, sentindo saudades da terra que deixava para trás. Mas a necessidade falava mais alto, e Moabe parecia ser a única esperança de sobrevivência.

Chegando a Moabe, Elimeleque e sua família se estabeleceram naquela terra estrangeira. No início, tudo parecia promissor. Os moabitas eram um povo hospitaleiro, e a família encontrou ali um lugar para recomeçar. No entanto, a tragédia não tardou a bater à sua porta. Elimeleque, o provedor da família, adoeceu e faleceu, deixando Noemi viúva e sozinha com seus dois filhos.

Anos se passaram, e Malom e Quiliom cresceram, tornando-se homens. Ambos se casaram com mulheres moabitas: Orfa e Rute. Noemi, embora ainda sentisse a dor da perda do marido, encontrava algum consolo na presença das noras e na esperança de que seus filhos construíssem uma vida próspera ali. Mas, mais uma vez, a dor a alcançou. Malom e Quiliom, seus amados filhos, também faleceram, deixando Noemi sem marido e sem filhos, apenas com suas duas noras.

A vida de Noemi tornou-se um fardo pesado. Ela sentia-se como uma árvore sem raízes, deslocada em uma terra que não era a sua. Certo dia, ouvindo notícias de que o Senhor havia visitado o seu povo em Belém, trazendo novamente a abundância à terra, Noemi decidiu retornar à sua terra natal. Ela chamou Orfa e Rute e lhes disse:

— Minhas filhas, é hora de eu voltar para a minha terra. O Senhor foi bondoso com o seu povo, e lá há pão novamente. Vocês devem voltar para as casas de suas mães. Que o Senhor seja bondoso com vocês, assim como vocês foram bondosas comigo e com os meus filhos. Que Ele lhes dê um novo lar, onde possam encontrar descanso e paz.

Noemi abraçou suas noras, e as três choraram juntas. Orfa e Rute, porém, insistiram em acompanhá-la.

— Não, minha senhora — disse Rute, segurando as mãos de Noemi. — Nós iremos com você para o seu povo.

Mas Noemi, com o coração cheio de amargura, respondeu:

— Voltem, minhas filhas. Por que iriam comigo? Eu não tenho mais filhos para lhes dar como maridos. Mesmo que eu tivesse esperança de conceber nesta noite e dar à luz filhos, vocês esperariam até que eles crescessem? Não, minhas filhas. A minha vida é muito amarga para vocês, pois a mão do Senhor se voltou contra mim.

As palavras de Noemi eram duras, mas cheias de verdade. Ela sentia que o Senhor a havia castigado, e não queria que suas noras compartilhassem de sua dor. Orfa, após ouvir essas palavras, decidiu voltar para a casa de sua mãe. Ela beijou Noemi e partiu, chorando. Rute, porém, permaneceu firme ao lado de sua sogra.

— Não insista que eu a deixe — disse Rute, com lágrimas nos olhos. — Onde quer que você for, eu irei. Onde quer que você ficar, eu ficarei. O seu povo será o meu povo, e o seu Deus será o meu Deus. Onde você morrer, eu morrerei, e ali serei sepultada. Que o Senhor me castigue, e até mais, se outra coisa que não seja a morte me separar de você.

Noemi viu que Rute estava decidida e não insistiu mais. As duas seguiram juntas o caminho de volta a Belém. Quando chegaram à cidade, as mulheres que ali moravam ficaram surpresas ao vê-las.

— É Noemi? — perguntaram, incrédulas.

— Não me chamem mais de Noemi — responde ela, com voz trêmula. — Chamem-me de Mara, pois o Todo-Poderoso encheu a minha vida de amargura. Eu parti cheia, mas o Senhor me trouxe de volta vazia. Por que me chamariam de Noemi, se o Senhor testemunhou contra mim e o Todo-Poderoso me trouxe aflição?

Noemi e Rute se estabeleceram em Belém, e a história de Rute, a moabita que decidiu seguir o Deus de Israel, começou a se desenrolar. Apesar da dor e da perda, a mão do Senhor ainda estava sobre elas, preparando um futuro que nenhuma das duas poderia imaginar.