Era uma noite como nenhuma outra no Egito. O ar estava pesado, carregado de uma tensão que parecia pairar sobre toda a terra. Os israelitas, escravos há gerações, aguardavam em suas casas, com os corações acelerados e os ouvidos atentos aos menores sons. Moisés, o homem escolhido por Deus para libertá-los, havia transmitido instruções precisas, vindas diretamente do Senhor. Esta seria a noite da libertação, a noite em que o juízo de Deus passaria sobre o Egito, mas pouparia Seu povo.
Deus havia falado a Moisés e a Arão, dizendo: “Este mês será para vocês o primeiro mês do ano. Digam a toda a comunidade de Israel que no décimo dia deste mês cada chefe de família deverá separar um cordeiro ou um cabrito para sua família. O animal deve ser macho, sem defeito, de um ano de idade. Guardem-no até o décimo quarto dia, quando toda a comunidade de Israel o sacrificará ao pôr do sol. Tomem um pouco do sangue e passem nos batentes das portas das casas onde vocês comerão o animal. Naquela noite, comerão a carne assada no fogo, com pães sem fermento e ervas amargas. E comam apressadamente, pois esta é a Páscoa do Senhor.”
Os israelitas obedeceram às instruções com temor e reverência. Cada família escolheu um cordeiro perfeito, sem mácula, e o guardou por quatro dias, como ordenado. As crianças observavam o animal com curiosidade, enquanto os adultos explicavam que aquele cordeiro era um símbolo de sacrifício e redenção. No décimo quarto dia, ao pôr do sol, os israelitas sacrificaram os cordeiros, e o sangue foi recolhido em tigelas. Com ramos de hissopo, as famílias passaram o sangue nos batentes superiores e laterais das portas de suas casas. O sangue era a marca que os protegeria do juízo que viria.
Dentro das casas, o cheiro de carne assada no fogo enchia o ar. As famílias se reuniram ao redor da mesa, vestidas e calçadas, prontas para partir a qualquer momento. Comiam a carne assada, acompanhada de pães sem fermento, símbolo da pureza e da pressa, e ervas amargas, que lembravam a amargura da escravidão. As conversas eram sussurradas, os corações cheios de expectativa. As crianças perguntavam: “O que significa tudo isso?” E os pais respondiam: “É o sacrifício da Páscoa do Senhor, que passou sobre as casas dos israelitas no Egito quando feriu os egípcios, mas poupou nossas famílias.”
Enquanto isso, do lado de fora, uma escuridão densa cobria a terra do Egito. Um silêncio mortal pairava sobre as casas dos egípcios, que haviam sido atingidos por nove pragas enviadas por Deus para convencer o faraó a libertar Seu povo. Mas o coração do faraó permanecia endurecido. Agora, a décima praga estava prestes a cair. À meia-noite, o Senhor passaria por toda a terra do Egito e feriria todos os primogênitos, desde o filho do faraó, herdeiro do trono, até o filho do escravo que moía grãos no moinho, e até mesmo os primogênitos dos animais.
Naquela noite, um grito de angústia ecoou por todo o Egito. Em cada casa egípcia, havia lamento e desespero, pois não havia uma única família que não tivesse perdido um filho primogênito. O faraó, em seu palácio, chorou a morte de seu próprio filho. Finalmente, seu coração foi quebrantado. Ele chamou Moisés e Arão ainda durante a noite e disse: “Levantem-se e saiam do meio do meu povo, vocês e os israelitas! Vão prestar culto ao Senhor, como vocês pediram. Levem os seus rebanhos e os seus gado, como disseram, e vão embora! E abençoem a mim também!”
Os israelitas, que já estavam preparados, não perderam tempo. Reuniram seus pertences, amassaram a massa sem fermento e a carregaram em suas costas, envolta em mantos. As mulheres pegaram as tigelas de prata e ouro que haviam recebido dos egípcios, cumprindo a promessa de Deus de que eles sairiam com riquezas. As crianças, ainda sonolentas, foram carregadas nos braços de seus pais. O povo de Israel, cerca de seiscentos mil homens, sem contar mulheres e crianças, começou sua jornada em direção à liberdade.
Enquanto caminhavam, o sol começava a nascer, iluminando o horizonte. A noite de terror havia passado, e um novo dia se anunciava para o povo de Deus. Eles olhavam para trás, para a terra que havia sido sua prisão por tanto tempo, e para frente, em direção ao desconhecido, confiando na promessa de Deus de que Ele os guiaria até uma terra que manava leite e mel.
Moisés, liderando o povo, lembrava-se das palavras do Senhor: “Este dia será um memorial para vocês, e deverão celebrá-lo como uma festa ao Senhor. Durante sete dias comam pães sem fermento. No primeiro dia tirem o fermento de suas casas, pois quem comer algo fermentado, desde o primeiro até o sétimo dia, será eliminado de Israel. No primeiro e no sétimo dia realizem uma assembleia sagrada. Nenhum trabalho será feito, exceto o de preparar comida para todos. Celebrem a festa dos pães sem fermento, porque foi nesse mesmo dia que eu tirei os exércitos de Israel do Egito. Celebrem esse dia como decreto perpétuo para as suas gerações.”
E assim, a Páscoa tornou-se um marco na história de Israel, um memorial eterno da misericórdia e do poder de Deus. Aquele sangue nos umbrais das portas não apenas protegeu os israelitas da morte, mas também apontava para um sacrifício maior que viria no futuro: o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Naquela noite, o povo de Israel começou sua jornada rumo à liberdade, guiado pela mão poderosa de Deus, que nunca os abandonaria.