No décimo ano do reinado de Zedequias, rei de Judá, a cidade de Jerusalém estava em um estado de desolação. O exército babilônico, liderado por Nabucodonosor, havia sitiado a cidade por meses, e a fome e o desespero se espalhavam entre o povo. Muitos haviam sido levados cativos para a Babilônia, enquanto outros, incluindo os mais pobres, foram deixados para trás sob o governo de Gedalias, um governador nomeado pelos babilônios. No entanto, Gedalias foi assassinado por Ismael, um homem de linhagem real, e o povo, temendo a retaliação dos babilônios, decidiu fugir para o Egito.
Foi nesse contexto de medo e incerteza que um grupo de líderes, incluindo Joanã, filho de Careá, e Jezanias, filho de Hosaías, se aproximaram do profeta Jeremias. Eles estavam confusos e buscavam orientação divina. Com semblantes preocupados e corações pesados, eles se reuniram diante de Jeremias e disseram:
— Rogamos-te que ouças a nossa súplica e clames ao Senhor, teu Deus, por nós, por todo este resto de povo que ficou. Pois, como vês, somos poucos, de muitos que éramos antes. Que o Senhor, teu Deus, nos mostre o caminho que devemos seguir e o que devemos fazer.
Jeremias, um homem de profunda fé e intimidade com Deus, olhou para eles com compaixão. Ele sabia que o povo estava em um momento crítico, onde a decisão que tomassem poderia determinar seu futuro espiritual e físico. Ele respondeu:
— Ouvirei, como pedis, e clamarei ao Senhor, vosso Deus, conforme as vossas palavras. E tudo o que o Senhor vos responder, eu vos declararei; não vos ocultarei coisa alguma.
O povo, então, prometeu solenemente:
— Seja o Senhor testemunha verdadeira e fiel entre nós, se não fizermos conforme tudo o que o Senhor, teu Deus, nos enviar por teu intermédio. Seja para o bem ou para o mal, obedeceremos à voz do Senhor, nosso Deus, a quem te enviamos, para que nos suceda bem, obedecendo à voz do Senhor, nosso Deus.
Jeremias retirou-se para orar e buscar a face do Senhor. Ele passou dias em jejum e oração, clamando a Deus por direção. Finalmente, após dez dias, a palavra do Senhor veio a Jeremias. Ele convocou o povo e começou a transmitir a mensagem divina com voz firme e clara:
— Assim diz o Senhor, Deus de Israel, a quem me enviastes para apresentar a vossa súplica diante dele: Se ficardes nesta terra, então vos edificarei e não vos derribarei; plantar-vos-ei e não vos arrancarei, porque estou arrependido do mal que vos tenho feito. Não temais o rei da Babilônia, a quem vós temeis; não o temais, diz o Senhor, porque eu sou convosco, para vos salvar e vos livrar da sua mão. Eu vos concederei misericórdia, e ele terá compaixão de vós e vos fará voltar para a vossa terra.
No entanto, Jeremias continuou com uma advertência solene:
— Mas, se disserdes: ‘Não ficaremos nesta terra’, e não obedecerdes à voz do Senhor, vosso Deus, dizendo: ‘Não, mas iremos para a terra do Egito, onde não veremos guerra, nem ouviremos o som de trombeta, nem teremos fome de pão; e ali habitaremos’, então ouvi agora a palavra do Senhor, ó resto de Judá: Assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel: Se vós vos propuserdes a entrar no Egito, e lá entrardes para habitar, então a espada que vós temeis vos alcançará ali na terra do Egito; e a fome que vós receais vos seguirá de perto no Egito; e ali morrereis. E todos os homens que se propuserem a entrar no Egito, para lá habitar, morrerão à espada, de fome e de peste; e não haverá deles quem escape ou fuja do mal que eu trarei sobre eles.
Jeremias fez uma pausa, olhando nos olhos de cada um daqueles líderes. Ele sabia que suas palavras eram duras, mas eram a verdade de Deus. Ele continuou:
— Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel: Como se derramou a minha ira e o meu furor sobre os habitantes de Jerusalém, assim se derramará o meu furor sobre vós, quando entrardes no Egito; e sereis objeto de maldição, de espanto, de imprecação e de opróbrio; e não vereis mais este lugar. O Senhor vos falou, ó resto de Judá: Não entreis no Egito. Sabei, pois, com certeza, que hoje vos adverti.
O povo ouviu em silêncio, mas seus corações estavam divididos. Apesar da promessa de proteção e restauração se permanecessem em Judá, o medo da retaliação babilônica era grande. Joanã, filho de Careá, e os outros líderes, em vez de se humilharem diante da palavra do Senhor, começaram a murmurar entre si. Eles disseram:
— Jeremias está mentindo. O Senhor, nosso Deus, não te enviou para nos dizer: ‘Não entreis no Egito, para ali habitar’. Mas Baruque, filho de Nerias, é que te incita contra nós, para nos entregar nas mãos dos caldeus, para nos matar ou para nos levar cativos para a Babilônia.
Assim, o povo, endurecido em seus corações, decidiu desobedecer à palavra do Senhor. Eles pegaram suas famílias e pertences e partiram para o Egito, levando consigo Jeremias e Baruque, contra a vontade do profeta. Chegando ao Egito, estabeleceram-se em Tafnes, uma cidade na região do Delta do Nilo.
Mas a palavra do Senhor não falha. Como Jeremias havia profetizado, a ira de Deus se derramou sobre eles. Nabucodonosor, rei da Babilônia, invadiu o Egito alguns anos depois, e aqueles que haviam fugido para lá foram alcançados pela espada, pela fome e pela peste. A desobediência ao Senhor trouxe consequências terríveis, e o povo de Judá, que já havia sofrido tanto, agora enfrentava a completa destruição por não terem ouvido a voz do Senhor.
Jeremias, embora triste pela desobediência do povo, continuou a ser fiel ao chamado de Deus. Ele permaneceu no Egito, profetizando e advertindo, mas poucos o ouviram. A história do povo de Judá serve como um lembrete solene de que a obediência à palavra de Deus é essencial para a bênção, enquanto a desobediência leva à ruína.