No coração do Egito, sob o céu pesado e carregado de uma noite que parecia suspirar com o peso do destino, o povo de Israel aguardava. A tensão era palpável, como se o próprio ar estivesse impregnado de uma expectativa solene. Moisés, o homem escolhido por Deus para liderar Seu povo, havia sido enviado repetidas vezes ao Faraó, exigindo a libertação dos hebreus. Mas o coração do rei egípcio permanecia endurecido, como uma rocha impenetrável, resistindo aos apelos divinos.
Agora, após nove pragas devastadoras que haviam assolado o Egito—desde as águas transformadas em sangue até a escuridão que cobriu a terra por três dias—Deus preparava-se para enviar a décima e mais terrível praga. Era uma noite que mudaria para sempre a história do Egito e de Israel. Moisés, com o coração cheio de determinação e tristeza, aproximou-se mais uma vez do palácio real. Sua presença já não causava surpresa, mas ainda inspirava um temor reverente. Ele sabia que suas palavras carregavam o peso do próprio Deus.
“Assim diz o Senhor”, começou Moisés, sua voz ecoando nas paredes de pedra do palácio. “Por volta da meia-noite, eu passarei por todo o Egito. E todo primogênito na terra do Egito morrerá, desde o filho do Faraó, que se assenta no trono, até o filho do escravo que trabalha no moinho, e também todo primogênito dos animais. Haverá um grande clamor em todo o Egito, como nunca houve antes e nunca haverá novamente.”
O silêncio que se seguiu foi cortante. O Faraó, sentado em seu trono adornado com ouro e pedras preciosas, fitou Moisés com olhos que cintilavam de raiva e desdém. Ele não queria acreditar. Como poderia um Deus estrangeiro, adorado por escravos, desafiar o poder do Egito? Mas Moisés não vacilou. Ele continuou, sua voz firme e cheia de autoridade divina.
“Mas entre os israelitas, nem mesmo um cão latirá contra homem ou animal, para que vocês saibam que o Senhor faz distinção entre o Egito e Israel. E todos estes seus servos descerão a mim e se inclinarão perante mim, dizendo: ‘Sai, tu e todo o povo que te segue!’ Depois disso, eu sairei.”
Moisés então se virou e deixou o palácio, sua figura imponente desaparecendo na escuridão da noite. O Faraó permaneceu sentado, suas mãos apertando os braços do trono, seus pensamentos turbulentos. Ele não queria ceder, mas uma parte dele, pequena e escondida, tremia diante da possibilidade de que as palavras de Moisés fossem verdadeiras.
Enquanto isso, entre os israelitas, uma atividade febril tomava conta dos acampamentos. Moisés havia dado instruções precisas. Cada família deveria escolher um cordeiro macho, sem defeito, de um ano de idade. O animal seria sacrificado ao entardecer, e seu sangue seria passado nas laterais e na viga superior das portas das casas. A carne do cordeiro seria assada e comida com pães sem fermento e ervas amargas. Era uma refeição apressada, pois o tempo era curto, e a noite que se aproximava seria de juízo e libertação.
As famílias se reuniram, seus corações misturando medo e esperança. As crianças, curiosas, perguntavam sobre o significado daqueles rituais, e os pais explicavam que era a Páscoa do Senhor, uma noite em que Ele passaria sobre suas casas e os pouparia do juízo que cairia sobre o Egito. O sangue do cordeiro era um sinal, uma marca de proteção divina.
À medida que a noite avançava, uma quietude estranha desceu sobre o Egito. Nas casas dos israelitas, as famílias estavam reunidas, comendo em silêncio, seus corações voltados para Deus. Nas casas dos egípcios, no entanto, havia uma inquietação, um pressentimento de que algo terrível estava prestes a acontecer.
Então, à meia-noite, o Senhor passou pelo Egito. Um grito angustiado ergueu-se em toda a terra, um lamento que ecoou de casa em casa, de cidade em cidade. Em cada lar egípcio, o primogênito foi atingido, desde o palácio do Faraó até a humilde cabana do camponês. Até os animais não foram poupados. O Egito foi mergulhado em uma dor indescritível, uma dor que nunca seria esquecida.
Mas nas casas dos israelitas, onde o sangue do cordeiro marcava as portas, havia paz. O anjo da morte passou por cima deles, cumprindo a promessa de Deus. Naquela noite, o povo de Israel foi poupado, não por seus próprios méritos, mas pela graça e misericórdia de Deus.
Ao amanhecer, o clamor no Egito era ensurdecedor. O Faraó, finalmente quebrado, chamou Moisés e Arão. “Levantem-se”, ele disse, sua voz trêmula e cheia de desespero. “Saiam do meio do meu povo, vocês e os israelitas! Vão adorar ao Senhor, como vocês pediram. Levem seus rebanhos e seus animais, como disseram, e vão! E orem por mim também.”
E assim, com pressa e alívio, os israelitas começaram a se preparar para partir. Eles não esperaram que o pão levedasse, carregando consigo apenas o essencial. As mulheres pegaram suas tigelas de massa, e os homens guiaram os rebanhos. Era o início de uma jornada que os levaria para longe da escravidão e em direção à promessa de Deus.
Naquela manhã, enquanto o sol nascia sobre um Egito devastado, o povo de Israel começou sua marcha para a liberdade. Eles olharam para trás apenas uma vez, para a terra que havia sido sua prisão por tanto tempo, e então voltaram seus rostos para o futuro, guiados pela mão poderosa de Deus. A noite do juízo havia passado, e o amanhecer da redenção havia chegado.