No quinto ano do reinado do imperador Nero, por volta do ano 58 d.C., a cidade de Cesareia Marítima, localizada na costa do Mediterrâneo, era um importante centro administrativo da província romana da Judeia. Era ali que o governador romano, Pórcio Festo, mantinha sua residência oficial. Foi nesse cenário que o apóstolo Paulo, após ser preso em Jerusalém, foi levado para ser julgado diante das autoridades romanas.
Paulo havia sido acusado pelos líderes judeus de ser um agitador, alguém que causava tumultos entre os judeus em todo o mundo e que profanava o templo. Essas acusações eram graves, pois poderiam levar à sua execução. No entanto, Paulo sabia que sua missão era pregar o evangelho de Jesus Cristo, e ele confiava que Deus estava no controle de todas as coisas.
Cinco dias após sua chegada a Cesareia, o sumo sacerdote Ananias desceu de Jerusalém com alguns dos anciãos e um advogado chamado Tértulo. Eles apresentaram suas acusações contra Paulo diante do governador Festo. Tértulo, com eloquência e astúcia, começou a falar:
— Ilustríssimo Festo, graças à sua prudência e justiça, desfrutamos de um período de paz e prosperidade. Reconhecemos, com profunda gratidão, os benefícios que sua administração trouxe ao nosso povo. No entanto, há um homem, Paulo de Tarso, que tem sido uma praga para nossa nação. Ele espalha desordem entre os judeus em todas as províncias e é um líder da seita dos nazarenos. Além disso, ele tentou profanar o templo sagrado, e por isso o prendemos. Ao interrogá-lo, você mesmo poderá confirmar a veracidade de nossas acusações.
Os judeus que acompanhavam Tértulo concordavam com suas palavras, afirmando que tudo era verdade. Festo, então, fez um gesto para que Paulo se aproximasse e lhe deu a palavra para se defender.
Paulo, com serenidade e firmeza, levantou-se e começou a falar:
— Ilustríssimo Festo, considero um privilégio poder me defender diante de você, pois sei que você é um homem justo e imparcial. Há apenas doze dias que cheguei a Jerusalém para adorar no templo. Durante esse tempo, ninguém me viu discutindo com alguém ou causando agitação entre o povo, nem no templo, nem nas sinagogas, nem na cidade. Eles não podem provar as acusações que estão fazendo contra mim. No entanto, confesso que sirvo ao Deus de nossos pais de acordo com o Caminho, que eles chamam de seita. Creio em tudo o que está de acordo com a Lei e no que está escrito nos Profetas. Tenho a mesma esperança em Deus que esses homens têm, de que haverá uma ressurreição tanto dos justos quanto dos injustos. Por isso, procuro sempre manter uma consciência limpa diante de Deus e dos homens.
Paulo continuou, explicando que havia voltado a Jerusalém para trazer ofertas aos pobres e para apresentar sacrifícios. Foi nesse contexto que alguns judeus da Ásia o encontraram no templo, já purificado, sem multidão e sem tumulto. Ele questionou por que esses acusadores não estavam presentes para testemunhar contra ele, se tinham algo a dizer.
— Que esses próprios homens digam que crime encontraram em mim quando compareci perante o Sinédrio. A única coisa que eu disse foi: “Estou sendo julgado por vocês hoje por causa da esperança na ressurreição dos mortos”.
Festo, ouvindo as palavras de Paulo, percebeu que se tratava de uma disputa religiosa interna entre os judeus e não de uma questão que exigisse intervenção romana. Ele então se voltou para Paulo e perguntou:
— Você está disposto a ir a Jerusalém e ser julgado por mim lá sobre essas acusações?
Paulo, sabendo que em Jerusalém sua vida corria perigo, respondeu com sabedoria:
— Estou agora diante do tribunal de César, onde devo ser julgado. Não fiz nenhum mal aos judeus, como você mesmo sabe muito bem. Se eu sou culpado de algo que mereça a morte, não me recuso a morrer. Mas se as acusações contra mim não são verdadeiras, ninguém tem o direito de me entregar a eles. Apelo para César!
Festo, após consultar seus conselheiros, respondeu:
— Você apelou para César; para César irá.
Assim, Paulo foi mantido sob custódia em Cesareia, aguardando o momento de ser enviado a Roma para ser julgado pelo imperador. Enquanto isso, ele continuou a pregar o evangelho a todos que o visitavam, incluindo os soldados romanos que o guardavam. Sua fé inabalável e sua confiança em Deus eram evidentes, e muitos foram tocados por suas palavras.
A história de Paulo em Cesareia nos ensina sobre a importância de manter a integridade e a fé em meio às adversidades. Ele não se deixou intimidar pelas acusações falsas, mas confiou na justiça de Deus e na verdade do evangelho que pregava. Sua vida é um testemunho poderoso de como Deus pode usar até mesmo as situações mais difíceis para cumprir seus propósitos.