No salmo 137, encontramos um dos textos mais emocionantes e profundos da Bíblia, que retrata a dor do exílio e o amor inabalável por Sião, a cidade de Deus. Vamos mergulhar em uma narrativa detalhada que expande esse salmo, mantendo a fidelidade teológica e trazendo à vida as emoções e o contexto histórico por trás dessas palavras.
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Era uma tarde quente e poeirenta às margens dos rios da Babilônia. O sol dourado descia lentamente sobre o horizonte, tingindo o céu de tons avermelhados, enquanto os exilados de Judá se reuniam em pequenos grupos, suas roupas gastas e rostos marcados pela saudade e pela dor. Eles haviam sido arrancados de sua terra natal, Jerusalém, e levados cativos para um lugar estranho, onde tudo parecia hostil e distante de Deus.
Entre eles estava Ezequias, um levita que outrora cantava no templo de Sião. Seus dedos, acostumados a dedilhar a harpa em louvor ao Senhor, agora repousavam inertes sobre as cordas silenciosas. Ele olhou para os outros exilados, seus irmãos e irmãs, e viu a mesma tristeza refletida em seus olhos. Alguém sugeriu que cantassem um dos cânticos de Sião, mas as palavras pareciam presas em suas gargantas, sufocadas pela angústia.
“Como cantaremos o cântico do Senhor em terra estranha?”, perguntou Ezequias, sua voz carregada de emoção. Ele se levantou e caminhou até a margem do rio, onde as águas corriam lentamente, como se também estivessem em luto. Ali, ele se sentou e chorou, lembrando-se de Jerusalém, a cidade que tanto amava. Sua mente vagou para os dias gloriosos em que o templo estava de pé, e o som dos cânticos e das trombetas ecoava pelas colinas de Sião.
Enquanto Ezequias chorava, alguns dos babilônios que passavam por perto zombaram dele. “Cantem-nos um dos cânticos de Sião!”, disseram, com sorrisos irônicos. Ezequias sentiu uma onda de raiva e tristeza, mas também de determinação. Ele ergueu os olhos para o céu e murmurou: “Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, que minha mão direita se esqueça de sua habilidade. Que a minha língua se cole ao paladar, se não me lembrar de ti, se não preferir Jerusalém à minha maior alegria.”
Os outros exilados, ouvindo suas palavras, se aproximaram. Um a um, eles se sentaram ao longo do rio, suas lágrimas se misturando às águas. Eles lembravam das promessas de Deus, de Sua aliança com o povo de Israel, e clamavam por justiça. “Lembra-te, Senhor, dos filhos de Edom, que no dia de Jerusalém diziam: ‘Arrasai-a, arrasai-a até aos seus alicerces!'”, disse uma mulher idosa, sua voz tremendo de indignação.
Ezequias olhou para ela e concordou. “Ó filha da Babilônia, que hás de ser destruída, feliz aquele que te retribuir consoante nos fizeste a nós. Feliz aquele que pegar teus pequeninos e esmagá-los contra a rocha.” Suas palavras eram duras, mas refletiam a profunda dor e o desejo de justiça que ardia em seus corações. Eles sabiam que Deus era justo e que, no Seu tempo, Ele traria redenção e restauração.
Enquanto a noite caía sobre a Babilônia, os exilados permaneceram juntos, unidos em sua dor e em sua esperança. Eles sabiam que, embora estivessem longe de casa, Deus ainda estava com eles. Ezequias pegou sua harpa e, com mãos trêmulas, começou a tocar uma melodia suave. Um por um, os outros se juntaram a ele, e suas vozes se elevaram em um cântico de lamento e fé. Eles cantaram sobre a glória de Sião, sobre o amor de Deus e sobre a promessa de que um dia Ele os traria de volta à sua terra.
Naquele momento, embora ainda estivessem no exílio, eles sentiram um vislumbre da presença de Deus. Eles sabiam que, não importa o quão longe estivessem de Jerusalém, o Senhor nunca os abandonaria. E assim, à margem dos rios da Babilônia, eles encontraram consolo em sua fé e na certeza de que um dia, pela graça de Deus, voltariam para casa.
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Essa narrativa expande o Salmo 137, trazendo à tona as emoções e o contexto histórico por trás das palavras do salmista. Ela mantém a fidelidade teológica ao retratar a dor do exílio, o amor por Sião e a esperança na justiça e na redenção de Deus.