No coração de uma pequena vila nas montanhas de Judá, vivia um homem chamado Asafe. Ele era um levita, um dos escolhidos para servir no templo do Senhor, e dedicava sua vida a compor cânticos e salmos que glorificavam o nome de Deus. Asafe era conhecido por sua devoção e integridade, mas, como todo ser humano, ele também enfrentava lutas internas e dúvidas que o atormentavam.

Certo dia, enquanto caminhava pelas estreitas ruas de pedra da vila, Asafe observava a vida ao seu redor. Ele via os ímpios prosperando, vivendo em luxo e ostentação. Homens que desprezavam a lei de Deus pareciam gozar de saúde, riqueza e sucesso. Eles zombavam dos justos, vivendo como se não houvesse consequências para suas ações. Asafe sentiu um nó se formar em seu estômago e uma inquietação tomar conta de seu coração.

“Por que, Senhor?”, ele sussurrou, olhando para o céu. “Por que os ímpios prosperam, enquanto eu, que busco seguir os Teus caminhos, enfrento dificuldades e aflições?”

Essa pergunta ecoava em sua mente dia após dia. Ele começou a questionar se valia a pena manter sua integridade. Será que Deus realmente se importava com aqueles que O serviam? Asafe sentia que seus pés estavam prestes a escorregar, que sua fé estava à beira do abismo.

Uma noite, ele decidiu subir até o alto de uma colina próxima, onde costumava orar e meditar. O céu estava estrelado, e o vento suave trazia consigo o cheiro das oliveiras e das videiras que cobriam as encostas. Asafe sentou-se sobre uma rocha e começou a derramar sua alma diante de Deus.

“Senhor, eu não entendo”, ele clamou. “Os ímpios vivem em paz, enriquecem sem esforço e zombam de Ti. Eles dizem: ‘Como pode Deus saber? Existe conhecimento no Altíssimo?’ E, no entanto, eles continuam prosperando, enquanto eu, que busco Te agradar, enfrento lutas e dores. Isso não é justo!”

Enquanto Asafe desabafava, uma sensação de alívio começou a tomar conta de seu coração. Ele sabia que Deus ouvia suas orações, mesmo quando suas palavras eram cheias de dúvidas e questionamentos. E, naquele momento de vulnerabilidade, ele sentiu a presença do Senhor se aproximando.

De repente, uma visão se abriu diante de seus olhos. Ele viu os ímpios em toda a sua glória passageira, mas, em um instante, tudo mudou. Ele percebeu que a prosperidade deles era como um castelo de areia, construído sobre uma fundação frágil. O que parecia sólido e duradouro era, na verdade, passageiro e ilusório. Asafe viu que, no fim, os ímpios seriam levados como sonhos ao despertar, dissipados como fumaça ao vento.

Ele entendeu que a aparente prosperidade dos ímpios era apenas uma ilusão, uma armadilha que os mantinha distantes de Deus. Eles estavam construindo suas vidas sobre a areia, e, quando a tempestade chegasse, tudo desmoronaria. Asafe percebeu que a verdadeira riqueza não estava nas posses materiais, mas na presença de Deus.

“Quem mais tenho eu no céu senão a Ti?”, ele murmurou, sentindo uma paz profunda inundar seu coração. “E na terra, nada mais desejo além de estar contigo. Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre.”

Asafe compreendeu que, embora os ímpios parecessem ter tudo, eles estavam vazios por dentro, distantes da verdadeira fonte de vida. Ele, por outro lado, tinha algo que ninguém poderia tirar: a presença de Deus em sua vida. Ele era guiado pelo conselho do Senhor e, no fim, seria recebido na glória.

Ao descer da colina, Asafe sentia-se renovado. Ele sabia que sua jornada não seria fácil, mas também sabia que Deus estava com ele a cada passo do caminho. Ele decidiu compor um salmo, um cântico que expressasse sua experiência e servisse de encorajamento para outros que pudessem estar enfrentando as mesmas dúvidas.

“Certamente Deus é bom para Israel, para os puros de coração”, ele começou a cantar. “Quanto a mim, os meus pés quase tropeçaram; pouco faltou para que os meus passos escorregassem. Pois eu invejava os arrogantes, quando via a prosperidade dos ímpios…”

E assim, Asafe continuou a compor, descrevendo sua luta interna, sua revelação e sua decisão de confiar em Deus, não importando as circunstâncias. Ele terminou o salmo com uma declaração de fé: “Mas, para mim, bom é estar perto de Deus; fiz do Soberano Senhor o meu refúgio; proclamarei todos os Teus feitos.”

Anos depois, o salmo de Asafe era cantado no templo, inspirando gerações a confiar em Deus, mesmo quando o mundo ao seu redor parecia injusto. E Asafe, agora idoso, olhava para trás e via como Deus havia sido fiel em cada etapa de sua jornada. Ele sabia que, no fim, a verdadeira prosperidade não estava nas riquezas ou no sucesso, mas em estar perto do coração de Deus.